Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 25 de março de 2019

Libertação pelo perdão…recebido e dado


O perdão é umas das caraterísticas mais destacáveis, de entre as vivências mais peculiares do cristianismo. Perdão recebido de Deus, perdão dado a si mesmo, perdão dado aos outros, perdão (até mesmo) a Deus.
De facto, é uma graça de enorme significado, cada um de nós, poder dizer: pequei. Isto só é possível, exatamente, por graça divina, pois, na nossa condição, meramente, humana, seremos tentados a encontrar desculpas para os nossos erros, mais ou menos significativos e com especial expressão para cada um de nós se sentir na vertente de não-assumir a sua fragilidade nem fragilização, que, afinal, o pecado manifesta, faz assumir e leva a reconhecer. Quanta coisa há e que ganha nova leitura, quando temos a graça de perceber que isso foi e/ou é infidelidade para com Deus.
Partindo das palavras do ‘ato de contrição’, através do qual exprimimos o arrependimento por ocasião da celebração do sacramento da penitência, vamos tentar aprofundar aquilo que dizemos de forma orante:

*‘Meu Deus, pesa-me de todo o coração’
O pecado faz-nos pesados, pondo-nos, por vezes, um ar sombrio e triste, não só de arrependimento mas por tristeza em termos ofendido Deus. Isso mesmo exprimimos, após nos confessarmos, ao dizermos a Deus que nos pesa, contrista, cria em nós a vontade de diz a Deus quanto nos entristece e faz arrepender por tê-lo ofendido com o nosso pecado. É de coração contrito e humilhado – como diz o salmo – que nos aproximamos de Deus e de junto dele partimos ainda mais arrependidos de O termos ofendido, Ele que tanto nos ama e de nós, de tantas formas, recebe ingratidão e ofensas.

* ‘e arrependo-me do mal que pratiquei e do bem que deixei de fazer’
Duas facetas muito concretas de arrependimento: o mal feito e o bem não-praticado. Por vezes, podemos correr o risco de só olhar para o mal feito e esquecermos as faltas/pecados de omissão, isto é, devia fazer e não fiz e isso como que inviabilizou a força da graça divina.

* ‘porque, pelos meus pecados, Vos ofendi a Vós, que sois sumo bem, digno de ser amado sobre todas as coisas’
O sumo bem foi ofendido e não-amado, desde as coisas mais pequenas e simples até às mais complexas e significativas. De quantos modos podemos não-amar a Deus, não O colocando acima de tudo e de todos. Esta vertente de ofensa a Deus precisa de ser cuidada muito mais do que fazemos, pois, ainda vivemos na mistura de Deus com outros pequenos deuses, de que eu sou o mais perigoso…

* ‘Proponho firmemente, com o auxílio da vossa graça, fazer penitência’
Para além da penitência, que me é dada pelo confessor para satisfazer as ofensas a Deus, reconheço, em oração, que quero procurar fazer penitência, descobrindo, por graça divina, como isso há de acontecer na fidelidade a Deus nas pequenas coisas do dia-a-dia. Quero fazê-lo e vivê-lo ‘firmemente’, isto é, sem hesitar nem duvidar das inspirações divinas para viver em atitude de penitência, dominando em mim as seduções do mal.

* ‘não mais tornar a pecar e fugir das ocasiões do pecado’
É ousado este propósito: nunca mais pecar. Não menos importante é o compromisso em fugir das ocasiões do pecado. Com efeito, estas são muito subtis e o mal sabe como me pode tentar e fazer cair. Estamos na linha da sexta e da sétima das petições do Pai-nosso: não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Fugir das ocasiões do pecado passa pelos lugares, situações, pessoas… exigindo um conhecimento de nós mesmos e daquilo que nos pode fazer pecar mais.

* ‘Senhor, pelos merecimentos da paixão do nosso Salvador Jesus Cristo, tende compaixão de mim’
Invoco sobre este momento de celebração do sacramento da penitência e reconciliação todos os méritos da paixão de Jesus e que quero, que pelo seu sangue derramado, possa aceitar, viver e proclamar a força da paixão-morte-ressurreição de Jesus, hoje, em mim e para mim.

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário