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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Quaresma - O dom do outro…em família


As mensagens do Papa Francisco e do Bispo de Setúbal para a Quaresma dão-nos oportunidade para tentar coser dois aspetos essenciais para a vivência do tempo de preparação para a Páscoa…deste ano – o dom do outro, sobretudo, em família…numa descoberta contínua e necessitada de aprofundamento.

O Papa intitula a sua mensagem – ‘A Palavra é um dom. O outro é um dom’, enquanto D. José Ornelas Carvalho submete a sua mensagem à temática – ‘Converter-se em família’.

Respigamos alguns excertos dum e doutro das nossas referências em Igreja universal e particular, colocando, posteriormente, breves questões.  

* «Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. Cada um de nós encontra-o no próprio caminho. Cada vida que se cruza connosco é um dom e merece aceitação, respeito, amor. A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil».

Esta citação da mensagem do Papa faz-nos centrar no essencial: o outro é um dom, mas o pecado pode ofuscar a nossa capacidade de vermos isso de forma tão simples e até para conseguirmos discernir como a Palavra de Deus é também dom, que nos faz descobrir o essencial, pois, como diz o Papa, «fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão».  

* «’Converter-se em família’ significa, antes de mais, que o caminho de conversão quaresmal, assumido por cada um de nós diante de Deus, tem de começar no relacionamento com os membros da nossa família, aqueles que nos são próximos e com os quais partilhamos o mais importante da vida. Tantas vezes, vivemos na família como se ela fosse simplesmente um endereço postal comum, uma pensão onde passamos a noite e usufruímos de alguns outros serviços funcionais.

(…) ‘Converter-se em família’ quer dizer também que o caminho de conversão não pode ser apenas uma questão individual. Temos de estar juntos como família para que ela mude. Nesta Quaresma, somos chamados a sentar-nos juntos, em família, e decidir que sinais vamos dar, que atitudes vamos assumir para sermos mais família, mais família cristã.
(...) A conversão ao Evangelho comporta sempre uma dimensão de atenção aos outros, para além da porta da nossa casa, do círculo dos amigos, da coesão étnica ou nacional. Significa alargar os horizontes da nossa atenção e preocupação ativa à totalidade da família humana, como faz Deus, o Pai comum de toda a família humana.
(...) ‘Converter-se em família’ tem igualmente um horizonte fundamental que é a família de Deus, a Igreja, que é uma família de famílias».  

Estes excertos da mensagem de D. José deseja pôr o dedo na ferida: a família é muito mais do que aquilo que queremos fazer dela, seja porque isso nos convém interesseiramente, seja porque não temos capacidade de entender melhor o que é, de facto, a família. Será em família – de sangue ou da fé – que havemos de nos converter, dando mais atenção aos outros, dando-lhes sinais dessa conversão contínua e continuada… 

= Se a família não é o lugar onde estimamos o outro, como poderemos sobreviver na confusão, na convulsão e na concorrência da rua?

Se a família não for mais do que um espaço de interesses, como poderemos sentir e fazer sentir respeito duns pelos outros e de todos entre si?

Se a família não nos souber educar para a dádiva mútua, como poderemos ser construtores duma sociedade saudável e sensível aos mais fragilizados?

Se a família não se converter em espaço de dom e de mistério, tanto de Deus como ao nível humano, como poderá ela sobreviver aos contínuos ataques e ridicularizações de certos lóbis anti-família?

 

António Sílvio Couto


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