Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Instrumentalização ofensiva…


De forma recorrente o assunto volta à superfície: equiparar, de forma legislativa (obrigatória), a participação de homens e mulheres – ou será antes de género à masculina e ao feminino? – nas responsabilidades das empresas…para já só nas públicas, seja através de quotas, seja na paridade entre ‘de género’ quem ocupa tais lugares e funções.

Já anteriormente, em 2006, foi legislado sobre as quotas nas listas concorrentes aos órgãos autárquicos e do parlamento… ao menos na teoria. Os efeitos pareceram ser mais de teor nebuloso do que com consequências reais.

Embora o assunto seja de âmbito da União Europeia, por cá temos vindo a fazer alguns esforços para colocar quotas, paridades, regulações…com sanções estipuladas por incumprimento e pouco mais. 

= Ora, desde logo fazer da diferença uma agravante para que se tenha de nivelar o que não gera competência, será um tanto ofensivo para quem possa ser beneficiado, pois não ocupa o lugar ou a função por ser capaz, mas por ter este ou aquele género… Por agora são as mulheres – usamos esta linguagem para ser mais direta e assumidamente diferente – quem são elevadas na hierarquia do poder, mas amanhã serão os homens – novamente usamos esta designação para que se perceba de que estamos a falar – que poderão de ter de ser cotados em bolsa de promoção…

De facto, antes eram eles que estavam mais escolarizados ou mereciam mais reconhecimento para ocuparem os lugares, desempenhar as tarefas ou destacarem-se no tecido de poder. Mas, dado o benéfico crescimento da escolarização – tanto na quantidade, quanto na qualidade – das mulheres, serão eles a curto e médio prazos que passarão a exercer funções subalternizadas… e a paridade terá de ser reivindicada por eles, embora com custo acrescido de já não serem idênticas as armas usadas. 

= Há quem refira que tais questões da paridade ou das quotas são como que biombos atrás dos quais se escondem problemas estruturais de desigualdade e de discriminação. Isto diz-se do que está a acontecer atualmente, mas, pela mesma lógica, daqui a breves anos, estaremos a falar do contrário em relação a quem agora ocupa o poder e dele vai ser destronado certamente a contragosto… Por isso, consideramos que a instrumentalização deste problema não se resolve com a introdução de quotas nem com legislações, pois serão quase sempre os mesmos a estarem nos lugares, podendo – como se vê nalgumas estruturas partidárias, sindicais e associativas – não ser cortado o ciclo de poder, mudando só de figuras, dado que as relações de parentesco ou de afinidades entrecruzam-se à vista ou no verso da confeção… 

= Será quando se promover a competência que tais minudências passaram a ser considerados problemas secundários. Seja homem ou mulher – ou usando a designação que alguns preferem a atendendo ao género – o que importa é a qualidade humana, intelectual, emocional, cultural, social e (mesmo) espiritual da pessoa, pois se continuarmos a olhar para tais discrepâncias iremos criar teses e antíteses que só servem para gerar conflitos reais ou fictícios…

É verdade que nalguns sectores e organizações ainda falta um longo caminho a fazer, mas, por outro lado, já se nota a diferença senão na prática ao menos na formulação teórica de tantos outros que – por exemplo a meio do século passado – eram demasiado machistas, conservadores, reacionários e fundamentalistas… Algo tem vindo a ser feito!

À boa maneira do tratamento que a Igreja católica costuma fazer de muitos dos problemas que no seu seio se discutem, esta primeiro põe à prova e depois, tacitamente, aprova… sem ruídos nem grandes espalhafatos. Quem ainda não viu alguma mudança ou desconhece o que está a acontecer ou preferirá fixar-se no seu preconceito…Claro que não são muitas as mudanças almejadas, mas muita coisa mudou desde há sessenta anos com o Concílio Vaticano II. 

= Somos essencialmente pela competência de cada pessoa, use-se a vestimenta que se quiser ou reclame-se da intenção que lhe convier… Quotas e paridades ofendem…e muito!     


 

António Sílvio Couto



Sem comentários:

Enviar um comentário