Nas
eleições para o Parlamento europeu, em Portugal, dois terços dos eleitores
inscritos não votaram, isto é, 65,34%... deixaram de exprimir a sua vontade
eletiva.
Dizem
que é uma forma de exprimir a sua discordância para com o que se está a passar…
cá dentro e lá fora. Outros consideram que têm direito a não votar porque não
se reveem no sistema político e muito menos nos seus executantes. Há ainda quem
tenha outros interesses e não ligue às questões da política, seja ela qual for
ou ainda a instância da sua captação.
Desde
que pude votar nunca faltei. Votei sempre no mesmo campo ideológico e quase
partidário… mesmo por ocasião das presidenciais. Claro vivi muitas derrotas e
comparticipei em muitas vitórias. Causa-me, no entanto, fastio certos
comentários e uns quantos comentadores… mas o botão de zapping logo me alivia
para que não pragueje (nem que seja sozinho) perante avaliação de intelectuais com
talas que condiciona a visão… cultural e emocional.
Tentemos
desmontar algumas das razões dos abstencionistas, pois, apesar de tal se
comportarem continuam a usufruir dos mesmos direitos, podendo contestar sob a
capa do anonimato, gozando ou sofrendo com aquilo que é o estar comum ou sob a
penumbra do dever não assumido… para com os outros concidadãos.
= Direito/dever… de cidadania
Mais do
que uma escolha por simpatia – como há quem considere, sobretudo, nas eleições
autárquicas – votar é escolher em função dos outros. E, nem quem se apresenta a
ser votado, poderá sentir nisso algo mais que não seja uma forma de viver a
aceitação de serviço aos outros. Claro que nem sempre é isso que vemos antes,
durante e depois das votações. Isso mesmo se constata na hora da avaliação dos
resultados: uns nunca perdem, outros tentam disfarçar as derrotas e outros
confundem as instâncias em votação… tentando colher frutos daquilo que não foi
plebiscitado… como podemos ver na noite do passado domingo, dia 25.
Ora,
neste contexto, a abstenção como que se torna uma espécie de cancro da
democracia, onde extirpá-lo poderá significar uma aposta na prevenção da doença
e não um mero placebo sem consequências práticas. Com efeito, a raiz da
abstenção pode estar na incompetência de tantos dos executantes da ‘sublime
arte da política’, que a têm vindo a tornar quase uma reles profissão de
oportunistas e carreiristas. Os ataques de malcriadez com que alguns se
confrontam – particularmente através da comunicação social – levam as pessoas a
rotular todos pela mesma medida… Repare-se como alguns – de áreas sociais, profissionais
e intelectuais – combatem as regalias dos políticos mais correm para elas como
esfomeados de longa duração… Senhores e senhoras, sejam dignos/as da confiança
dos outros ou retirem-se de vez dos palcos e palanques de sedução… senão da
ignorância!
= Cidadania com direitos e
deveres
Por
outro lado, temos de saber combater quem usa os lugares onde se apresenta com
menos dignidade e coerência para que não se crie confusão nos eleitores e isso
os possa desmotivar de ir votar. Com efeito, será credível apresentar-se à
eleição quem contesta o projeto que pretende servir? Que diríamos de um
candidato que deseje ser presidente de uma autarquia, mas o que pretende é
acabar com ela? Ou ainda de um pretenso deputado cujo objetivo seria servir
outro país que não aquele a que pertence?
Foi isto
que, alguns candidatos, ao Parlamento europeu venderam: desfazer a Europa, os
sinais da sua união e até tentando desmantelar a moeda que já é única numa boa
parte dos países membros. De fato, as ideologias ofuscam a racionalidade de
algumas pessoas… criando confusão e talvez abstenção. Com efeito, não se pode
ter, ao mesmo tempo, o projeto e a sua falência social, económica e política!
Haja sensatez intelectual!
A imensa
multidão de abstencionistas pode ser rotulada de muitas coisas. Criem-se, no
entanto, condições para que os eleitos tenham legitimidade mais garantida e
faça-se dos eleitores cidadãos com direitos e deveres pessoais e sociais
assumidos, garantidamente! A Europa da paz merece e agradece!...
António
Sílvio Couto
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