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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Dos vícios da política … às ‘bem-aventuranças do político’


‘A par das virtudes, não faltam infelizmente os vícios, mesmo na política, devidos quer à inépcia pessoal quer às distorções no meio ambiente e nas instituições’ - diz o Papa Francisco na sua mensagem para o 52.º dia mundial da paz.
Tendo como tema: «a boa política ao serviço da paz», o sumo Pontífice traça alguns dos vícios da política, segundo o qual, ‘tiram credibilidade aos sistemas dentro dos quais ela se realiza, bem como à autoridade, às decisões e à ação das pessoas que se lhe dedicam’, na medida em que ‘enfraquecem o ideal duma vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social’
Eis os doze vícios elencados pelo Papa: ‘a corrupção – nas suas múltiplas formas de apropriação indevida dos bens públicos ou de instrumentalização das pessoas –, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a justificação do poder pela força ou com o pretexto arbitrário da «razão de Estado», a tendência a perpetuar-se no poder, a xenofobia e o racismo, a recusa a cuidar da Terra, a exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato, o desprezo daqueles que foram forçados ao exílio’.
Citando o cardeal vietnamita Van Thuan, falecido em 2002, o Papa Francisco apresenta, por seu turno, aquilo que designa pelas bem-aventuranças do político:
Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.
Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade.
Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.
Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente.
Bem-aventurado o político que realiza a unidade.
Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical.
Bem-aventurado o político que sabe escutar.
Bem-aventurado o político que não tem medo
’.


= Confronto salutar... pela paz a vários níveis interligados

Num tempo em que, tanto pelos exemplos como pelas deformações exploradas, vemos colocar em causa quem está na vida política, precisamos de ter em conta que quem exerce a função política é fruto do seu tempo, do lugar onde está e mesmo das raízes mais fundadas dos seus valores, critérios, propostas e fatores mesmo ideológicos.
Atendendo a que o Papa Francisco insere estas observações no contexto da sua mensagem para o ‘dia munidal da paz’ de 2019, precisamos de saber ler e interpretar as suas referências não só para com os políticos profissionais, mas também para com todos os outros cidadãos, que escolhem, validam, criticam ou ignoram quem os governa...mal ou bem.
Dado que é da paz que estamos a falar, o Papa considera que ‘a paz é fruto dum grande projeto político, que se baseia na responsabilidade mútua e na interdependência dos seres humanos. Mas é também um desafio que requer ser abraçado dia após dia. A paz é uma conversão do coração e da alma’ ... consigo mesmo, oferecendo um pouco de doçura a si mesmo e aos demais, com o outro, seja ele quem for (familiar, amigo, estrangeiro, pobre, atribulado) e com a criação, como dom de Deus.

Será que a nossa política consegue estes objetivos para a paz? A nossa participação na política constrói a paz? Os politicos, que temos, não exercem mais os vícios do que as bem-aventuranças, aqui enunciadas? Cristãmente teremos sido fomentadores de bons politicos ou limitamo-nos a criticá-los sem lhes darmos ajuda e suporte na fé? 
Não podemos exigir aos outros – políticos em particular – aquilo que não somos capazes de fazer! Em razão da nossa fé cristã temos de ajudar a surgir uma nova geração de políticos que se guiem mais pela Bíblia (sem fundamentalismos) do que pelo ‘Capital’ (odiento)…

 

António Sílvio Couto


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