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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Eliminação/suspensão de feriados

Dizem que por imposição da ‘troika’ internacional, o governo português teve de retirar do calendário social quatro feriados – dois civis (5 de Outubro e 1 de Dezembro) e dois religiosos católicos – por acordo com a Santa Sé – Corpo de Deus e Todos-os-Santos. Ao que parece os dois últimos terão suspensão nos anos de 2013 a 2018, isto é, por cinco anos. Sobre a validade da suspensão dos civis parece que serão de maior duração na eliminação...

Haveria necessidade de tocar nestes feriados? Porque estes e não outros? O problema é dos feriados ou será, antes, das ‘pontes’ abusivas antes e depois deles?

= Feriados políticos/civis – ideológicos ou simbólicos?

Os dois retirados – 5 de Outubro: implantação da República; 1 de Dezembro: restauração da independência em monarquia – acontecem no último trimestre ao ano civil e parecem ter a marca de querer agradar a tendências políticas de sinal diferente. Com efeitos, ambos os feriados são, sobretudo, marcas de regime, embora de sinal diferente, têm um e outro algo a ver com a nossa condução política há mais ou menos tempo.

Que interpretação podemos ou devemos inferir da retirada destes feriados? Estaremos a ser patriotas ou antes estaremos a permitir que nos façam obedecer a um certo mercantilismo internacionalista sem nos apercebermos dos ataques subtis à nossa identidade mais profunda?  Ainda teremos capacidade para fazermos valer as nossas convições ou estaremos já derrotados pelas conveniências materialistas mais agressivas? Os lutadores da independência e os fautores da revolta republicana estarão a ser ofendidos ou a serem minimamente respeitados?

Atendendo a outras datas históricas que nos resta por retalho e dada a sua expressão social, ousamos perguntar: porque não foi abolido já o 10 de Junho? Até onde irá a defesa do 25 de Abril? O 1.º de Maio – tendo em conta o estado de desemprego atual – terá ainda espaço e capacidade para aglutinar os ainda trabalhadores?

Dizia alguém recentemente: no resto da Europa, a seguir a uma data festiva, há um feriado para que se descanse do descanso... como por exemplo, a seguir ao dia de Páscoa, ao dia de Pentecostes e até ao Natal e à passagem de ano. Nós que temos de reduzir feriados vivemos ao ritmo do ‘fare niente’ antes, durante e depois do feriado. Até quando viveremos esta onda de preguiça, sem produção e, muito menos, sem uma consciência de pertença e em espírito de povo e  de Nação?

= Pela abolição dos feriados (religiosos) indevidamente gozados

Tendo em conta que muitos dos feriados religiosos – numa razoável parte do território nacional – não são usados para a finalidade com que foram propostos e estão definidos, somos, em grande parte com fundamento de índole cristã, pela abolição de todos (ou da maioria) os feriados de cariz religioso... muito para além dos que foram (agora) suspensos. Com efeito, é um tanto injusto e (até) algo discriminatório que uns tantos usufruam de tempo de não-trabalho se não usam o tempo de descanso para o tempo de culto previsto... no espírito da legislação. De fato, já não somos essa tal cristandade de outrora, por isso, será de bom tom social, político e económico – para não dizer mesmo cultural e religioso – que não se aproveite da expressão da fé quem dela não usa nem participa... até sociologicamente.

Não perderemos – como cristãos católicos – importância nem visibilidade, mas estaremos a contribuir para que haja maior justiça e a devida moralização cultural e social. Não aceito – mesmo que possa exercitar uma certa capacidade de tolerância – que haja ateus, agnósticos, não-praticantes ou oportunistas a usufruirem de feriado à custa da fé que não professam e muito menos praticam. Tal como dizia o velho sapateiro, após as procissões bracarenses, ripostamos: ‘ou haja moralidade ou comamos todos’! Se não querem a fé não a instrumentalizem a seu bel-prazer... mesmo que de forma incoerente!

Não será por falta de feriados que a prática religiosa será atrapalhada, pois há dias – do pai, de alguma efeméride mais significativa, de ritmo familiar ou momento social de relevo – que são respeitados e vividos. Assim tenhamos fogo de amor e fé de convicção e tudo o resto será diferente... em nós e à nossa volta!

António Sílvio Couto

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