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quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Aliciar emigrantes…hoje como ontem

Foi altissonantemente proferido por um dirigente partidário em maré de ‘rentrée’: os emigrantes que queiram regressar terão desconto em cinquenta por cento no IRS…
A sugestão é como que uma tentativa de fazer regressar, aliciando, os milhares de portugueses que foram saindo do nosso país por ocasião da (rotulada) crise. Muitos deles/as eram possuidores de boas formações universitárias, mas não conseguiam, aqui, emprego compatível com as suas aspirações nem aos investimentos feitos em formação. Outros/as aspiravam receber reconhecimentos e vencimentos mais compatíveis com o seu (pretenso) estatuto…social, profissional ou ascensional. Uma boa parte foi tentar ganhar depressa o que iria auferir em mais tempo por cá…
Diga-se o que se quiser mas um número significativo dos emigrantes saídos por ocasião da crise posterior a 2008 comportou-se como uma espécie de mercenário: aqui deram-lhes as armas e lá fora conquistaram as vitórias…quase sempre de mãos voltadas para dentro, isto é, de forma egoísta, ardilosa e interesseira!


= Será justo que agora pretendam dar-lhes benesses contributivas, sem ofenderem os que por cá aguentaram a crise e a conjuntura de aperto e de contenção? Não estaremos a prolongaram uma certa exploração dos oportunistas e aventureiros, que agora podem voltar como heróis sem honra nem mérito?
Os que correspondam ao desafio não estarão a revelarem-se mais uma vez como beneficiários de todas as regalias e nunca contribuintes, pelo seu trabalho na dureza e pela participação ativa, mas antes saltimbancos em feira de vaidades e como malabaristas de torna-viagem? Quem conheça, minimamente, a mentalidade duma boa parte dos emigrantes saberá que são explorados na saída, esmifrados no local de receção e usados como descartáveis na hora de regressarem…desenraizados, apátridas e sem eira nem beira que os aceite, acolha ou mesmo tolere, à exceção do seu dinheiro!
Infelizmente este percurso não se modificou só porque já não moram no ‘bidonville’ ou que não recolham o sustento e o agasalho na ‘poubelle’ das grandes cidades…seja qual for o país. Os tempos são outros, mas a ostracização não se modificou tanto assim…ao menos culturalmente. Vi-o, por vezes, lá fora! 

= A mentalidade que propôs aos emigrantes voltarem com IRS reduzido é a mesma que fez alguns dos seus fundadores fugirem para o exílio e voltarem como heróis cobardes. A cultura subjacente a esta proposta nunca teve de sujeitar-se às agruras no estrangeiro, pois aqui tinham quem lhes pagasse as propinas e as contestações, normalmente a coberto da noite, de meninos-rabinos-pinta-paredes. Será que algum dos pensantes desta proposta viveu com os emigrados no duro ou antes deambularam pelos halls de hotéis de categoria superior?
Parece não haver dúvida que, uma boa parte dos nossos políticos profissionais, ouviu cantar (ou pensa) numa certa capoeira, mas não conseguem distinguir entre o som dum galo ou dum garnisé, dando mesmo a impressão de que para eles desde que ponha ovo – o produto com retorno económico imediato – poderá ser galinha ou outra ave…Só que o produto de retribuição nem sempre é o mesmo, antes poderá confundir certos pensadores de má memória e/ou de menos boa conduta…

= Embora um tanto tenuemente vimos surgir alguma contestação ao projeto iluminado de reduzir o IRS em metade para os emigrantes que queiram regressar. Antes de tudo será sempre fundamental saber as motivações que levaram milhares de pessoas a saírem. Não será certamente com acenos destes que muitos voltarão, até porque – já o referimos várias vezes, por conhecimento de causa – a possibilidade de alargar horizontes e de experimentar outras realidades culturais vale muito mais que todos os incentivos para a descida de impostos. Quem assim pensou e propôs talvez tenha considerado que os emigrantes ainda são assim tão cretinos como a sugestão manifestada…
Pensem melhor as coisas e não ofendam a inteligência dos que podem ter saído na linha dos navegantes das descobertas, a quem os ‘velhos do Restelo’ não intimidam, antes incorrem em ridículo, ontem como hoje!              


 


António Sílvio Couto

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