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domingo, 19 de março de 2017

Sons do gato…em tempo de cio!


De alguns dias a esta parte, a qualquer hora, incluindo a noite, ouço, na zona onde resido, uma espécie de gritos lancinantes dum gato, ao que parece em tempo de cio… Às vezes os ‘lamentos’ do bichano são confrangedores, noutros momentos como que se sente que o animal está fora do lugar…ao menos nesta época.

Desde já acho que poderei colocar algumas questões, que não têm nada de julgamento e tão pouco de acusação: Será correto condicionar os animais – ditos de companhia – domésticos, sobretudo em fases da sua vida normal? Poderemos considerar que se gosta dum animal, constrangendo os seus ritmos de vida natural? Até onde irá a conciliação entre as necessidades dos humanos e os direitos dos animais, particularmente os de companhia doméstica?  

= Quem ande minimamente atento verá, nas ruas e noutros espaços da vida pública, imensas pessoas trazendo animais – sobretudo cães e, por vezes, gatos – em companhia, numa espécie de compensação emocional/afetiva, nem sempre fácil de interpretar, pois, nalgumas circunstâncias, mais parecem bibelôs animados do que criaturas a quem se dedica tempo e afetividade, mesmo que de forma menos equilibrada. Com efeito, a dedicação aos animais nunca por nunca poderá ser uma espécie de rebuscado psicológico que, por medo ou constrangimento, em não ter, não poder ou não quer filhos/as, possa servir de recurso ou de disfarce a tais objetivos naturais à condição humana…normal.

Neste tempo do ‘descartável’ – como tantas vezes no-lo tem dito o Papa Francisco – os gastos para com os animais não podem servir de desculpa para que não se atenda, essencial e preferencialmente, aos humanos, esses que são mais do que criaturas de Deus, são ‘sua imagem e semelhança’… De facto, enquanto virmos, nos espaços de compras mais espaços para comida dedicada aos animais do que para artigos de cuidado para com as crianças, diremos que somos uma sociedade doente ou, pelo menos, em disfunção de atributos e de propriedades… 

= Nos tempos mais recentes temos vindo a assistir à crescente dignificação dos animais, em muitos casos com a depreciação dos direitos e deveres dos humanos. Nalgumas circunstâncias vive-se quase uma maior propaganda em favor dos animais – atendendo à luta de certas associações e segundo critérios mais ou menos suscetíveis de criar dúvida e confusão – do que de tantos outros aspetos que envolvem a condição humana, segundo a vida não-nascida e até à morte não-provocada. Em quantos casos esta segunda faceta – a dos humanos – é mais desvalorizada em relação à da defesa dos animais…Equiparada uma e outra condição é, desde logo, criar ruturas e possibilidades de desvalorização da vida humana… Assim só estamos a perder dignidade e a nossa correta condição!  

= Quando de tantas formas vimos a ver crescer a salvaguarda dos animais em detrimento dos valores que afetam os humanos, poderemos considerar que algo vai mal no reino da condução humana, pois, segundo a visão judaico-cristã da criação, a pessoa humana é o que de mais solene há no espetro da conduta entre todos os seres, sob os quais os humanos têm autoridade e poder na ordem da mesma criação. A qual dos seres disse Deus que tenha sido criado ‘à sua imagem e semelhança’, se não ao homem e à mulher? Talvez certas visões um tanto panteístas/materialistas tenham muito a considerar sobre esta nossa hierarquia de seres. Dada esta visão personalista da vida e dos seres, poderemos e deveremos questionar a quase adoração dos animais, incluindo as hipóteses vegetalistas e de outros adereços vegetarianos…  

= Urge questionar, então, alguns dos comportamentos de culto aos animais, inquirindo sobre quem está posicionado na escala de valores e de critérios. Ter animais para que sejam ofendidos na sua vida normal e natural, será de aceitar e de não-denunciar? Até porque sentimos que muitos dos animais se exprimem com sentimentos bem elevados e significativos, não aceitamos que sejam tirados do seu habitat para serem utilizados pelos humanos!     

 

António Sílvio Couto



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