Num tempo eivado de
múltiplas notícias – onde umas são factos e tantas outras surgem de meros
episódios, há quem lhes chame de ‘não-factos’ – somos continuamente desafiados
a ver como é a coerência entre as palavras e o comportamento – tanto do nosso
como o dos outros – num quadro de vivência colectiva... mais ou menos
(re)conhecida.
Atendendo a que por
trás de cada facto está alguém – com perfil aceite e/ou reconhecido –
tentaremos – para evitar tocar em melindres e com isso provocar resposta de
‘ofendidos’! – dizer das acções ainda que não descriminando (totalmente) os
intervenientes.
= Quando se fazem
campanhas em defesa de um certo cão – provocador da morte de uma criança – com
milhares de proponentes... até onde irá caminhar a degradação da nossa condição
humana?. Vida de criança e vida cão não têm – assim cremos! – comparação. Mas,
se do canídeo todos sabem o nome, como poderemos acreditar na salvaguarda da
nossa condição humana, se a criança (já sepultada) se reduz a um simples
número! ‘Animal’ vale mais do que humano? Quantas vezes a defesa de redutos
animais têm custado o adiamento de obras públicas! Quantas vezes o simples
azedar de razões faz com que se cuide mais dos animais do que dos direitos dos
humanos! Quantas vezes certos vegetarianos de fachada guerreiam para que os
seus pontos de vista se sobreponham aos deveres para com os humanos mais
simples e marginalizados!
= Centenas de pessoas
vão, diariamente, ao hospital... público ou privado, sob taxas moderadoras ou
com taxas já cobradas... em idade mais nova ou na senectude...com problemas
habituais ou em momentos ocasionais. Ora, por estes dias, um senhor de provecta
idade da nossa praça política teve de recorrer à assistência hospitalar.
Politicamente – tanto quanto se sabe da sua ideologia – deveria servir-se do
sistema nacional de saúde – que criou, patrocinou e, teoricamente, defendeu –
embora – pela capacidade e pelos recursos económicos que deve possuir, tal como
as influências que move – possa ir aos serviços do privado. Como se pode
classificar quem conteste a solução – do paciente e do seu (anterior!) projecto
político – onde aquilo que se diz até parece estar um tanto desfazado do que se
faz? Será de cobarde porque se explora o (‘pobre’) necessitado ou de
incongruente porque não se segue aquilo que apresenta aos outros? Como se pode
viver a exigir aos outros e se é mais tolerante quando isso nos atinge... nem
que seja aos mais próximos? Até onde irá a lógica de regime se o regime falha e
os seus utentes estão descapitalizados?
= Repetidamente se
diz que o país está em crise e que as pessoas têm dificuldade em prover às suas
necessidades essenciais. Há campanhas de ajuda, tendo as mais diversificadas
intenções, intervenientes e beneficiários. No entanto, quando se fala de
futebol, as coisas mudam de cenário... sobretudo se estão em contendas emblemas
rivais – sejam do espectro desportivo, sejam da área sócio-regional ou ainda
dos interesses mais ou menos explorados em maré de crise – e se faz dum jogo
uma questão de honra... Quem viu a multidão dos especetadores a sair do estádio
onde se deu a recente resfrega dos principais competidores do campeonato de
futebol terá ficado com dúvidas: mais de sessenta mil – o custo do jogo
(viagens, bilhete, comes-e-bebes, etc.) nunca terá andado abaixo dos cem euros
– não estão a passar mal, pois ali não se entra sem dinheiro em caixa!... Há
imensos interesses em causa, por isso um jogo desta natureza serve de alienação
para quem do povo se serve, ao menos, explorando as (suas) paixões
clubísticas... Os adversários ainda estão conscientes na hora de dirimirem os
lances (mais ou menos) polémicos? Nem sempre a racionalidade tem espaço nas
questões desportivas... pois, por muito poucos erros que se cometam, com
dificuldade as pessoas os assumem... ontem como hoje!
Outros tantos sinais de (in)congruência se praticam,
embora poucos os assumam, os (re)conheçam e tanto pouco o tentem corrigir!
Coerência a quanto obrigas!
António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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