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segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Mudaram as perguntas


‘Agora que sabia as respostas, mudaram as perguntas’. Esta frase parece ser atribuída a uma das principais figuras de uma série de banda desenhada com largos anos de existência e de razoável sucesso entre as crianças e onde essa tal figura contesta a ‘repentina’ mudança, que lhe baralhou as ideias e, sobretudo, as respostas.
Ora, esta visão continua a manter-se atualizada, pois muita gente arquitetou respostas para perguntas do passado e esqueceu-se de que novas questões são colocadas e as ditas respostas já não colhem nem têm aceitação… Pior ainda é quando queremos responder a questionamentos que não nos foram feitos, manipulando as respostas…e talvez invetivando os perguntadores, que, manifestamente, mudaram. 
= Há tantas associações/coletividades, que foram pioneiras na hora do dealbar, mas que se encontram quase decrépitas na atualidade. Muitas vezes fixaram-se em causas que rapidamente mudaram e os objetivos se foram tornando subjetivos à mistura mais com os adjetivos do que com os substantivos. Noutras situações foram os intérpretes que não conseguiram aferir-se à mudança, anquilosando-se nas suas certezas e deixando de corresponder às necessidades para que foram criadas. Quantas vezes foi possível constatar a mesquinhez de certos dirigentes mais interessados em promoverem-se através dessas instituições do que em continuarem o espírito original… 
= Vamos encontrando, entretanto, outras instituições que, devido ao seu peso e longa história, vão sobrevivendo à luz de uma certa memória preservada e atualizada através de gestos, palavras e sinais. Por vezes há setores – dentro e fora – que colocam a Igreja católica entre a lista de instituições que apresentam respostas a questões não ditas ou que querem continuar a responder com uma linguagem que nem todos compreendem. Talvez isto não aconteça em toda a extensão da Igreja católica, mas haverá locais e regiões onde isso pode ocorrer, embora seja notório o esforço por adequar as respostas às perguntas e por não usar de subterfúgios para não se pronunciar. 
= Vivemos num tempo que tem as suas especificidades, onde a velocidade requerida para a resposta não se compadece com a elaboração das perguntas, pois muitas destas andam mais ao sabor das emoções do que da componente intelectual. A argumentação não parece ser mais dedutiva, mas quase emerge da vivência indutiva, colocando pressão em apresentar soluções, quando estas precisariam de ser mais elaboradas, se quiserem ser consistentes e até mesmo satisfatórias.
Por outro lado, a quase emergência do ‘sempre-contatável’ faz com que se viva nessa permanente franja da superficialidade, pois os acontecimentos sobrepõem-se uns aos outros, destronando o que antes parecia ser importante para ser suplantado por outro mais recente, podendo nem ser o mais essencial. Quantas vezes vemos a sofreguidão de perguntas a alguém que tem de saber dosear a sustentabilidade das respostas, de modo a que não se contradiga mesmo sem disso se dar conta.
Se a isto acrescentarmos a inexorável ditadura da imagem, então poderemos estar a cozinhar um cocktail de emoções, onde as respostas parecem mais perguntas e estas pequenas teias – nalguns casos poderão ser peias – de uma comunicação líquida e assaz incongruente. 
= A noção de tudo está certo e correto, desde quem pergunta até quem responde, sabendo o que perguntar e aquilo que se deve responder, está continuamente em causa neste tempo de comunicação rápida, estereotipada e, nalguns casos, manifestamente inconsequente. Saber quais são as perguntas que nos são feitas e dar-lhes as respostas mais adequadas é uma tarefa de contínua aprendizagem e humilde colaboração. Precisamos de pessoas bem formadas na arte de estar com os outros para que não caiámos num certo desânimo que só nos trará mais constrangimentos e dificuldades em saber discernir os mistérios de Deus na história (atual) dos humanos. De nada adianta entrarmos numa fase de malquerença, pois, se não soubermos interpretar o tempo que vivemos, não seremos dignos das oportunidades que nos são concedidas!         

António Sílvio Couto

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