Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



quinta-feira, 13 de março de 2014

Entre José e Francisco… a nossa caminhada


Um faleceu na véspera em que o outro celebrava o primeiro ano de funções: D. José Policarpo morreu, com 78 anos, no dia 12 de março e o Papa Francisco celebrou o primeiro ano de ministério petrino no dia 13 deste mês. O primeiro esteve mesmo na eleição do segundo há um ano atrás e agora vivemos todos numa atitude de interpelação à nossa caminhada em tempo de quaresma.

Para mim tudo isto acontece num contexto de retiro anual e, com muito maior razão, estes momentos servem de reflexão sobre a nossa vida nos mais diversos aspetos em que ela se desenrola…
 

- Na casa de retiro onde estou – quando escrevo esta partilha – está uma bonita tapeçaria que tem inscrito o lema de episcopado do defunto Patriarca: ‘per obedientiam ad libertatem’ (da obediência à liberdade)…até porque foi na vigência do seu pontificado que este edifício – como tantos outros – foi erigido, como sinal de uma das facetas de D. José no diálogo entre a fé e a cultura, tanto na dimensão cristã como humanista.

Agora – como acontece quando alguém morre – tecem-se elogios, rasgam-se encómios e recordam-se etapas de proximidade com quem vemos anteceder-nos na partida. Quantas pessoas irão recordar o bem que Deus fez através de D. José. De quantas formas Deus se serviu para Se comunicar através dele. Quanto bem pode ter sido feito porque ele procurou ser fiel a Deus na Igreja, pela Igreja e com a Igreja…

A história de cada pessoa está cheia de sinais de Deus. A vida de cada pessoa tece-se com imensos fios de grandeza e entrecruza-se com linhas de pequenez. Cada um de nós pode e deve sentir-se grato ao Deus da vida e fazer com que a sua existência – longa ou breve – seja um hino de bênção do amor de Deus em cada etapa da nossa caminhada de fé, em esperança e pela caridade.

- ‘Da surpresa à interrogação’ como que poderá ser a caraterização do primeiro do ministério do Papa Francisco na condução da Igreja católica. Vindo do outro lado do mundo, Francisco criou um novo estilo, disse coisas que nem todos estavam à espera, gerou sinergias que o mundo (laico, indiferente e acristão) não previa. Digamos que o Papa Francisco colocou muitas das questões da fé num nível quase inesperado, trazendo à liça problemas que andavam em surdina e provocando temas que pareciam (quase) perdidos para a iluminação do Evangelho.

Homem do inesperado – bem diferente do mero improvisado – o Papa Francisco tornou-se um fenómeno de estudo, pois saiu do (quase) anonimato para ser uma das figuras mais marcantes na história do mundo atual. Quando anteriormente – como dizia há dias alguém – o Papa falava e se mudava logo de canal, agora, se é o Papa Francisco que diz, atende-se ao que está proferir ou pretende apresentar: ele tem, de verdade, a terna e eterna novidade do Evangelho de Jesus Cristo.


= Quais podem ser, então, os desafios, destas figuras de Deus na Igreja, que nos são colocados? Como devemos ler e interpretar as suas palavras e gestos? Onde está a linguagem de Deus a querermos conduzir, hoje?


. Desde logo mais do que loas a quem parte, temos de dar graças pelo que dele recebemos, seja nas qualidades, seja mesmo nos possíveis defeitos… e não nos estamos a reduzir ao patriarca emérito falecido. Todos somos suscetíveis de conversão, tanto mais que estamos em dinâmica quaresmal… rumo à Páscoa de Cristo. Conhecer-se é reconhecer-se digno diante de Deus e humilde perante os homens em cada tempo.

. Somos instrumentos de Deus para louvor da sua glória, deste modo, só aferindo a nossa caminhada ao Cristo do Evangelho poderemos ser instrumentos da ação de Deus em nós e d’Ele através de nós. Queremos e acreditamos que, na medida da luz de Cristo e na fidelidade ao Espírito Santo, poderemos construir um mundo mais irmanado nas possibilidades de bom convívio, de salutar fraternidade e de atenta comunhão, tanto nas alegrias como nas amarguras.
 
A memória de quem partiu merece, o ministério de quem serve se engrandece.
       

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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