Por
estes dias não há localidade mais ou menos recôndita ou vistosa onde se não
faça uma procissão religiosa – acrescentamos o adjetivo por razões que nos
ocupam nesta reflexão – de veneração a algum santo ou santa, a Nossa Senhora ou
até em louvor de alguma faceta da Pessoa de Cristo.
Não
devemos ter pejo de ocupar as vias públicas com as procissões, pois outros
fazem-no tendo em conta as suas razões e nós temos de respeitá-los. Faz parte
da nossa condição de cidadãos podermos manifestar-nos... mesmo nos nossos
motivos de fé.
Em
muitos cartazes de festas há outros momentos de manifestação de massas
organizadas: paradas, desfiles... com motivos da cultura popular, de crítica
social, nos valores mais representativos, das associações e coletividades, dos
hábitos e costumes, das atividades económicas e etnograficas, etc.
Então, a
procissão será mais um número do cartaz ou um postal turístico? Os integrantes
– nalguns casos podem até ser os mesmos! – podem comportar-se na procissão como
naqueloutros atos da festa? Haverá consciência esclarecida do que significa, de
fato, a procissão? Estaremos, enquanto Igreja católica, a aproveitar esta porta
de diálogo com os gentios, isto é, os que estão fora da fé?
Por
certo uma procissão no norte ou no sul de Portugal, no interior ou no litoral,
tem significado e significação diferentes. Só quem não tiver visto, vivido e
participado nessa diferença é que não entenderá esta distinção! Não podemos
reproduzir um ato de fé pública (mais ou menos) inculturada sem tentarmos
discernir as razões de cada povo e as consequências de cada vivência.
= Breves sugestões
Sem
pretendermos dar qualquer lição nem muito menos criticar quem faz o que melhor
sabe, ousamos trazer a este espaço de partilha alguns aspetos para uma mais
eficiente vivência da procissão como manifestação de fé cristã esclarecida,
assumida e em maior maturação:
-
Explicar com regularidade o sentido do
percurso processional, desde o sentido da cruz, que deve abrir (mais do que
a fanfarra ou os cavalos de guarda de honra) o préstito até à localização e
ordem de cada andor ou estandarte... com figuras ‘anjinhos’, o pálio, bandas e
até as autoridades.
- Elencar os santos/as ou imagens de
Nossa Senhora ou de Cristo, explicando
cada um dos elementos que compõem a figura em procissão. Não podemos deixar que
se caia no ridículo de nem os portadores dos andores não saberem o nome do
santo/a ou a invocação ou evocação de Nossa Senhora. Talvez valha mais deitar
menos uns foguetes e se deva investir na elaboração de um desdobrável (bem
feito, sugestivo e prático) que explique a procissão e nos dê a ordem em
presença... sem esquecer os elementos cristãos claramente referidos. Não
sabemos a quem podemos ajudar!
-
Dignificar os integrantes da procissão,
seja pela forma de vestir digna e asseada, seja pela valorização da diversidade
que pode e deve apresentar-se. As associações e coletividades também podem
fazer parte do itinerário da procissão, sabendo distinguir entre aqueloutras
manifestações seculares desta de caráter religioso e de fé cristã. Se a
procissão é uma manifestação de vida deverá transportar uma comunidade viva em
compromisso e testemunho, senão esclarecidamente cristão, pelo menos de
assumpção do seu valor cívico e cultural. Isto pode ser um bom exercício do «átrio
dos gentios» em ato de contínuo diálogo e intercomunhão.
- Nunca por
nunca esquecer um tempo de proclamação
da Palavra de Deus, num espaço público digno – talvez seja preferível à
opção pela Igreja/templo, onde poucos irão! – e de forma sucinta, incisiva e em
atitude de anúncio da Pessoa de Jesus, da vida do santo ou da vertente de Nossa
Senhora em veneração nesssa festa. Deveria (quase) ser proibido fazer
procissões onde não houvesse este tempo de presença da Palavra de Deus. Quanta
gente será só isso que levará da festa... dita religiosa. Isto será estar em
atitude de «nova evangelização». Perder essa oportunidade poderá ser (como que)
pecado grave!
- E por
que não irmo-nos habituando a fazer as procissões logo após a missa e como consequência mais direta desta? Experiências já
realizadas têm dado bom resultado, trazendo mais gente à missa e à procissão.
Queira
Deus que saibamos – nas diferentes situações e atuações – aproveitar as
procissões como momentos de fé cristã em Igreja católica atenta ao mundo em que
vive!...
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário