Aparentemente estas três palavras
não têm imediata relação, mas podem servir-nos para responder a breves
questões: quem sou? Como interpreto a crise? Vivo as oportunidades de festa?
Aceito-me e tento compreender os outros? Vivo na frugalidade assumida ou
rezingando da austeridade imposta? Faço e sei fazer festa ou preciso de aditivos
para conseguir festejar com ilusão?
1. Se andarmos um pouco mais
atentos nas ruas àqueles/as com quem nos cruzamos, se nos detivermos um bocado
observando os outros nos seus gestos e atitudes, se nos olharmos até ao espelho
(objeto de revisão e descoberta do sentido da vida), poderemos encontrar – e
mesmo encontrar-nos – com uma espécie de identidade que nem sempre manifesta um
bom relacionamento consigo mesmo... dizemos isto na fundamentação da (nossa)
identidade mais profunda: seremos, de fato, felizes, tal como somos mais do que
por aquilo que temos ou desejamos possuir? Será que a busca da felicidade está
em ser ou meramente em receber?
Por muito que se busque a
felicidade nos outros, se ela não estiver em nós mesmos porque nos aceitamos
como somos, de verdade, nunca teremos nem seremos pessoas felizes nem que dão
felicidade aos demais. Não podemos andar a buscar nos outros compensações para
as nossas debilidades e incongruências.
2. Efetivamente a situação de
‘crise’ veio pôr a nu muito daquilo que se andava a encobrir, isto é, deixou-se
de poder ‘fazer de conta’, como se todos fossemos ricos, para que haja (um
tanto mais) verdade uns para com os outros e, sobretudo, cada um para consigo
mesmo...
Mesmo assim, aproveitando as
circunstâncias de lamúria, ainda há quem passe férias como se não houvesse
crise; quem faça alarido dos locais que frequenta – o facebook é o melhor
estendal! – como que nada tivesse acontecido de menos gravoso; quem se tente
iludir com aquilo que já viveu, como se isso lhe desse estatuto de
invulnerabilidade... social e psicológica.
Num arranjo de pormenores – que
nem sempre funcionam como desculpa, antes podem servir de agravo – vemos tanta
gente a fugir da própria sombra, como se a fuga trouxesse a assumpção das
responsabilidades... económicas, sociais, morais, tanto pessoais como
familiares... A verdade tem perna longa, enquanto a mentira é apanhada na sua
própria artimanha.
A (dita) crise deve servir-nos de
oportunidade para sabermos rever a nossa conduta ética pessoal, familiar,
social, política e até cultural... à luz dos critérios e valores
cristãos/evangélicos mais simples.
3. Agora que o verão está,
rapidamente, em maré de despedida, vamos ainda usufruindo dalgumas festas e de
festejos mais ou menos bem conseguidos. Com a proximidade das festas o povo –
entidade abstrata com personalidade corporativa bem definida e real –
transforma-se: chegou a época de desanuviar as mágoas, de deixar de carpir os
lamentos e até de se permitir alguns exageros... para mais tarde se voltar à
rotina um tanto aliviado e (pretensamente) com mais força de vontade.
Engana-se quem pretender fazer
das festas um certo tempo de reinvindicação, espaço de provocação ou mesmo
oportunidade de contestação. A festa não tem coloração política, embora possa
catapultar as múltiplas pretensões dos diversos intervenientes. A festa goza um
tanto dum estatuto de imunidade à manipulação, embora possa haver quem dela se
tente aproveitar com maior ou menor subtileza. A festa une mais do que divide e
quem dela se tentar fazer proprietário poderá colher frutos amargos quando os
festejantes se aperceberem.
Numa palavra: pela verdadeira
identidade pessoal assumida e amadurecida, nós podemos vencer a crise (que é
muito mais do que económico/financeira), fazendo festa uns com os outros e uns
para os outros (que é muito mais do que arraial e excessos), tentando construir
uma sociedade alicerçada na sinceridade e na boa disposição...
António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)
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