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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Governação em dronagem


O uso (ou abuso) dos drones tem vindo a vulgarizar-se. Quase não há festa ou acontecimento mais ou menos social onde não tenhamos de ter a presença dum tal besouro sobrevoando as cabeças, recolhendo imagens e mesmo invadindo a privacidade de pessoas e grupos.

Sendo um veículo aéreo não tripulado, controlado de forma remota, o drone é usado em tarefas ou missões de reconhecimento ou ataque em operações militares ou com outras finalidades. Temo-lo visto, sobretudo, a ser usado por fotógrafos em ocasiões de casamento ou em eventos de maior ou menor dimensão…

Embora usados durante algum tempo sem legislação que configura-se a sua restrição, vão surgindo casos em que os drones como que mostram o que não seria desejável e dão acesso a informações que talvez seria escusado serem divulgadas…  

= Porque veem as coisas a partir de cima, isto é, num plano geral e quase superficial, os drones – com uma certa psicologia que lhe pode estar atinente – como que nos apresentam algo genérico e pouco concreto, mostram mas nem sempre atingem as questões que devem ser resolvidas duma forma séria e sensata… Isto mesmo é aquilo que nos dá a impressão estar a passar-se na governação do nosso país: desde o drone do poder pretende-se dar espetáculo e parece que se resolve tudo e o resto, mas no concreto, pouco ou nada se vê; dá boa impressão, pois trata as questões mais difíceis em objetos de espetacularidade, umas vezes distraindo e noutras confundindo, mas somos levados um tanto a desconfiar que alguém anda a enganar outrem; servidos por artefactos mais ou menos engenhosos, os resultados são duvidosos, tanto na forma, como no conteúdo…Esta dronagem está servida por um sistema bem montado, que vai escapando aos olhares mais incautos e onde quem destoar corre o risco de ver invadida a sua privacidade pelo drone que distribui as benesses e as prebendas… 

= Não deixa de ser sintomático que se tenham calado tantas vozes reivindicativas, pois as escolas continuam sem condições e pouco vemos denunciado nem protestado; os transportes públicos não adquiriram melhor qualidade, antes pelo contrário, e as contestações parecem abafadas; os hospitais não dão conta do recado, com largas horas de espera no atendimento e nem sombra de mal-estar…visível; muitas das estradas esburacadas nem remendadas foram, embora andem faltas de arranjo, e pouco ou nada se diz…aguentando as dificuldades; as tropelias em matéria do sistema bancário é de tal forma clamorosa e (quase) escandalosa, usando e abusando dos arranjos por trás da cortina, e nada acontece, parecendo que os factos se modificam na avaliação quando são protagonizados por amigos de quem manobra o drone… Um longo e profundo manto de silêncio está lançado sobre este país adormecido – ou será, antes, comprado? – por quem governa e secundado em fazer vista grossa por quem devia fiscalizar…  

= Há, no entanto, forças sociais, intelectuais, culturais, morais e espirituais que não podem continuar mudas como tem acontecido. Não podem permitir que lhes amordacem a voz com uns parcos proventos, que o dono do drone tem para lhes distribuir, quando querem fazer algo em matéria social e em favor dos mais desfavorecidos, pois, se tal acontecer, para além de ficarem manietados e, possivelmente, comprados, serão coniventes com certas malfeitorias praticadas pelos controladores do drone… Onde está a voz profética doutros tempos? Como poderemos servir sem deixarmos que se sirvam de nós? Como poderemos agora calar novas injustiças, se não estivermos do lado dos injustiçados?

Parece chegada a hora de despertar, pois os sinais do Evangelho não podem ser calados nem os que nos precederam no anúncio da boa nova ficariam honrados…Haja quem ponha tento no (ab)uso do drone do poder! Tal como dizia D. António Ferreira Gomes: de joelhos diante de Deus, mas de pé perante os homens!

  

António Sílvio Couto 




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