Dei
comigo a refletir sobre uma palavra, que tem tanto de simples quanto de
complexa: paciência. As pessoas dizem-se sem paciência. Os mais velhos perderam
a paciência para com os novos. Estes, não o dizem, mas comportam-se como tal:
sem paciência para com os mais velhos.
Que
será, então, a paciência? Como podemos aferir que a temos? Em que
circunstâncias a manifestamos, pela positiva ou negativamente? Antes de tudo
‘paciência’ pode decompor-se em ‘ciência’ da ‘paz’… isto é, ‘ciência da paz’.
Creio que é isso que estou a precisar, mas também poderá ser isso que a pode
alimentar a viver as provações que tem estado a viver… sobretudo na sua
condição mais recente. Muitas vezes entendemos a ‘paciência’ como uma espécie
de resignação, de desistência, de deixar correr… Mas ‘paciência’ é ativa na
caridade, na fé e na esperança, pois nos faz viver no amor, na confiança e em
atitude positiva em Deus e uns para com os outros. Sobretudo, a paciência é
fruto do Espírito Santo… em nós.
De fato,
há várias modalidades de paciência: a de Deus, a dos outros e aquela para
connosco mesmos… Outras formas poderemos encontrar para falar desta
caraterística dos nossos dias: a impaciência, manifestada em tantos e diversos
momentos e situações.
- Paciência para connosco
Esta
faceta da paciência é muito mais difícil do que possa parecer, pois exige de
nós mesmos conhecimento, aceitação e maturidade. Conhecer a si mesmo é exigente
e traz, por vezes, ligados aspetos de vida nem sempre fáceis de digerir,
sobretudo quando isso tem ligado aspetos de sofrimento. A aceitação com
paciência tem ligação a tudo quanto (positivo ou negativo) se viveu no passado,
com a própria história pessoal e familiar e outros aspetos nem sempre fáceis de
enquadrar, hoje. A maturidade que a paciência revela e faz crescer em maior
maturidade ainda pode nem ter a ver só com a idade, mas com a disposição em
enquadrar o que se vive no presente, numa abertura à sensibilidade de Deus no
futuro. Digamos que a paciência para connosco mesmos tem ligação ao abandono à
Providência divina, nem sempre fácil de viver numa época tão marcada pela
pressa, pela superficialidade e pelo consumismo.
Esta
vertente da paciência leva-nos a compreender nos outros o que nos custa a nós a
viver, sendo mais exigentes para connosco e compreensivos para as debilidades e
dificuldades dos outros. Quantas vezes os erros que apontamos aos outros mais
não são do que os nossos próprios defeitos. Por isso, se sabemos o que nos
custa corrigir-nos também nos fará ter paciência para com os outros sejam eles
os mais próximos ou os que connosco se cruzam ocasionalmente. Como seria
diferente o nosso espaço e o ambiente em que vivemos e existimos, se fossemos
mais compreensivos e pacientes uns para com os outros.
- Paciência de Deus… e (até) para
com Deus
Como
dizia recentemente o Papa Francisco: «a paciência de uma pessoa adulta [perante
as provações], a paciência de Deus que nos carrega aos ombros é a paciência do
povo». Com efeito, Deus é tão paciente para connosco, pois dando-nos tantos
dons e graças, bênçãos e benefícios… mesmo sem os merecermos, continua à espera
que correspondamos a tudo quanto Ele nos concede com misericórdia e amor.
Não será
uma heresia dizer: ‘temos de ter paciência para com Deus’? Por certo se
levarmos à letra que somos nós que devemos compreender o que Deus quer e não que
seja Ele a entender o que nós queremos. No entanto, há tantas vezes que temos
de pedir a paciência de Deus para entrarmos na lógica do que Ele quer, pois o
seu tempo não é o nosso e os nossos critérios estão tantas vezes desfasados dos
Seus. Deste modo podemos e devemos aprender a viver segundo do fruto do
Espírito Santo, manifestado na paciência.
Na
medida em que formos aprendendo a arte da paz – paciência – seremos capazes de
construir a paz em nós mesmos, com os outros, porque a recebemos de Deus, que
nos pacifica e faz caminhar na paciência… neste mundo conturbado, barulhento e
perplexo.
António
Sílvio Couto
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