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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

À procura da ‘palavra-do-ano’


Está aberta a votação para a escolha da ‘palavra-do-ano’ – 2016. São concorrentes: brexit, campeão, empoderamento, geringonça, humanista, microcefalia, parentalidade, presidente, racismo e turismo... dez candidatas ao todo!

A votação iniciada a 5 de maio – ‘dia da língua portuguesa e da cultura’ da CPLP – decorre ao final deste mês de dezembro, devendo ser anunciada a palavra vencedora nos primeiros dias de janeiro.

A escolha da ‘palavra-do-ano’ decorre, em Portugal, desde 2009, tendo sido estendida, este ano, a Angola e Moçambique... sendo da responsabilidade duma editora de grande expansão.

Em 2015 a ‘palavra-do-ano’ foi refugiado... enquanto em 2014 foi corrupção, em 2013 foi bombeiro, em 2012 a escolhida foi entroikado e em 2011 foi austeridade... 

= As palavras levadas à votação como que resumem o que de mais significativo houve na nossa vivência coletiva, umas com teor mais político e outras com referências ao nível mais social; umas realçando a conjuntura pública e outras exaltando mais a captação dos temas de âmbito relacional e até mesmo simbólico...

Mais do que escolher uma palavra que resuma a linha dominante do pensamento nacional – eu votei em geringonça – parece que se pretende algo que catapulte, para o futuro, o que foi a vivência deste ano de 2016, que caminha para o seu crepúsculo... Isso mesmo se pode ver pelas ‘palavra-do-ano’ supra citadas... Agora podemos compreender um tanto melhor ‘até’ a importância da escolha, pois falará de nós para o futuro próximo. 

= Cada vez mais precisamos de saber resumir, de forma simples, clara e incisiva, a nossa conduta pessoal e comunitária, na medida em que, muito daquilo que somos, se reflete no modo como pensamos, falamos, escrevemos e nos exprimimos. Efetivamente a nossa capacidade de comunicação faz com que aprendamos e enriqueçamos o nosso léxico, gerando novas formas para que as ideas sejam comunicadas e possamos fazer melhorar o tempo, o lugar e a cultura em que nos desenvolvemos.

No entanto, corremos o risco de irmos afunilando a nossa forma de comunicação, quer porque tentamos simplificar o que pretendemos dizer, quer porque o grupo sociológico a que pertencemos tem ou pode ter, ele mesmo, uma forma de comunicação, que se torna codificada e com tendências a fechar-se. Vejam-se as formas encriptadas com que muita da linguagem das mensagens em tlm se vão desenvolvendo e tornando entendíveis só para iniciados... 

= Não basta dizer que é preciso ler e que os mais novos têm vindo a perder a dedicação à leitura. Será preciso elevar o nível cultural de comunicação, a começar pelas entidades públicas – governação e deputados – e também na forma como se faz a comunicação social, sabendo dizer o que é essencial e deixando o supérfluo para quando houver tempo... mas, como este é cada vez mais escasso, precisamos de exercitar a comunicação do miolo do pensamento, deixando cair as roupagens do desnecessário.

Dá a impressão que precisamos de tratar os nossos interlocutores com mais respeito e não depreciando a sua inteligência, pois quem não sabe respeitar os outros talvez não mereça ser respeitado... Quantos exemplos vemos espalhados à nossa volta, que parecem contar mais com a sua esperteza e não tanto com a sagacidade dos outros... Quantas vezes perguntar é mais salutar e benéfico do que afirmar, mesmo que as questões possam, desde logo, exigir respostas e tomada de posição... Quantas vezes se percebe quem nos trata com civilidade ou quem nos pretende impingir patranhas ao desbarato... 

= Seja qual for a palavra-do-ano de 2016, teremos de refletir sobre aquilo que ela transmite aos outros da nossa vivência do passado recente... Até o empoderamento (= ato ou efeito de dar ou adquirir poder ou mais poder) poderá ser reveladora das caraterísticas do nosso tempo...

 

António Sílvio Couto



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