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segunda-feira, 22 de julho de 2019

Prometer o que não se fez…antes


Daquilo que se vai começando a saber das promessas eleitorais dos vários concorrentes começa a notar-se uma linha mais ou menos percetível e constante: promete-se para a peleja eleitoral aquilo que anteriormente foi insucesso de execução…

Áreas como a saúde ou os impostos, mas também questões de justiça ou de educação surgem entre as inúmeras promessas de futuro, mas que não passavam de incumprimentos no passado recente.

Tudo seria mais leal e sincero, se todos os intervenientes prometedores assumissem que aquilo que agora trazem à liça para poder fazer fosse rastreado com dados mais objetivos e sem subterfúgios ideológicos de conveniência. Com efeito, a polarização da nossa vida coletiva tem vindo a dividir-nos mais do que a esclarecer-nos: num passado não muito recuado as posições de alguns fatores de esquerda eram capazes de ajudar a ver de forma desigual; nos últimos quatro anos, conforme o posicionamento partidário, assim se foram alinhando as posições mais do que as ideias… 

= No caleidoscópio da política à portuguesa vamos vendo situações de partidos que tiveram sorte diferente noutras paragens europeias: alguns simplesmente desapareceram, outros titubeantemente vão sobrevivendo e outros surgiram como fenómenos novos, reveladores de outras leituras sociopolíticas.

Aos problemas diferentes não se pode continuar a responder com propostas antiquadas. Questões como a biodiversidade ou a sobrevivência ecológica do Planeta precisam de novos enquadramentos, de respostas ousadas e de soluções adequadas. Novas situações de âmbito laboral não podem estar submetidas a um sindicalismo do século dezanove.

– Será que a velha e ultrapassada leitura dialético-marxista consegue inventar outras formas de luta, que não as fraturantes de capital e de operariado? Como poderá o trotskismo rever a sua ditadura de proletariado se já não há prole (sem filhos) e o egoísmo das pessoas não se regula pela mentalidade de coletivo anónimo, piramidal e ditatorial? Como serão as garras socialistas capazes de fazer o ‘estado-patrão’ uma sociedade onde conte também a iniciativa privada, não como contrapoder, mas enquanto capacidade complementar das perspetivas estatais?

– Como será conjugada a força do dinheiro com a dinâmica do serviço? Como poderá sobreviver o ‘estado-social’ sem o contributo dos impostos diretos ou indiretos, mesmo que camuflados de taxas, cativações ou reversões de conquistas, regalias e direitos adquiridos? Será necessário tanto tempo de trabalho para conseguir o mesmo resultado? E do resto que já não é usado, haverá um novo emprego ou alguma aposta na valorização da ‘força de trabalho’, entretanto, dispensada?

– Até onde irá a ousadia no campo laboral, sabendo que muitas das tarefas de ocupação do tempo serão escusadas ou até mesmo inúteis para que todos tenham ocupação, poder-se-á, então, apostar em ações em favor da natureza, de forma solidária, gratuita e mais altruísta? A valorização dos fatores ambientais não poderão ser as novas formas de voluntariado, educado desde a mais tenra idade? Questões de punição em matéria de defesa, de conservação e de promoção em favor da natureza não poderão abranger, pelo contrário, ações de educação cívica, associativa, municipal e de vizinhança?  

= Nunca como agora precisamos de fazer confluir as ideias, as intenções e pretensões de tantos e de todos sobre os enganos, as falcatruas e os erros de tão poucos. De facto, não podemos continuar reféns de dirigentes sem qualidade, de decisores suspeitos ou de executores corruptos. O prolongamento de certos atores revela a má qualidade da peça em representação. O palco exige que mudemos de guião e que nos possamos alegrar por sermos dirigidos por responsáveis que servem e não se servem, que estão a pensar nos outros e não a enganá-los, que colocam o melhor que são ao serviço de todos e não só aos da sua coloração… ideologia ou sensibilidade mais ou menos secreta.

Porque acredito que ainda temos futuro e que podemos continuar a ser um país-nação digno dos seus antepassados, considero que não será digno de merecer o meu voto quem tenta prometer aquilo que já devia ter feito antes porque o prometeu, mas falhou. Promessas leva-as o vento. As obras falam por si…sempre!  

 

António Sílvio Couto

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