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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Jovens ‘mais estudados’ com menor consciência social?


Como é que ‘confiança, competência, conexão, cuidados e caráter’ se repercutem na formação dos nossos jovens? Como é que estes cinco ‘cês’ funcionam como indicadores de que os nossos jovens sabendo mais – pela escolarização e maior informação de conteúdos – e crescendo em idade, estão mais amadurecidos para a vida? Como reagem, rapazes e raparigas, às mesmas questões? Até que ponto sucesso pessoal se compagina com sensibilidade social?

Estas são algumas das várias questões que nos pode colocar (direta ou indiretamente) um estudo – «Ser positivo (Be positive)» – de âmbito internacional, mas com dados recolhidos num inquérito, em Portugal, em cerca de três mil jovens, com idades compreendidas entre os 16 e os 29 anos.

Segundo a leitura da coordenadora deste estudo, as raparigas demonstram ter uma consciência social mais apurada do que os rapazes, embora, posteriormente, surjam como menos otimistas e propensas a sentimentos de mal-estar físicos e psicológicos…Ainda na perspetiva desta responsável, os jovens com estatuto socioeconómico mais elevado são os que menos valores e consciência social parecem apresentar, embora sejam mais confiantes e otimistas, podendo considerarem-se a si mesmos como bons alunos… Nas palavras dessa responsável, citadas pela comunicação social, ‘fica-se com a sensação de que um jovem ou é competente e confiante, mas muito pouco preocupado com os outros e com a realidade, portanto, autocentrado e egoísta, ou cria empatia com o que o rodeia e sofre por causa disso e torna-se menos bem-sucedido’… 

= Diante destas notas de reflexão sobre a condição atual e suas repercussões no futuro dos nossos jovens teremos todos – sobretudo os mais velhos com a tarefa da educação e em espaços de cultura – de estar bem atentos àquilo que temos vindo a semear. De facto, os mais novos são resultado do que nós temos sido para com eles. E a julgar – aqui a palavra é mesmo de nos colocarmos em causa e em juízo, com a possível nota de condenação para com quem não soube exercer bem as funções que lhe estavam confiadas – pelos dados, estamos todos muito mal colocados. Se os jovens – nossos filhos ou netos – têm uma visão tão redutiva da sua vida atual o que será no futuro, quando tomarem em mãos as decisões para com os outros? 

= Sou duma geração que teve a possibilidade de sonhar com um mundo mais justo, mais fraterno e até mais humano. Quem viveu o rescaldo, em tempo de estudos, da implementação prática do Concílio Vaticano II – na década de 70 – ou quem, em tempo de adolescência, viu os fervores da revolução de Abril e não teve mais de ir fazer a guerra no ultramar português ou ainda quem assistiu à queda do muro de Berlim, em 1989, e sentiu que um tempo novo emergia para a Europa e para o mundo…agora sente – irremediavelmente – preo-cupação com a desmotivação de tantos jovens e a capitulação da maior parte dos adolescentes… sobretudo no fechamento às questões dos outros e ao deixar cair a atenção aos frágeis e fragilizados do nosso tempo. 

= Foi com alguma surpresa e estupefação que, por estes dias, li, nas reações à morte duma das grandes promotoras da despenalização da eutanásia, quando, quem a conhecia, referia que uma das suas grandes preocupações era o receio que tinha de vir a morrer sozinha e sem ter quem a acompanhasse…Ao ler isso, pela via eletrónica, senti que uma coisa parece ser aquilo que se pensa – e ao parece se defende, intelectualmente, para os outros – e outra um tanto diferente, quando a experiência da dor e do sofrimento – sobretudo nos casos em que nos pode isolar ou colocar no reduto mais único daquilo que somos – nos bate à porta e entra sem pedir licença…  

= Em jeito de inquietação deixo breves questões: Não terá sido a sensibilidade aos outros, ao tempo de jovem, que colocou agora António Guterres à frente da ONU? Se ele tivesse tido uma juventude apática poderíamos agora reconhecê-lo nesta tarefa? Com tantos rebotes de cultura de veludo, não teremos jovens cada vez mais insensíveis aos outros e intolerantes à diferença? Com um ensino sem exigência, não estaremos a criar adultos bolorentos e crianças sem coluna… ou será o contrário, já?      

 

António Sílvio Couto 


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