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terça-feira, 4 de março de 2014

Aprender a elogiar…com verdade


«A admiração mútua gera respeito e cria maior admiração por quem amamos e nos ama»!

Esta frase, que li por estes dias, foi complementada com o que ouvi, num programa de rádio (de âmbito nacional), em que andam à procura de situações nas pessoas queiram (pelas mais diferentes e saudáveis razões) elogiar os outros… É verdade que não consegui ainda ouvir nenhum desses programas, mas certamente tem sido um sucesso… até porque o tema está associado a uma cadeia de grande distribuição alimentar e continua a estar em antena!

Agora que estamos prestes a viver em tempo de dinâmica quaresmal: onde é que elogio rima com penitência? Como é que a conversão – atendendo às diversas tentações – pode ser conjugada com o apreciar os outros positivamente? Não será que dizer a verdade é uma outra forma de valorizar os outros e não servindo a maledicência?

Mesmo que o tempo da quaresma não seja já uma oportunidade de estar só quarenta dias – de 5 de março a 12 de abril – em contenção moral, em exercício espiritual e (até) numa tensão de conversão espiritual… ele pode (e deve) ser comparado ao tempo do ramadão islâmico, onde se pode sentir – ao menos de forma exterior – a vivência das condições religiosas em espaço social e cultural. Muito mal estaremos – como já aconteceu em França – se tivermos de dizer que ‘a quaresma é o ramadão cristão’, pois isso nos faria perceber que eles – os muçulmanos – vivem a sério o que nós, cristãos, vivemos numa espécie de faz-de-conta!

= Por que se tem (tanto) medo do elogio?

É caraterístico (quase) congénito do povo português desconfiar de quem e como elogia, pois, na maior parte dos casos não passa duma espécie de adulação ou de tentativa de conquistar o elogiado, embora sob alguma roupagem de falta de verdade do elogiador. Neste sentido vemos, normalmente, com olhos de dúvida que se faça o elogio de quem quer que seja, pois isso pode soar a oco e a intriguismo.

Gera-se, então, um clima de maledicência, onde o quanto pior (parece ser) melhor, mesmo que o contrário fosse o mais verdadeiro. Olhemos a dimensão política com exemplos da vida mais recente (ao tempo em que escrevemos… mas que facilmente surgirão outros fatos quando isto for lido) do nosso ‘eu coletivo’:

- Quem ainda está no governo quer fazer (sincera ou habilidosamente?) acordo para o tempo após-troika… logo a desconfiança da oposição estende as garras, pois pode soar a falso ou ser interesseiro… Como se, alguém que pretende ser alternativa de governação, não deveria ser parte da solução e não só do problema, mesmo que este possa ser – para já – uma questão de quem ocupa a cadeira do mando. Que miopia esta de canapé, onde nem se é capaz de participar e muito menos de se comprometer quem agora precisa de ajuda para (tentar) fazer melhor! Verdadeiramente o que temos é gente sem qualidades de perceber a quem serve, mas antes se serve dos outros para atingir os seus maquiavélicos interesses sem objetivos de serviço, embora se insinue que tal deseja…só não sabemos é quando!

- Se alguém pretende aceder – nem que seja na rotatividade ou alternância – ao poder terá de saber aproveitar os momentos de participação, para que mais não seja, quem for mais tarde votar, já perceba que as alternativas não são de promessa, mas antes foram testadas com medidas adequadas e exequíveis, percebendo o que lhes espera e não tendo de andar meses e anos a descobrir o significado das coisas, desde o vocabulário até aos meandros das decisões. Ora não é isso que temos visto por parte de quem aspira a ser primeiro, pois mais parece um aprendiz de ilusionismo do que um governante (e equipa) com projetos. Tudo parece muito feito em reação e não alicerçado em modelos sócio/políticos alternativos. Já basta de ineptos a mandar. Também temos de saber dar tempo para desenvolver o programa de quatro anos… Basta de cortar, ao fim de dois anos, o que se pretendia desenvolver com sequência… e futuro, sendo, então, avaliado no devido tempo.

Como país temos muito a aprender no campo do elogio feito com sinceridade e alicerçado na competência e não na adulação. Mais do que oportunistas precisamos de cidadãos que sejam servidores do bem comum, colocando ao serviço dos outros as qualidades recebidas numa atitude de bem-fazer e de fazer bem!

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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