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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Procissões: oportunidades para quê?


Por estes dias não há localidade mais ou menos recôndita ou vistosa onde se não faça uma procissão religiosa – acrescentamos o adjetivo por razões que nos ocupam nesta reflexão – de veneração a algum santo ou santa, a Nossa Senhora ou até em louvor de alguma faceta da Pessoa de Cristo.

Não devemos ter pejo de ocupar as vias públicas com as procissões, pois outros fazem-no tendo em conta as suas razões e nós temos de respeitá-los. Faz parte da nossa condição de cidadãos podermos manifestar-nos... mesmo nos nossos motivos de fé.

Em muitos cartazes de festas há outros momentos de manifestação de massas organizadas: paradas, desfiles... com motivos da cultura popular, de crítica social, nos valores mais representativos, das associações e coletividades, dos hábitos e costumes, das atividades económicas e etnograficas, etc.

Então, a procissão será mais um número do cartaz ou um postal turístico? Os integrantes – nalguns casos podem até ser os mesmos! – podem comportar-se na procissão como naqueloutros atos da festa? Haverá consciência esclarecida do que significa, de fato, a procissão? Estaremos, enquanto Igreja católica, a aproveitar esta porta de diálogo com os gentios, isto é, os que estão fora da fé?

Por certo uma procissão no norte ou no sul de Portugal, no interior ou no litoral, tem significado e significação diferentes. Só quem não tiver visto, vivido e participado nessa diferença é que não entenderá esta distinção! Não podemos reproduzir um ato de fé pública (mais ou menos) inculturada sem tentarmos discernir as razões de cada povo e as consequências de cada vivência.

= Breves sugestões

Sem pretendermos dar qualquer lição nem muito menos criticar quem faz o que melhor sabe, ousamos trazer a este espaço de partilha alguns aspetos para uma mais eficiente vivência da procissão como manifestação de fé cristã esclarecida, assumida e em maior maturação:

- Explicar com regularidade o sentido do percurso processional, desde o sentido da cruz, que deve abrir (mais do que a fanfarra ou os cavalos de guarda de honra) o préstito até à localização e ordem de cada andor ou estandarte... com figuras ‘anjinhos’, o pálio, bandas e até as autoridades.

- Elencar os santos/as ou imagens de Nossa Senhora ou de Cristo, explicando cada um dos elementos que compõem a figura em procissão. Não podemos deixar que se caia no ridículo de nem os portadores dos andores não saberem o nome do santo/a ou a invocação ou evocação de Nossa Senhora. Talvez valha mais deitar menos uns foguetes e se deva investir na elaboração de um desdobrável (bem feito, sugestivo e prático) que explique a procissão e nos dê a ordem em presença... sem esquecer os elementos cristãos claramente referidos. Não sabemos a quem podemos ajudar!

- Dignificar os integrantes da procissão, seja pela forma de vestir digna e asseada, seja pela valorização da diversidade que pode e deve apresentar-se. As associações e coletividades também podem fazer parte do itinerário da procissão, sabendo distinguir entre aqueloutras manifestações seculares desta de caráter religioso e de fé cristã. Se a procissão é uma manifestação de vida deverá transportar uma comunidade viva em compromisso e testemunho, senão esclarecidamente cristão, pelo menos de assumpção do seu valor cívico e cultural. Isto pode ser um bom exercício do «átrio dos gentios» em ato de contínuo diálogo e intercomunhão.

- Nunca por nunca esquecer um tempo de proclamação da Palavra de Deus, num espaço público digno – talvez seja preferível à opção pela Igreja/templo, onde poucos irão! – e de forma sucinta, incisiva e em atitude de anúncio da Pessoa de Jesus, da vida do santo ou da vertente de Nossa Senhora em veneração nesssa festa. Deveria (quase) ser proibido fazer procissões onde não houvesse este tempo de presença da Palavra de Deus. Quanta gente será só isso que levará da festa... dita religiosa. Isto será estar em atitude de «nova evangelização». Perder essa oportunidade poderá ser (como que) pecado grave!

- E por que não irmo-nos habituando a fazer as procissões logo após a missa e como consequência mais direta desta? Experiências já realizadas têm dado bom resultado, trazendo mais gente à missa e à procissão.

Queira Deus que saibamos – nas diferentes situações e atuações – aproveitar as procissões como momentos de fé cristã em Igreja católica atenta ao mundo em que vive!...

 

António Sílvio Couto

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