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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Lealdade, precisa-se!


‘Lealdade’ significa a qualidade de alguém que é leal. ‘Leal’ tem origem no termo latino ‘legalis’, estando, por isso, relacionado com o conceito de lei. Assim leal seria alguém em quem era possível confiar e que cumpria as suas obrigações legais, não faltando aos seus compromissos, demonstrando responsabilidade, honestidade, retidão, honra e decência… Podem ainda tomar-se como sinónimos de lealdade termos como fidelidade, dedicação e sinceridade.

Ora, diante de certos acontecimentos e situações; perante várias circunstâncias e casos; tendo em conta inúmeros comportamentos e atitudes…poderemos questionar se a lealdade será virtude/qualidade que norteie tanta gente, desde os aspetos mais simples e privados até aos mais complexos e públicos…

Talvez hoje se viva mais num clima de desconfiança, onde os outros se tornam, com relativa facilidade, mais adversários – e, nalguns casos, até inimigos – do que parceiros duma caminhada, onde todos teremos a aprender uns com os outros, desde as facetas mais normais e quase impercetíveis até às mais complexas e necessitadas de desmontagem para serem, suficientemente, compreendidas. 

= Comportar-se de forma leal será, em grande medida, integrar-se num projeto comum, onde cada qual não reivindica para si os resultados, mas antes quer fazer parte duma ação mais ampla e significativa. Dado que vivemos num tempo onde a ponderação nem sempre é a forma mais comum e o bom senso dá a impressão de estar em maré contínua de saldos, torna-se importante detetar por onde anda a lealdade, fazendo dela uma atitude de vida e, sobretudo, um modo de estar no relacionamento com os outros.

* Ser leal é dizer o que se pensa e pensar o que se diz. De facto, muita gente reclama que diz o que pensa, mas nem sempre pensa o que diz. Quantas vezes é preciso dizer pouco, sabendo muito mais do que aquilo que é referido…

* Ser leal é saber calar, quando se não tem a certeza daquilo sobre o qual se é chamado a pronunciar-se. Quantas vezes o silêncio é a forma mais sábia de falar, mesmo que possa parecer um tanto atribulado pelo constrangimento em dizer só o que se sabe e nada mais…

* Ser leal é saber tomar posição, mesmo discordando, sem com isso ofender o oponente nem tão pouco faltar à verdade. Quantas vezes se pretende impor uma posição menos bem amadurecida e com isso pode-se arriscar a ser menos ponderado e sensato…

* Ser leal é ter por grande desejo a valorização dos outros, sem que com isso se viva na adulação nem tão pouco em fazer-se passar por ‘amigo’, quando se anda a levar-e-a-trazer. Quantas vezes deveríamos conjugar o verbo escutar nas suas formas mais variadas, nos tempos mais diversos e nas proposições mais reflexivas…Como pode alguém ser digno de crédito se passa o tempo a maldizer e a difundir maledicência? 

= A palavra ‘leal’ aparece no brasão de armas de, pelo menos, três cidades em Portugal: Porto, Évora e Lisboa…como que a realçar o vínculo de tais cidades e outras, como Macau, onde o espírito português se foi desenvolvendo sob o signo da lealdade, tanto das gentes como do vínculo histórico a momentos significativos do seu passado…

Será que a lealdade continua a ser critério pelo qual se pautam os governantes dessas cidades apelidadas de ‘mui nobre e sempre leal’? Poderemos contar com a exaltação dos valores da lealdade, quando isso implica liberdade e respeito pelos outros? Até que ponto não será de cultivar estes valores da lealdade, da responsabilidade e da honestidade…sem ser em conotação ideológica, mas como valores éticos, muito para além dos meramente republicanos e laicos?

Neste século XXI, que foi proclamado como dos ‘valores éticos’ por teólogos e ávido de sinais de bom senso, bem como de convivência entre os povos, torna-se, cada vez mais claro, que temos de encontrar mais aquilo que nos une e menos aquilo que nos separa, tentando discernir o essencial e depreciando o secundário. Ora, a lealdade é e deve ser algo que nos faça encontrar na luta, mas também na fraternidade; algo que exige de nós compromisso em criar uma corrente de sabedoria, descobrindo tanto daquilo que nos humaniza e abjurando muito daquilo que nos bestializa…a começar em nós mesmos!

 

António Sílvio Couto


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