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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Regras e tarefas…na educação


Um programa televisivo trouxe para a ribalta um tema nem sempre bem tratado e cuidado pelos órgãos de comunicação social e até as (ditas) redes sociais: a educação das crianças…em família.

Vou reportar-me ao programa que vi na emissão em direto: uma psicóloga ‘intromete-se’ numa família para observar mais de perto as anomalias da mesma, sobretudo naquilo que à educação dos filhos diz respeito… Vai anotando e apontando sugestões, onde as regras de pais e filhos, de marido/pai e de esposa/mãe são questionadas e, por vezes, corrigidas, consertando novas regras e propondo-se desenvolver outras tarefas entre todos para que se vá mudando e se crie melhor ambiente familiar do que aquele com que se iniciou o programa…E os resultados – depois certamente de semanas a testar – vão surgindo para contentamento de todos, desde os programadores, os ‘atores’ e a família.

Surgiu, entretanto, uma razoável contestação por parte de certos gurus da pedagogia, dos defensores estatais das criancinhas e de tantos outros que, bem depressa, saíram a dizerem querer resguardar os mais novos. Talvez seja pena que não façam o mesmo para com programas de outros canais – de circuito aberto ou em cabo – quando também expõem crianças a concursos de culinária ou musicais, criando competição, derrota, traumas e sucessos à custa dos mais novos… Há situações em que, à mesma hora, são exibidos programas com crianças…para com uns há exigência e rigor, para com outros fica-se pelo encolher de ombros, só porque deixa no ar a sensação de fama à custa da exploração de crianças e de adolescentes! 

= Num tempo de antena para discutir a questão do programa que pretende educar, estiveram pessoas que já andam nestas questões de infância – talvez se devesse falar de ‘infantis’ – há anos de mais para que os resultados sejam os que se verificam no nosso país. As intervenções dessas figuras não têm trazido nada de bom à educação das crianças, pelo contrário, parece que as têm infantilizado ainda mais, mesmo que pareçam defendê-las… Há argumentos que ouvimos há mais de duas décadas e a pedagogia tem mudado, bem como as crianças estão noutro estádio social, familiar e cultural.

Também a tutelagem estatal deixa muito a desejar, pois, na maior parte dos casos, limita-se a retirar as crianças – ditas em risco – às famílias para as entregar a instituições onde cada criança custa ao estado cerca de mil euros, quando este dá de abono da família – dependendo do escalão – pouco mais de cem euros nos valores mais comparticipados… 

= O dito programa que ajuda as famílias a acertar critérios de educação, de família e de orientação na vida surgiu na cultura anglo-saxónica com expressão na Grã-Bretanha, há década e meia, adaptado e difundido nos EUA e no Brasil. Mas, mais do que olhar para o formato ou até o conteúdo, não podemos deixar de enfrentar o problema essencial: os pais são/serão educadores? Foram preparados para isso ou, pelo contrário, deixam correr as coisas sem terem critérios nem ferramentas para educarem os filhos? Até onde irá a hipocrisia de defender as crianças, mas não lhes darmos instrumentos de futuro, como a educação, as boas maneiras, o civismo, a civilidade, etc.?

A nós, cristãos, deve-nos preocupar se estamos a semear nas crianças os valores do Evangelho. Sobretudo se temos ao nosso cuidado crianças – nos centros paroquiais, nas catequeses, nos agrupamentos de escuteiros ou, simplesmente, nas celebrações da fé – devemos perguntar-nos se essas crianças encontram Jesus em nós e através de nós. Se as palavras que dizemos condizem com os valores que perfilhamos. Se ajudamos a criar nos mais novos uma proposta de civilização onde as questões da vida, da família, da paz, da verdade, da compaixão e do amor são comunicados mais por osmose do que por verbalização.

Há coisas de fé que se bebem com o leite materno e isso nem sempre é percetível nas nossas crianças. Ou, então, o que vemos são gestos e atitudes de rebeldia, palavras e comportamentos de irreverência e, nalguns casos, de malcriadez…

Talvez este programa não faça quase nada neste sentido de educar a vontade nas nossas crianças, mas temos todos a obrigação de complementar o ensino das escolas, que parece quedar-se pela instrução e não veicula valores… A família tem de o fazer com sabedoria, humildade e comunhão entre todos…    

    

António Sílvio Couto




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