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segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Que presépio para os nossos dias?


Para muitos dos cristãos, sobretudo introduzidos na vivência da fé desde crianças, a palavra ‘presépio’ poderá ser natural ao falarmos destas questões em tempo de Natal. Mas que significa ‘presépio’? Quem introduziu esta tradição na cultura religiosa cristã? Não será chocante para a nossa mentalidade aveludada a linguagem e figuração do presépio?
Etimologicamente ‘presépio’ quer dizer estábulo, estrebaria…onde estão os animais.
Embora esteja presente a sua discrição nos evangelhos (Lc 2,1-20) , só no século XIII (1223), São Francisco de Assis quis levar à letra aquelas palavras da Sagrada Escritura e reproduziu no espaço da sua cidade uma figuração com as principais personagens. São Francisco quis recriar, dentro da linha de espiritualidade da sua ordem, a significação para quem não entendia ou estava fora da lógica do evangelho...
Enquadrado num estábulo vejamos quem são as principais figuras do presépio:
* Menino Jesus - O filho de Deus, o Salvador,
* Maria - A mãe de Jesus,
* São José - Esposo de Maria e pai adotivo de Jesus,
* Animais (vaca, burro, ovelhas) - os animais aqueceram o menino que tinha nascido num estábulo,
* Anjo é o mensageiro de Deus. Foi ele quem anunciou o nascimento de Jesus aos pastores que tomavam conta dos seus rebanhos,
* Magos - Os três convencionados magos eram sábios que foram guiados por uma estrela e levaram ouro, incenso e mirra ao Menino Jesus.
= Por vezes encontramos pessoas, com maior ou menor cultura (humana e cristã), que se entretêm a fazer coleção de presépios. Será isto apropriado à mensagem evangélica da rudeza do presépio? Sabendo que em muitos dos ‘presépios’ comercializados se pode estar fora da linguagem e da pobreza real do dito sinal, não será um insulto que haja quem gasta dinheiro sem conta para manter essa espécie de bizantinice? Não andaremos a subverter o espírito do Natal/presépio com algumas fantochadas travestidas de religião… nitidamente não cristã? Ainda teremos coragem para fazer do Natal um acontecimento sem presépio e à margem da sua originalidade? 

= Estas e outras perguntas se nos podem colocar, até para nos confrontarmos com tantas subtilezas que obstaculizam a vivência do espírito do presépio, que é muito mais do que a mentalidade natalícia. Esta está hoje intoxicada de muito consumismo, mesmo que, nos intervalos, se vá dando a entender que se pensa – ao menos nesta época – nos mais desfavorecidos, marginalizados e empobrecidos…

Certamente as nossas celebrações religiosas de âmbito cristão/católico precisam de ser questionadas e renovadas, de serem revistas e não tradicionalizadas, de estarem numa continua descoberta da forma como devemos ser cristãos, neste tempo de linguagem e de comportamento light, onde a frieza do presépio é provocante e provocadora da nossa mentalidade de veludo a propósito de quase tudo e, neste caso, da rudeza do presépio. 

= Esperamos que as mais díspares transferências da linguagem do presépio do templo para a rua possam incomodar quem se comporta como ateu prático, mesmo sem a dialética materialista mais básica. Enquanto é tempo façamos do presépio o melhor evento do Natal, pois neste é Jesus quem nos interpela, pelo silêncio e pela forma de estar a nu…Que possa haver – em cada pessoa, nas famílias, na Igreja e na soceidade – advento rumo ao presépio de Jesus, hoje e sempre. 

 

António Sílvio Couto

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