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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Profetas da caridade, precisa-se!




As virtudes teologais [da fé e da caridade] «estão intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialética». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o caráter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o ativismo moralista».

Diz-nos o Papa Bento XVI na sua mensagem para a Quaresma deste ano, intitulada: ‘Crer na caridade suscita caridade’.

À luz desta mensagem papal respigaremos alguns excertos, tentando dar-lhes conteúdo em ordem a viver como momento de fundamental importância a caminhada da quaresma de 2013.

= Evangelização: obra de caridade

Por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra»’.

Quando vemos tantas sugestões de humanitarismo sob a capa de solidariedade e com inúmeros intervenientes a fazerem da ajuda que prestam uma espécie de prolongamento do seu egoísmo, este pensamento do Papa traz-nos arrepios sobre certas iniciativas filantrópicas desfasadas do bem dos outros. Com efeito, vão surgindo intervenções – pessoais ou de grupos, ocasionais ou organizadas – que parece que mais não fazem dos beneficiados do que gente presa pela boca – numa espécie de política de anzol! – em vez de lhes darem capacidade para serem pessoas com asas, com critérios e com projectos de conduta... para o futuro, sendo capazes de agradecer, mas não de pedinchar... continuamente.

- Precisamos de profetas – isto é, ‘boca de Deus’ – que sejam capazes de dar o pão de cada dia porque foram capazes de descobrir que temos um Pai comum, que nos faz estar atentos aos outros, socorrendo-os e alimentando-os com o Pão da Palavra e com o Pão para o corpo...

- Precisamos de profetas que tenham fé adulta para saberem distinguir entre quem é necessitado ou quem é oportunista... mesmo que aviltando-se na sua dignidade, mas sem qualidade humana e moral.

- Precisamos de profetas de boca limpa, de mãos sujas e de espírito aberto para serem capazes de dizer a mensagem do Evangelho, de saber conhecer os problemas e de resolvê-los, tendo capacidade de discernir onde está a verdade ou por onde passa o disfarce... seja ele de quem quer que seja!

= Evangelização: promoção integral da pessoa humana

Não há acção mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana’.

A fome não tem religião: é verdade; mas não é menos verdade que, se não fosse a religião – seja qual for a sua denominação! – haveria muita mais fome... no mundo e, em particular, em Portugal! De facto, as grandes religiões têm nos seus princípios fundamentais e fundacionais o dever de assistência aos mais desfavorecidos, seja pela prática da esmola, seja pela atitude de assistência nos momentos de maior debilidade... dos outros.

Valerá a pena lembrar a troca de palavras entre Madre Teresa de Calcutá e um jornalista que lhe dizia: ‘eu não seria capaz de tratar de um leproso nem que fosse por um milhão de dólares’. Ao que Madre Teresa respondeu: ‘nem eu... mas por amor faço isso e muito mais’!

Muito mal irá qualquer acção sócio-caritativa que não seja capaz de fazer de cada usufrutuário – há quem lhe chame agora ‘cliente’ – um intérprete activo da sua história, sacudindo as peias do assistencialismo e ganhando interesse pela sua valorização cultural.

Terminamos acentuando os votos com que o Papa Bento XVI conclui a sua mensagem quaresmal: ‘neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida’.

Mostremos pela caridade a força da fé, que procuramos viver em Igreja católica!


António Sílvio Couto

(asilviocouto@gmail.com)

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