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quinta-feira, 2 de maio de 2019

Meandros dum rótulo maldito


Tem vindo a crescer, duma forma concertada e um tanto silenciosa, mas suficientemente crescente para que não se veja, a designação de ‘extrema-direita’, aplicada ao mundo das ideias (políticas ou culturais), aduzindo-lhe ainda o epíteto de ‘populismo’ e um sem-número de adjetivos qualificativos na forma exagerada.

Mas o que é que pode caraterizar alguém para ser considerado de ‘extrema-direita’? Haverá uma definição/descritiva ou antes uma discrição definitória? Depois da falência dos regimes comunistas – com a queda do ‘muro de Berlim’, em 1989 – houve tempo para uma redefinição dos termos ou antes foram colocados outros por contraste e de forma acrítica? Não será que a apelidada ‘extrema-direita’ se pode compreender melhor se atendemos aos ‘ideais’ da considerada ‘extrema-esquerda’? Não será que, na maior parte dos casos, os extremos se tocam pelo contraste e fazem-se explicar pelo inverso das posições? Quando alguém se arroga contra a ‘extrema-direita’ não estará, porventura, a encobrir outros fatores que motivam ser de ‘extrema-esquerda’? Não haverá demasiada conciliação em apelidar de ‘extrema-direita’ quem não se assume em ser de ‘extrema-esquerda’? As pretensas armas de um lado e do outro não são demasiado iguais para que se possa usar algo de arremesso contra quem não faz parte da ‘nomenclatura’ social reinante? 

= Ora, ao consultarmos a wikipédia sobre o assunto podemos encontrar as linhas-gerais disso a que apelidam de ‘extrema-direita’: «A extrema-direita (também conhecida como ultra-direita ou direita radical) refere-se, dentro do conceito da existência de uma esquerda e direita, no espectro ideológico. A política de extrema direita envolve frequentemente um foco na tradição, real ou imaginada, em oposição às políticas e costumes que são considerados como reflexo do modernismo. Muitas ideologias de extrema-direita têm desprezo ou um desdém pelo igualitarismo, mesmo que nem sempre expressem apoio explícito à hierarquia social, elementos de conservadorismo social e oposição à maioria das formas de liberalismo e socialismo. Alguns grupos apoiam uma forte ou completa estratificação social e a supremacia de certos indivíduos ou grupos considerados naturalmente superiores». 

= Tentemos descortinar linhas-mestras sobre a possível ‘extrema-direita’: aceitação, difusão e vivência na linha da ideologia de género; defesa de uma sobreposição das iniciativas estatais aos princípios de iniciativa privada, tanto na economia, como na educação, na saúde e mesmo na visão cultural; colagem de comportamentos morais (vistos como moralizantes com sabor a religião) para com certos critérios éticos, sobretudo se a pessoa for valendo cada vez menos…na linha da produção; exaltação de tudo e o resto que possa parecer ecologista com a marca do holismo da ‘nova era’; escarafunchar (agora, antes e depois) aquilo que possa tornar mais vulnerável quem se oponha aos intentos de salvaguarda de conceitos e de vivências como país, nação ou cultura com valores que possam ainda cheirar a cristão…

Dá a impressão de que, quem falar de temas como a família (no sentido judaico-cristão), a pátria, a concórdia entre pessoas e povos ou possa ter uma opinião que destoe da maioria em regime de pensamento ‘progressista’, é candidato a ser rotulado de ‘extrema-direita’ ou apelidado de populista, com as consequências que advêm de estar sob a mira de certos polícias sociais de ‘moralidade’ a seu gosto… 

= De entre os difusores da mentalidade, que se apregoa de superior para submeter os demais pelo silêncio, o medo ou o constrangimento social, encontramos a comunicação social, que bem e depressa rotula uns tantos de ‘extrema-direita’, se não se enquadrarem na grelha com que veem, leem ou julgam a ‘sua’ sociedade’. Nalguns casos bastará que falhe um dos parâmetros com que apreciam os acontecimentos para fazerem dum simples episódio uma espécie de ‘facto’ de ‘extrema-direita’… Não isso que foi feito no Brasil, nas recentes eleições presidenciais? Não foi também essa a técnica para classificar algumas forças em Espanha? Não é esse o trejeito subtil, capcioso e incisivo com que agrupam os candidatos ao Parlamento Europeu?

O que me confunde é que se tentem limpar façanhas de certa ‘extrema-esquerda’ – na Europa e fora dela – em exercício ou no passado. Não há direito a ser faccioso nem a impor uma verdade tão mentirosa…

 

António Sílvio Couto

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