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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Velhos com infância menos feliz



26,9% dos portugueses, com mais de cinquenta anos de idade, afirmam ter tido uma vida feliz. No quadro de dezasseis países europeus esse mesmo enquadramento etário apresenta que 50,8% dos inquiridos dizem-se muitas vezes felizes.
Estes dados foram recolhidos dum estudo intitulado ‘Envelhecimento em Lisboa, Portugal e Europa: uma perspetiva comparada’.
Olhar para o passado parece que comporta para muitos portugueses uma espécie de fardo...e as perspetivas sobre o futuro não são também vistas como animadas. Poder-se-á dizer que os portugueses veem o passado difícil, o futuro incerto e o presente complicado. Tentemos abordar a questão sobre esta tríplice visão:
* Passado difícil
Muitos dos portugueses com mais de cinquenta anos foram educados num Portugal em ditadura política, alguns viveram a segunda guerra mundial, uns tantos participaram na guerra colonial...e uma grande maioria foi apanhada pela revolução de Abril na adolescência, vivendo as complicações sócio-económico-políticas dos últimos quarenta anos da (dita) democracia...
Tiveram de viver com muitos sacrifícios, em contenção económica...à mistura com anseios, sonhos e bons desejos nem sempre realizados na vida pessoal, familiar e social.
Quem viveu assim o passado talvez não tenha grandes perspetivas para o futuro...por entre dúvidas quanto ao presente...mais ou menos ritmado pelas ocupações do trabalho ainda a fazer... Uma parte significativa desses com mais de cinquenta anos são confrontados com as (ditas) ‘novas tecnologias’, exigindo-lhes capacidade de adaptação e contínua aferição a novos termos e conceitos…
* Futuro incerto
Sim, dadas as circunstâncias esta geração de mais de cinquenta vive agora no final do (possível) tempo útil de trabalho, com reformas, normalmente, baixas para os sustentar, entre a dúvida de onde será vivida a velhice, pois a família já não tem condições para ser o derradeiro reduto da sua vida... Quantos sonhos se podem ter esboroado e agora fica o amargo de ver que o sol prolonga a sombra na dianteira da vida e do que virá… Quantas perguntas se colocam. Quantos silêncios engolidos para dentro. Quantas vezes o limão é espremido para dentro, lançando mais amargura e incerteza sobre feridas nem sempre curadas…

* Presente complicado
Efetivamente nem tudo corre bem no reino do faz-de-conta, pois já não se tem o mesmo vigor físico, as virtualidades intelectuais podem começar a falhar, as dimensões emocionais/psicológicas vão amadurecendo com a experiência de vida...por muito pouca que esta possa ter sido. O presente não se apresenta assaz risonho, mas também não é tão sisudo que tenhamos de andar com cara de defunto em pré-registo. Sejamos realistas e tentemos viver o dia-a-dia com a intensidade que a dedicação aos outros nos confere...
Numa palavra: quem vos escreve já passou, de facto, a barreira dos cinquenta, mas ainda não tem uma perspetiva tão pessimista como a daquela minoria de pouco animados com o passado...pois crer em Deus pode ser um alento de vida na certeza de que Ele cuida de nós, sempre!
Comparativamente com outros países, com nível e qualidade de vida – termos tão queridos à nossa cultura do descartável – idênticas ou superiores à do nosso país, vão enfrentando passado-presente-futuro com outra disposição mais animada e, ao que parece, com menor apreensão. Será que a nossa condição de latinos e sob a influência duma certa religiosidade nos condiciona e nos atrofia? Será que a ligação familiar se foi rompendo e ainda não encontramos o verdadeiro sentido de vida? Será que não tem vindo a faltar uma maior adequação da fé dita à fé comprometida? Com tanto sol, ao longo do ano, não deveríamos ser mais animados, alegres e servidores da esperança?     

António Sílvio Couto 


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