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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Como oásis de misericórdia?


«A Igreja tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. (...) Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos - em suma, onde houver cristãos - qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia» – Papa Francisco, O rosto da misericórdia, n.º 12.

Ao darmos início ao ‘ano jubilar da misericórdia’ somos, entretanto, confrontados com múltiplos sinais de não-misericórdia no nosso trato coletivo mais ou menos difuso: 

= Contemporaneidade agressiva e agnóstica?

Por entre tantos arremedos de confusão, vivemos numa apreensão contínua sobre o significado das atitudes pessoais e alheias, pois factos e pessoas manifestam que as relações se conduzem mais pela agressividade do que pela compreensão; situações e episódios veiculam mais o conflito do que a tolerância; gestos e acontecimentos estão mais marcados pelo ressentimento do que por algum (ténue) perdão...

Tudo se agrava se nos detivermos a considerar que muita dessa agressividade e conflitualidade emerge do coração azedo e ferido de tantos/as que (até) se dizem cristãos... mais ou menos praticantes. Com que arrepios de escândalo vemos que muitos dos comungantes nas nossas missas misturarem na mesma boca a hóstia consagrada da presença de Jesus na eucaristia com a maledicência contumaz e ressabiada...contra os outros.

= Combater o terrorismo com as mesmas armas...de intolerância?

Depois dos mais recentes e espetaculares atentados, em Paris, a 13 de novembro, vemos que os combatentes daquele terrorismo usam as mesmas armas sem olhar a meios nem a ilegalidades. O que faliu foi (e é) o modelo de sociedade que foi gerando, no seu interior e sem controle, os fazedores de denuncia ao falhanço da sociedade laicista do Ocidente. Os ‘terroristas’ tinha nacionalidade e identificação dos países que agora destroçaram pela morte. São filhos e resultado da vulgarização do não-Deus – a alusão a Deus nos atentados é abusiva, ofensiva e tendenciosa! – no pensar e no agir. Foram-lhes dados todos os alçapões sociais e legais para se evaporarem sem deixarem rasto nem possibilidade de serem encontrados...Por muito que nos custe aceitar, eles atuam de forma impune e tendencialmente vangloriosa...

= Sinais políticos preocupantes...contraditórios

À boa maneira da interpretação das votações noutros momentos e locais, podemos ver que, em França, cresceu a tendência (apelidada) de ‘extrema-direita’, vulgarizando os (ditos) democratas e reduzindo à insignificância quem ocupa o poder. Deu para perceber que as conquistas mais recentes de combate ao terrorismo não fizeram subir quem nada vale – lá como por cá! – e que não podemos continuar a reclamar contra quem discorda, votando e que se exprime de forma diferente da tendência barulhenta de certas esquerdas...contestatárias na rua...mas submissas no poder.

Nota-se que uma certa comunicação social – nacional e no estrangeiro – só se inquieta com as expressões que fogem da onda dos seus mentores. Uns tantos querem fazer crer que o perigo vem (só) da direita, tentando esquecer que também a esquerda deixou milhões de mortos e de gulags, de prisões e de caudilhos na América Latina e na Ásia...alguns há anos!

= Misericórdia como opção política

Acreditamos que o mundo pode ser mais humano e mais fraterno, se as pessoas se conduzirem com relações de misericórdia entre si, nas instituições, nos países, nas religiões, nas culturas e (até) nas ideologias... mesmo que algumas não a compreendam. Temos um longo e árduo caminho a fazer, mas valerá a pena começá-lo, dando pequenos passos com aqueles com que vivemos e partilhamos este momento histórico... Deixemo-nos supreender por Deus!      
 
António Sílvio Couto


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