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terça-feira, 5 de março de 2019

Rideo te ou rideo tibi? (rio-me de ti ou rio-me para ti)


São daquelas expressões que nos ficam após esquecermos tudo – chamam a isto ‘cultura’, o que fica depois de se esquecer tudo! – as que fazem título desta despretensiosa reflexão.

‘Rideo te’ – rio-me de ti; ‘rideo tibi’ – rio-me para ti…fazendo a diferença entre um riso jocoso ou sarcástico e um outro conotado com alguma simpatia e/ou boa disposição.

De facto, o contexto de carnaval pode configurar uma das duas interpretações: rio-me daquilo que fazes de ridículo e com isso te ridicularizo ou exprimo a minha concordância, aceitando as coisas que me fazem rir contigo.

Muito daquilo que vemos, vivemos e sentimos na maré do carnaval pode entrar no anedótico nacional ou pode, quando menos bem entendido, gerar anedotas que, sendo pessoas, se podem tornar algo do agravado…sobretudo se se entrar na (pretensa) máquina daquilo que faz a onda da maledicência e até da malquerença. 

= Diz a voz do povo e com razão: mais vale cair em graça do que querer ser engraçado. Este tem uma duração mínima, enquanto aquele pode flutuar por sobre tropelias e possíveis menos boas intenções, entendimentos e prestações.

Ora, na cotação dos assuntos ditos de âmbito social, podemos encontrar quem pode dizer tudo e o resto quase ofensivo, que lhe acham graça, os aplaudem e como que fazem moda, enquanto a outros pouco mais bastará do um suspiro desajeitado, uma intervenção infeliz ou mesmo inoportuna para lhe caírem em cima todos e os demais, condenando, vituperando e ofendendo sem apelo nem agravo.

É isto que tem vindo a acontecer na nossa configuração sociopolítica, onde há governantes que se prestam para programas de ridículo, de jocoso e de entretenimento barato e não caem em ridicularização; onde uns tais se prestam para selfies e afins e são tidos como populares, embora teçam meças ao mais rasca populismo; onde outros mais se vão travestindo de figuras à medida daquilo que a populaça admira e por aí medem as sondagens que julgam ter; onde (várias, dispersas e, quando se percebe, conjugadas) forças subterrâneas da ideologia de género combatem e manipulam sem apelo nem vergonha factos, situações e suposições, enquanto os consumidores de notícias não conseguem distinguir entre a verdade e a mentira, servindo mais esta e atropelando aquela…  

= Contrariamente ao que se diz: ‘no carnaval ninguém leva a mal’, considero que há questões – na sua maioria do âmbito do bom senso e da mera civilidade – que não podem entrar nesta espécie de forrobodó com que são tratados alguns problemas, desde os mais simples até aos mais significativos da nossa conduta social e cultural…coletivas. Num tempo ávido de escândalos e de casos de fora-da-normalidade, será de todo inexplicável que haja governantes a aproveitarem-se do lugar que ocupam para querem amedrontar quem deles discorda, abusando das informações privilegiadas que possuem e da ascendência sobre dados não-disponíveis para outros. Agora que já estamos em campanhas para votações torna-se desonesto e antidemocrático tudo isso com que certos tiques de sarcasmo percorrem vários comportamentos…

Pior de que tudo isto esteja a acontecer é a conivência com que certa comunicação social cala os abusos e vai camuflando as tentativas de compra dos seus silêncios, no mínimo, cúmplices.

Dá ainda a impressão que, em determinadas situações, os intervenientes já perderam a compostura que se exige a quem está na vida pública, criando-se a sensação de que a desvergonha passou a ser outro passo da conduta em maré de se estar por cima, tanto pela governança como pela deseducação.

Com razoável desmedida se vê alguma falta de aceitação das opiniões alheias, gerando-se sem grande pejo um ambiente de quase delito de opinião, desde que ela seja contrária à da maioria reinante ou à da ideologia de serviço. Quem conhecer a História saberá que foi deste modo que foram germinando as ditaduras, nunca às claras, mas servindo-se do politicamente aceitável… Afinal, merecemos muito melhor!    

 

António Sílvio Couto

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