Um
faleceu na véspera em que o outro celebrava o primeiro ano de funções: D. José
Policarpo morreu, com 78 anos, no dia 12 de março e o Papa Francisco celebrou o
primeiro ano de ministério petrino no dia 13 deste mês. O primeiro esteve mesmo
na eleição do segundo há um ano atrás e agora vivemos todos numa atitude de
interpelação à nossa caminhada em tempo de quaresma.
Para mim
tudo isto acontece num contexto de retiro anual e, com muito maior razão, estes
momentos servem de reflexão sobre a nossa vida nos mais diversos aspetos em que
ela se desenrola…
- Na
casa de retiro onde estou – quando escrevo esta partilha – está uma bonita
tapeçaria que tem inscrito o lema de episcopado do defunto Patriarca: ‘per obedientiam
ad libertatem’ (da obediência à liberdade)…até porque foi na vigência do seu
pontificado que este edifício – como tantos outros – foi erigido, como sinal de
uma das facetas de D. José no diálogo entre a fé e a cultura, tanto na dimensão
cristã como humanista.
Agora –
como acontece quando alguém morre – tecem-se elogios, rasgam-se encómios e
recordam-se etapas de proximidade com quem vemos anteceder-nos na partida.
Quantas pessoas irão recordar o bem que Deus fez através de D. José. De quantas
formas Deus se serviu para Se comunicar através dele. Quanto bem pode ter sido
feito porque ele procurou ser fiel a Deus na Igreja, pela Igreja e com a Igreja…
A
história de cada pessoa está cheia de sinais de Deus. A vida de cada pessoa
tece-se com imensos fios de grandeza e entrecruza-se com linhas de pequenez.
Cada um de nós pode e deve sentir-se grato ao Deus da vida e fazer com que a
sua existência – longa ou breve – seja um hino de bênção do amor de Deus em
cada etapa da nossa caminhada de fé, em esperança e pela caridade.
- ‘Da
surpresa à interrogação’ como que poderá ser a caraterização do primeiro do
ministério do Papa Francisco na condução da Igreja católica. Vindo do outro
lado do mundo, Francisco criou um novo estilo, disse coisas que nem todos
estavam à espera, gerou sinergias que o mundo (laico, indiferente e acristão)
não previa. Digamos que o Papa Francisco colocou muitas das questões da fé num
nível quase inesperado, trazendo à liça problemas que andavam em surdina e
provocando temas que pareciam (quase) perdidos para a iluminação do Evangelho.
Homem do
inesperado – bem diferente do mero improvisado – o Papa Francisco tornou-se um
fenómeno de estudo, pois saiu do (quase) anonimato para ser uma das figuras
mais marcantes na história do mundo atual. Quando anteriormente – como dizia há
dias alguém – o Papa falava e se mudava logo de canal, agora, se é o Papa
Francisco que diz, atende-se ao que está proferir ou pretende apresentar: ele
tem, de verdade, a terna e eterna novidade do Evangelho de Jesus Cristo.
= Quais podem ser, então, os desafios, destas
figuras de Deus na Igreja, que nos são colocados? Como devemos ler e
interpretar as suas palavras e gestos? Onde está a linguagem de Deus a
querermos conduzir, hoje?
. Desde
logo mais do que loas a quem parte, temos de dar graças pelo que dele
recebemos, seja nas qualidades, seja mesmo nos possíveis defeitos… e não nos
estamos a reduzir ao patriarca emérito falecido. Todos somos suscetíveis de
conversão, tanto mais que estamos em dinâmica quaresmal… rumo à Páscoa de
Cristo. Conhecer-se é reconhecer-se digno diante de Deus e humilde perante os
homens em cada tempo.
. Somos
instrumentos de Deus para louvor da sua glória, deste modo, só aferindo a nossa
caminhada ao Cristo do Evangelho poderemos ser instrumentos da ação de Deus em
nós e d’Ele através de nós. Queremos e acreditamos que, na medida da luz de
Cristo e na fidelidade ao Espírito Santo, poderemos construir um mundo mais
irmanado nas possibilidades de bom convívio, de salutar fraternidade e de atenta
comunhão, tanto nas alegrias como nas amarguras.
A
memória de quem partiu merece, o ministério de quem serve se engrandece.
António
Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
Sem comentários:
Enviar um comentário