Embora a
situação comece a tornar-se ‘normal’ no tratamento de processos de
casamento/matrimónio, isto é, que uma das partes não sendo batizada possa
contrair matrimónio com a outra parte que recebeu – sabe-se lá com que
consciência! – o batismo, desde que seja concedida a dispensa de disparidade de
culto, algo se está a passar e que deve levar-nos, como Igreja católica, a
refletir. No desenvolvimento da tarefa de preparação do dito processo de
matrimónio, este ano, tive a surpresa de que mais de um terço dos casos tratados
envolveu que a parte não-batizada era a feminina... para alguns casos do sexo
masculino.
Muitos
destes ainda são dos que veem à Igreja católica para celebrar o matrimónio...
enquanto muitos outros ou se ficam pelo casamento civil ou simplesmente se
juntam... embora com razões e motivos fortes para tal opção.
Apesar
de pudermos aduzir uma variegada lista de questões – quase banalização do
sacramento, alguma vulgarização de certas festas com cobertura da Igreja,
exigências mínimas/razões máximas, uma certa socialização da fé não assumida,
etc. – que nos podem ter feito chegar a este estado de razoável
descristianização, parece-nos talvez oportuno refletir sobre a mudança cultural
que se tem vindo a verificar: hoje a mulher/mãe/esposa perdeu uma certa
espiritualidade – não será que a maternidade está também em risco? – tanto de
si mesma como no seio da família e na sociedade...
Estamos
a pagar talvez a fatura de muitas ideias que já percorreram alguns países da
Europa. Lá estão a rever as posições, nós, por cá, em Portugal, ainda parece
que nem aferimos o problema. Bastará referir o papel da mulher na educação, no
sentido da vida e no cuidado da família. De fato, estamos a ser embalados por
modos de vida que tem mais de materialista do que de índole espiritual.
= Educadora da fé e com fé,
precisa-se!
Com
efeito, quando vemos que a mulher – esposa, mãe, avó – não teve um mínino de
introdução à fé – ter sido batizada pode dizer pouco, mas já seria alguma coisa!
– algo estará em risco no futuro, pois muito do que nos foi passado de
sensibilidade espiritual/cristã, bebemo-lo das nossas mães ou mesmo de mulheres
catequistas...
Sem
feminilizar em excesso a fé cristã, parece que corremos um sério risco de
termos perdido, enquanto Igreja católica, a vetor feminino na sua expressão
crente e servidora. Mesmo sem pretendermos lançar dúvidas sobre as razões e
motivos de termos ainda tantas mulheres na Igreja, este dado de que muitas das
que veem para casar já não foram introduzidas ao mínimo da fé, deverá fazer-nos
pensar e criar novas estratégias para comunicar a mensagem cristã dentro e fora
dos muros dos templos.
- Urge
fazer serenamente o diagnóstico, sem acusações ou ressabiamentos clericais.
- Urge
lançar pistas de reflexão, ajudando e sendo ajudados a perspetivar novos sinais
de esperança.
- Urge
reler o Evangelho e ver o papel da mulher na vida de Cristo e, posteriormente,
nos primórdios da Igreja.
- Urge
lançar sementes de concórdia e traçar laços de bom acolhimento.
Até deveríamos
rever um certo culto mariano à luz destas mudanças... sociais, culturais e
espirituais!
António Sílvio
Couto
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