É
recorrente ouvirmos, em Portugal, que a sacrificada com as medidas de
austeridade é a ‘classe média’, que está a ser esmagada com impostos, que está
a ser atingida nas suas diversas vertentes, que está em risco, que está quase a
desaparecer....
Mas,
afinal, que é isso de ‘classe média’? Quais são os critérios e as componentes
para a definirmos? Quem faz parte dessa ‘classe média’? Quem são os promotores
e os (possíveis) detractores da dita ‘classe média’? Como se entra ou como se
sai da (possível) ‘classe média’?
- O
que é a classe média?
Na Wikipédia apresenta-se a seguinte definição de classe
média: «é uma classe social presente no capitalismo moderno que se convencionou
tratar como possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de vida e de consumo razoáveis, de forma a não apenas suprir suas necessidades de sobrevivência
como também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura, embora sem chegar aos padrões
de consumo eventualmente considerados exagerados das classes superiores. A
classe média surgiu como uma consequência da consolidação do capitalismo e não antes dele devido aos fatores de segmentação
social em camadas, resultantes do desenvolvimento económico; é um fenómeno
típico da industrialização».
- Quem faz parte da classe média
portugesa?
Em
Portugal é considerado pertencer à classe média quem, ao nível do agregado familiar,
tenha dois mil euros mensais de rendimentos. Se atendermos à vertente
individual poderá ser considerado da classe média quem – mesmo no setor privado
– ganhe cerca de setecentos euros mensais... Isto parece significar cerca de
metade da população nacional!
- Certos critérios de pertença...
à classe média
Pode
intuir-se que os critérios de pertença à classe média são, sobretudo, os de
natureza económica, incluindo tanto o fruto do trabalho como os manifestos rendimentos.
Com base na definição descritiva supra citada poderemos ainda perceber que a
capacidade de consumo tem uma larga afetação para se ser incluído ou excluído
da (dita) classe média.
Ora, como
emanação do capitalismo – que nem o socialismo e tão pouco o comunismo
conseguiram debelar, antes parece que cuidaram em acentuar para uma acentuada e
complexa estratificação social – a classe média é vítima e culpada de si mesma,
isto é, alimenta e é explorada por quem dela se apropria ou a promove... para
atingir os seus fins nem sempre claros nem honestos...
- Para um nível cultural mais do
que (só) económico
Atendendo
às contínuas referências para com a classe média, onde os valores económicos se
sobrepujam, na maior parte das vezes, aos valores culturais e éticos (morais,
psicológicos e espirituais) será de questionar como poderá esta franja – tão
envolvente quão anódina – da população portuguesa ser valorizada mais pelo que
é do que por aquilo que possuiu ou ambiciona possuir.
Muitos
dos filhos, cujos pais eram/são da classe média – do operariado e de serviços
públicos – já estão mais escolarizados, anseiando outros espaços de trabalho profissional
e, na maior parte dos casos, até se deslocaram do local de nascimento – rural
ou semi-industrial – para espaços urbanos ou para metrópoles com maior
capacidade reivindicativa... Cresceu a capacidade e/ou obrigação de saber a
razão de ser das coisas.
Temos
hoje novas ferramentas para evoluirmos na avaliação dos fatos e dos momentos de
afirmação dos que foram crescendo com sangue, com suor e (até) com lágrimas.
Cada vez mais precisamos de saber enquadrar o nosso passado, numa adequada
linguagem do presente e em crescente abertura ao futuro!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário