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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Santos e pecadores, hoje como ontem!


Neste tempo da Quaresma temos sido surpreendidos por factos e por episódios, por personagens e por figuras, por sinais e por perguntas... que são, no mínimo, inquietantes e provocadoras da nossa fé... mesmo que ela seja suficientemente apurada e amadurecida, tanto pelo conhecimento teológico como pela experiência de Deus em nós, na Igreja, neste mundo e neste tempo.

- Repentina, mas profeticamente, o Papa Bento XVI anunciou a sua renúncia ao exercício do ministério de Pedro. Fê-lo em conformidade com o parágrafo segundo do cânone 332 do Código de Direito Canónico. O dia do anúncio foi escolhido – dia mundial do doente – e a data de concretização ponderada (28 de fevereiro) ao meio da caminhada quaresmal, por forma de ainda ser dado tempo de escolha para o próximo Sumo Pontífice antes da Páscoa. Tudo e todos ficaram estupefactos. Bento XVI fala por sinais... qual profeta dos tempos antigos, mas agora em linguagem actualizada e, porque não dizê-lo, escandalosa para o mundo ávido de protagonismo e de poder.

- Sem que tal o fizesse esperar lançou-se na lama quem ocupava altos cargos no episcopado. Qual a razão? Há causas? Quais as consequências? Que juízos se podem conjecturar? Onde está a verdade: agora, antes ou depois? Na visão eclesial valerá tudo para atingir certos fins? Na visão do mundo ver-se-á diferença de comportamentos e de éticas? Onde estão os amigos de antanho? Poder-se-á dizer que tudo o que se diz vale sem fazer ricochete? Afinal, ao espelho da consciência, fica-nos a confiança no perdão misericordioso de Deus, ontem como hoje e amanhã... embora o mundo nem sempre perdoe e quase nunca esqueça... ao menos até que surjam outros factos, episódios e personagens! Coincidência (ou não) a notícia começou a correr mundo e a provocar reacções no dia em que se celebrava a festa litúrgica dos pastorinhos de Fátima!

- Por estes dias várias dioceses e até o episcopado português vivem tempos de retiro... quaresmal anual. É assim, normalmente, em cada quaresma. De pouco importa quem prega, pois só serve de ajuda, mas quem reza tem de o fazer de forma pessoal diante de Deus e da sua consciência... num crescimento pessoal, comunitário e eclesial. Criar dimensão – ou será antes consciência assumida? – de presbitério é uma oportunidade em ocasiões como esta do retiro anual. No entanto, quando vemos proliferar tantos nichos de espiritualidades, ainda estaremos a tempo de reconstruir, comunitariamente, a Igreja, começando pelo clero? Decorridos cinquenta anos do Concílio Vaticano II estaremos no espírito ou já perdemos a letra dos documentos então exarados? Humildade e espírito fraterno, precisam-se como pão para a boca...

Em jeito de sugestão deixamos breves pinceladas – não serão as mais importantes, mas antes um tanto ‘novas’ – do retiro que pregou um padre carmelita ao clero de Setúbal, na primeira semana da Quaresma:

. Somos homens de Deus entre os homens;

. Temos de saber conciliar a samaritana com o samaritano;

. Os sacerdotes são chamados a viver o celibato em fraternidade;

. Seguir a Cristo-sacerdote não comporta a dissecação do coração;

. O sacerdote não é feito para ser santo, mas para se pôr ao serviço de Jesus;

. O problema não se põe em estar com Jesus, mas em andar com Ele;

. O maior pecado é não corresponder ao amor misericordioso de Deus;

. O pecador é um carente afectivo, um carente de amor... não tem amor porque não é capaz de amar;

. Converter-nos do ‘eu’ ao ‘tu’... ganhar a vida, perdendo-a;

. Fazer a experiência do Deus comunitário.


Em condição de peregrinos vivemos a santidade, mesmo que pequemos, pois, em Jesus e pela Igreja, seremos perdoados.



António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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