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sexta-feira, 9 de novembro de 2018

‘S. Martinho’: qual o significado do magusto?


Há quem chame ao ‘São Martinho’ – enquanto festa com incidência popular – o ‘carnaval de inverno’. Haverá alguma razão para esta designação? Talvez. Com efeito, por ocasião do ‘São Martinho’ – tendo como data de referência 11 de novembro – há sinais de festa e de convivialidade – pública, social e eclesial – que quase fazem lembrar alguns dos excessos do carnaval, como momento de folia em razão da penitência da quaresma, que advirá.

Assim, em tempos de maior fervor cristão, se fazia com que, mais ou menos quarenta dias antes do Natal, houvesse alguns excessos de festa para depois se entrar no rigor de preparação do Natal…agora reduzido ao tempo escasso de breves quatro semanas (nalguns anos só domingos) de Advento…Deste modo o magusto reverte-se dum alívio na penitência, que se há de viver com a preparação penitencial para o Natal…De facto, os doces e sinais festivos da época natalícia são (ou deviam ser) mais do que tradições e rituais… sociais e cultuais…mais ou menos esclarecidos.

 Contexto da ‘lenda de São Martinho’

 Decorreria o ano de 337, num outono duro e frio que assolava a Europa. Reza a lenda que um cavaleiro gaulês, chamado Martinho, tentava regressar a casa quando encontrou a meio do caminho, durante uma tempestade, um mendigo que lhe pediu uma esmola. O cavaleiro, que não tinha mais nada consigo, retirou o manto/capa de militar que o aquecia, cortou-o ao meio com a espada, e deu-o ao mendigo. Nessa mesma noite apareceu-lhe Jesus, agradecendo o gesto de caridade para com mendigo, dizendo que o mendigo era Ele, Jesus.
O cavaleiro da história era um militar do exército romano que abandonou a guerra para se tornar num monge católico, tendo sido escolhido para bispo
São Martinho foi um dos principais religiosos a espalhar a fé cristã na Gália (a atual França) e tornou-se num dos santos mais populares da Europa! Diz-se que é o protetor dos alfaiates, dos soldados e cavaleiros, dos pedintes e dos produtores de vinho!
Foi a 11 de novembro que São Martinho foi sepultado na cidade francesa de Tours, onde foi bispo. Além de Portugal, também outros países festejam este dia. Na França e na Itália, à semelhança de Portugal, comem-se castanhas assadas. Já em Espanha, faz-se a matança de um porco, e na Alemanha acendem-se fogueiras e organizam-se procissões. 

Ora atendendo à conjugação entre o lendário e os desafios que este santo nos coloca, poderemos encontrar, hoje, o modo mais simples e cristão de celebrar em festa os dons de Deus para podermos viver a preparação para o Natal, que acontece daqui a quarenta e quatro dias… tanto como o tempo de proposta de vivência da quaresma, rumo à Páscoa.

Não será necessário esclarecer um tanto melhor os ‘rituais’ de festa que vivemos, por tradição em tantos dos momentos do ano civil? Não valeria a pena investir nesta explicação das simbologias em vez de continuarmos a fazer como se soubéssemos as razões das coisas? Afinal, nesta Europa descristianizada, mas ávida de oportunidades de consumismo, não haverá um fundo bem mais cristão do que aquele que temos, que vivemos ou que difundimos? Como dizia Jesus: ‘se o sal perder o sabor com que havemos de salgar?’

 

António Sílvio Couto

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