«A
admiração mútua gera respeito e cria maior admiração por quem amamos e nos
ama»!
Esta
frase, que li por estes dias, foi complementada com o que ouvi, num programa de
rádio (de âmbito nacional), em que andam à procura de situações nas pessoas queiram
(pelas mais diferentes e saudáveis razões) elogiar os outros… É verdade que não
consegui ainda ouvir nenhum desses programas, mas certamente tem sido um
sucesso… até porque o tema está associado a uma cadeia de grande distribuição
alimentar e continua a estar em antena!
Agora
que estamos prestes a viver em tempo de dinâmica quaresmal: onde é que elogio
rima com penitência? Como é que a conversão – atendendo às diversas tentações –
pode ser conjugada com o apreciar os outros positivamente? Não será que dizer a
verdade é uma outra forma de valorizar os outros e não servindo a maledicência?
Mesmo
que o tempo da quaresma não seja já uma oportunidade de estar só quarenta dias
– de 5 de março a 12 de abril – em contenção moral, em exercício espiritual e
(até) numa tensão de conversão espiritual… ele pode (e deve) ser comparado ao
tempo do ramadão islâmico, onde se pode sentir – ao menos de forma exterior – a
vivência das condições religiosas em espaço social e cultural. Muito mal estaremos
– como já aconteceu em França – se tivermos de dizer que ‘a quaresma é o
ramadão cristão’, pois isso nos faria perceber que eles – os muçulmanos – vivem
a sério o que nós, cristãos, vivemos numa espécie de faz-de-conta!
= Por que se tem (tanto) medo do
elogio?
É
caraterístico (quase) congénito do povo português desconfiar de quem e como
elogia, pois, na maior parte dos casos não passa duma espécie de adulação ou de
tentativa de conquistar o elogiado, embora sob alguma roupagem de falta de
verdade do elogiador. Neste sentido vemos, normalmente, com olhos de dúvida que
se faça o elogio de quem quer que seja, pois isso pode soar a oco e a
intriguismo.
Gera-se,
então, um clima de maledicência, onde o quanto pior (parece ser) melhor, mesmo
que o contrário fosse o mais verdadeiro. Olhemos a dimensão política com exemplos
da vida mais recente (ao tempo em que escrevemos… mas que facilmente surgirão
outros fatos quando isto for lido) do nosso ‘eu coletivo’:
- Quem ainda
está no governo quer fazer (sincera ou habilidosamente?) acordo para o tempo
após-troika… logo a desconfiança da oposição estende as garras, pois pode soar
a falso ou ser interesseiro… Como se, alguém que pretende ser alternativa de
governação, não deveria ser parte da solução e não só do problema, mesmo que
este possa ser – para já – uma questão de quem ocupa a cadeira do mando. Que
miopia esta de canapé, onde nem se é capaz de participar e muito menos de se comprometer
quem agora precisa de ajuda para (tentar) fazer melhor! Verdadeiramente o que temos
é gente sem qualidades de perceber a quem serve, mas antes se serve dos outros
para atingir os seus maquiavélicos interesses sem objetivos de serviço, embora
se insinue que tal deseja…só não sabemos é quando!
- Se
alguém pretende aceder – nem que seja na rotatividade ou alternância – ao poder
terá de saber aproveitar os momentos de participação, para que mais não seja,
quem for mais tarde votar, já perceba que as alternativas não são de promessa,
mas antes foram testadas com medidas adequadas e exequíveis, percebendo o que
lhes espera e não tendo de andar meses e anos a descobrir o significado das
coisas, desde o vocabulário até aos meandros das decisões. Ora não é isso que temos
visto por parte de quem aspira a ser primeiro, pois mais parece um aprendiz de
ilusionismo do que um governante (e equipa) com projetos. Tudo parece muito
feito em reação e não alicerçado em modelos sócio/políticos alternativos. Já
basta de ineptos a mandar. Também temos de saber dar tempo para desenvolver o
programa de quatro anos… Basta de cortar, ao fim de dois anos, o que se
pretendia desenvolver com sequência… e futuro, sendo, então, avaliado no devido
tempo.
Como
país temos muito a aprender no campo do elogio feito com sinceridade e
alicerçado na competência e não na adulação. Mais do que oportunistas
precisamos de cidadãos que sejam servidores do bem comum, colocando ao serviço
dos outros as qualidades recebidas numa atitude de bem-fazer e de fazer bem!
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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