Neste
tempo da Quaresma temos sido surpreendidos por factos e por
episódios, por personagens e por figuras, por sinais e por
perguntas... que são, no mínimo, inquietantes e provocadoras da
nossa fé... mesmo que ela seja suficientemente apurada e
amadurecida, tanto pelo conhecimento teológico como pela experiência
de Deus em nós, na Igreja, neste mundo e neste tempo.
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Repentina, mas profeticamente, o Papa Bento XVI anunciou a sua
renúncia ao exercício do ministério de Pedro. Fê-lo em
conformidade com o parágrafo segundo do cânone 332 do Código de
Direito Canónico. O dia do anúncio foi escolhido – dia mundial do
doente – e a data de concretização ponderada (28 de fevereiro) ao
meio da caminhada quaresmal, por forma de ainda ser dado tempo de
escolha para o próximo Sumo Pontífice antes da Páscoa. Tudo e
todos ficaram estupefactos. Bento XVI fala por sinais... qual profeta
dos tempos antigos, mas agora em linguagem actualizada e, porque não
dizê-lo, escandalosa para o mundo ávido de protagonismo e de poder.
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Sem que tal o fizesse esperar lançou-se na lama quem ocupava altos
cargos no episcopado. Qual a razão? Há causas? Quais as
consequências? Que juízos se podem conjecturar? Onde está a
verdade: agora, antes ou depois? Na visão eclesial valerá tudo para
atingir certos fins? Na visão do mundo ver-se-á diferença de
comportamentos e de éticas? Onde estão os amigos de antanho?
Poder-se-á dizer que tudo o que se diz vale sem fazer ricochete?
Afinal, ao espelho da consciência, fica-nos a confiança no perdão
misericordioso de Deus, ontem como hoje e amanhã... embora o mundo
nem sempre perdoe e quase nunca esqueça... ao menos até que surjam
outros factos, episódios e personagens! Coincidência (ou não) a
notícia começou a correr mundo e a provocar reacções no dia em
que se celebrava a festa litúrgica dos pastorinhos de Fátima!
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Por estes dias várias dioceses e até o episcopado português vivem
tempos de retiro... quaresmal anual. É assim, normalmente, em cada
quaresma. De pouco importa quem prega, pois só serve de ajuda, mas
quem reza tem de o fazer de forma pessoal diante de Deus e da sua
consciência... num crescimento pessoal, comunitário e eclesial.
Criar dimensão – ou será antes consciência assumida? – de
presbitério é uma oportunidade em ocasiões como esta do retiro
anual. No entanto, quando vemos proliferar tantos nichos de
espiritualidades, ainda estaremos a tempo de reconstruir,
comunitariamente, a Igreja, começando pelo clero? Decorridos
cinquenta anos do Concílio Vaticano II estaremos no espírito ou já
perdemos a letra dos documentos então exarados? Humildade e
espírito fraterno, precisam-se como pão para a boca...
Em
jeito de sugestão deixamos breves pinceladas – não serão as mais
importantes, mas antes um tanto ‘novas’ – do retiro que pregou
um padre carmelita ao clero de Setúbal, na primeira semana da
Quaresma:
.
Somos homens de Deus entre os homens;
. Temos de
saber conciliar a samaritana com o samaritano;
.
Os sacerdotes são chamados a viver o celibato em fraternidade;
. Seguir a
Cristo-sacerdote não comporta a dissecação do coração;
. O
sacerdote não é feito para ser santo, mas para se pôr ao serviço
de Jesus;
. O
problema não se põe em estar com Jesus, mas em andar com Ele;
. O maior
pecado é não corresponder ao amor misericordioso de Deus;
. O
pecador é um carente afectivo, um carente de amor... não tem amor
porque não é capaz de amar;
.
Converter-nos do ‘eu’ ao ‘tu’... ganhar a vida, perdendo-a;
. Fazer a
experiência do Deus comunitário.
Em
condição de peregrinos vivemos a santidade, mesmo que pequemos,
pois, em Jesus e pela Igreja, seremos perdoados.
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