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quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Então, como vai isso?


Cada vez que passava sob a janela, lá estava a senhora, a quem não via mais do que a cabeça, que perguntava: ‘Então, como vai isso’’… Respondendo-lhe quase invariavelmente: ‘vamos andando’… e seguia o caminho.

Recordando esta breve frase – sem ter ainda percebido o seu alcance – como que gostava de, através dela, deixar breves inquietações deste tempo e sobre este tempo que por agora vamos vivendo.

- Quando ouvimos certos políticos reclamarem da necessidade em criar empregos, perguntamos: então, como vai isso em matéria de fazerem surgir empregos? Já vimos algum partido ou sindicato a criar empregos ou terá sido antes a destrui-los?

- Quando vemos certos mentores da contestação a aparecerem como defensores dos mais desfavorecidos, perguntamos: então, como vai isso nas circunstâncias de empenhamento para que os pobres diminuam? Que seria do discurso duns tantos se lhes retirassem a fatia dos que passam mal, teriam conversa e programa?

- Quando assistimos à contestação de matérias no âmbito da UE, por certas forças partidárias, perguntamos: então, como vai isso de coerência, se depois se candidatam e usufruem dos benefícios que combatem? Chegamos, nos tempos mais recentes, a um caso em que, quem ganhou lá para fora, fez campanha por cá por outra força ideológica… Verdade a quanto obrigarias…a quem tenha vergonha e bom senso!

- Quando assistimos a certas manifestações de crença – sobretudo usufruindo desse anonimato de Fátima e afins – como que ousamos perguntar: então, como vai isso em matéria de compromisso de fé e no concreto da vida? Que é mais importante colaborar ou comprometer-se? Ao longe consegue-se disfarçar melhor?

- Quando passamos a perceber um tanto melhor que certas fés cuidam mais promoção dos seus fiéis do que lhes tentam dar razões de crescimento na humildade, perguntamos: então, como vai isso de ser cristão, é só quando convém ou certos assuntos não são (ou não podem) tratados na evangelização? Atendendo às questões da família, estas só interessam quando convêm?

- Quando parece vir a crescer um certo cristianismo egoísta, isto é, onde a minha crença se sobrepõe à vivência comunitária com outros, perguntamos: então, como vai isso de ser cristão, se os outros podem aparecer como adversários e não como irmãos? Que comunhão temos e vivemos, se, preferencialmente, recebemos ou, se damos, aquilo que nos sobra?

= Perante estas duas séries de questões – umas mais de âmbito político e outras de natureza eclesial – e tendo aquela pergunta – ‘então, como vai isso?’ – por inquietação, propomos algumas sugestões:

. Os políticos não podem dizer e fazer (quase) tudo e o seu contrário, ficando impunes e como se fossem imunes àquilo que possa estar em desconformidade com a prática mais simples e razoável. O uso da palavra não deverá ser uma forma de engano, desacreditando quem fala e colocando suspeitas em quem escuta… E nem odor a poder será desculpa para que se possa ser ilógico e inconsequente na forma e no conteúdo. O pior que nos podia acontecer era a sensação de termos políticos mentirosos e mais do que isso oportunistas e maquiavélicos.

. Como conciliar um certo cristianismo de consolação com a capacidade de compromisso e de caminhada contínua na fé e na comunidade? Até agora temos sentido que muito vêm no Papa Francisco uma espécie de mentor da primeira faceta, como irão reagir quando dele percebermos que é mais da segunda perspetiva?

O ano jubilar da Misericórdia pode e deve ser uma oportunidade para sairmos do nosso casulo de conveniência e fazermos a visualização do rosto de Jesus Cristo misericordioso e compassivo. Temos muito a aprender e o mundo espera de nós, cristãos/católicos, mais do que boas intenções e cerimónias de passa-culpas: se não vivermos a misericórdia na Igreja como poderemos apresentá-la aos outros!

Em resumo: ‘então, como vai isso’ em matéria de coerência e de bom senso? Sem verdade não conseguimos viver na lealdade de todos e de uns para com os outros…

  

António Sílvio Couto

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