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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Culpa…divorciada


Meia-volta é costume ouvir-se a expressão: a culpa não pode morrer solteira. Que alcance tem esta frase? Quer dizer algo de positivo ou revela alguma desconfiança e, por isso, de negativo? Será que a culpa não é mais solteira do que assumida? Quem deixa a culpa solteira, será por vergonha, inépcia ou cobardia?

O contrário de deixar a culpa solteira é – subentende-se – assumir as suas culpas, sejam elas visíveis e atuais, sejam remotas, presumidas ou reais. Com efeito, muitas pessoas vão tentando aligeirar as suas responsabilidades não assumindo as suas culpas nem colhendo os frutos daquilo em que se meteram e que depois não correu como era desejável.

Mas pior do que a ‘culpa solteira’ ou a ‘culpa casada’ (isto é, assumida) é a ‘culpa divorciada’, pois esta vai tentando adiar o que é claro para muitos, mas só os próprios é que não o veem nem o reconhecem… Vejamos, então, alguns casos de ‘culpa divorciada’ ou seja quando as desculpas são mais agravantes do que a assunção dos erros.

* Quando o governo canta vitória nos incêndios mais recentes, só porque não morreu ninguém – bem bastará o peso da culpa nas mortes do ano passado e foram mais de cem – mas que deixou um rasto de destruição devido a incúria, má organização e deficiente combate às chamas…com bastantes casas queimadas e vidas destroçadas… Esta culpa ainda não foi assumida por quem de direito e até se fez (já) campanha eleitoral com palavras de mau gosto e deficiente enquadramento…  

* Quando uns tantos ‘democratas’ de trazer por casa exigem que convidados para a web summit sejam excluídos pela simples razão de que não são da sua coloração e nem perfilam a sua ideologia, ficamos a saber que a culpa dos outros é a de não pensarem como eles, embora certas ideias sejam menos bem respeitáveis… Ora nunca vimos que os agora protestantes tenham alguma vez assumidos os seus erros e crimes…noutros países antes e atualmente, se bem que à sombra dos seus ideais internacionalistas… A culpa está, nitidamente, divorciada da vida de tantos/as democratas disfarçados/as de ditadores de partido único!

* Quando vimos as reações de certas ‘juventudes’ partidárias sob a possibilidade da reintrodução do serviço militar obrigatório, logo sentimos que há por aí muita gente que não quer reconhecer a falta de um plano de educação dos mais novos, preferindo-os de rédea solta e sem restrições às suas voragens de sucesso económico… Falta a alguns dos políticos recentes a ‘escola da tropa’, onde se adquiria disciplina, companheirismo, espírito de sacrifício, abnegação e amor à pátria… Também neste aspeto alguns dos dirigentes têm de assumir as suas culpas, não para haja guerra, mas para que tenhamos uma juventude com valores…muito além da preguiça, da subsidiodependência ou confusão moral…

* Perante certas notícias e investigações – mais no estrangeiro do que por cá – sobre atos imorais dalguns eclesiásticos, vemos crescer a vergonha de que não se tenha cuidado de fazer uma triagem mais séria e exigente de muitos dos que aspiravam ao sacerdócio ministerial. Por parte do Papa – já desde Bento XVI e agora com mais energia Francisco – temos visto serem traçadas orientações muitos implacáveis para com os prevaricadores. Não poderemos baixar, minimamente, a guarda só porque decresceu a procura, mas teremos de assumir as culpas, os erros e os maus discernimentos mesmo nos tempos mais recentes…Os nossos irmãos na fé merecem e precisam de quem os sirva com o máximo de pureza e de oblação, reconhecendo cada qual os seus pecados, deles pedindo perdão a Deus e à Igreja.

* Quando já se jogam os campeonatos do futebol, temos de ter a coragem de exigir dos vários intervenientes as culpas dos insucessos, mesmo que camuflados de críticas a quem os possa colocar em cheque, isto é, sob fogo de não-pacto com conluios e manipulações. Está na hora de que os que jogam a falar sejam culpados do ambiente de guerrilha em que colocam quem joga, quem dirige ou quem arbitra… Seria muito útil que se soubesse com verdade qual é o sharing de audiências dos programas onde se vê e escuta a pior má-língua… Estes incendiários televisivos precisam de ser castigados com a não-audiência das suas alarvidades!

 

Muitos mais casos haverá de culpa divorciada, que precisamos de conhecer, dando a todos um período de correção, não deixando que os autores e fautores não sejam castigados devidamente… 

 

António Sílvio Couto  

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