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quarta-feira, 3 de julho de 2013

Filhos obrigados a visitar os pais

Por estes dias entrou em vigor, na China, uma lei que obriga os filhos a visitar os pais idosos. Esta legislação designada ‘Direitos dos idosos’ prevê a responsabilização dos filhos adultos para com os pais, tentando, desta forma, combater o abandono destes por aqueles e, caso tal aconteça, estão previstas multas e até, em casos extremos, penas de prisão.
A título de informação poderemos dizer que, na China, há duzentos milhões de pessoas com mais de sessenta anos e que, na próxima década e meia, o número duplicará.
Desde já queremos colocar algumas questões sobre a nossa condição e conduta (à) portuguesa nesta matéria também suficientemente importante no nosso contexto sócio-economico-espiritual: Estaríamos capazes de aceitar idêntica legislação? Como está a nossa sensibilidade para com os mais velhos? Será que os mais velhos terão investido o suficiente na humanização das relações com os seus vindouros? Até onde vai a capacidade de compreensão para com os mais velhos sem sacrificar os mais novos? Vendo doutra perspectiva: como será o relacionamento dos mais novos com os mais velhos se estes os depositaram, desde tenra idade, em experiências humanas, mas um tanto desumanizadas? Agora que o berçário, a creche e o jardim-de-infância são (pretensa) solução na idade activa o que será vir a ser cuidado por alguém que viveu isso, quando chegar à idade menos produtiva?
Estas questões podem parece teóricas ou um tanto desconexas com a realidade, mas pela vivência que termos – enquanto trabalho social de Igreja – com mais de meia centena de velhos – termo bonito e adequado para designar uma etapa de vida à qual nem todos sabemos se chegaremos – ao nosso cuidado, parece-nos que devemos reflectir sobre este assunto, tendo em conta os valores cristãos e a sua concretização em matéria de acção humana, espiritual e cristã/católica.
= Sensibilidade para com os mais velhos – numa época histórica e social em que a faixa dos que têm mais de sessenta/setenta anos cresceu de forma galopante, temos de encontrar um método de valorizar o conhecimento de vida destes que já foram designados de seniores, gerando e gerindo iniciativas que captem a sua experiência e não tentem fazer deles quais novas crianças a quem (quase) tudo se promete e pouco se lhes concede... embora lhe vão encurtando as reformas com que ainda tentam auxiliar os parcos recursos dos filhos e gerir os proventos de uma vida de sacrifícios e de trabalhos.
= Diálogo de gerações com respeito e em inter-comunhão – quando a geração dos filhos trabalha, a dos avós cuida dos netos, embora tornando estes uma espécie amada e caprichosa, pois vivem entre fogos de interesses e, nalguns casos, de dificuldade em conciliar a vida profissional com a vida familiar... podendo os avós tornarem-se como que pais a destempo por falta de paciência e de idade e os filhos avós por antecipação... mas mal preparados porque não amadurecidos pelas agruras naturais da vida.
= União ou concorrência entre infantário e lar (asilo) – atendendo à mudança terminológica cada um dos antigos utentes – tanto da fase de infância como da etapa final da velhice – passou a ser chamado pelas estruturas responsáveis do Estado de ‘clientes’, numa aferição numérica e pouco personalizada... onde se procuram inventar soluções, quando a resolução do problema está na linguagem do coração e não nas mais acomodadas perspectivas de conforto material... depreciando a dimensão espiritual e mesmo a psicológica. Não deixa de ser inquietante que muitos dos nossos mais velhos têm sido colocados em espaços que deles cuidam a peso de ouro, embora se tenham esforçado por darem a seu pais outras condições, que não a frieza e desconforto de sairem do seu ambiente. Que dizer dos filhos dos que foram educados na massa do infantário e fora do seu habitat familiar? E nem se julgue que os mais velhos – por estarem em tal estado e com a saúde enfraquecida – não sofrem, só que não entendemos, suficientemente, o que eles nos querem dizer!

Quanta gente seria multada em razão do abandono dos seus mais velhos!... Cumpra-se a lei... natural!

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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