Haveria
necessidade de tocar nestes feriados? Porque estes e não outros? O problema é
dos feriados ou será, antes, das ‘pontes’ abusivas antes e depois deles?
= Feriados políticos/civis –
ideológicos ou simbólicos?
Os dois
retirados – 5 de Outubro: implantação da República; 1 de Dezembro: restauração
da independência em monarquia – acontecem no último trimestre ao ano civil e
parecem ter a marca de querer agradar a tendências políticas de sinal
diferente. Com efeitos, ambos os feriados são, sobretudo, marcas de regime,
embora de sinal diferente, têm um e outro algo a ver com a nossa condução
política há mais ou menos tempo.
Que
interpretação podemos ou devemos inferir da retirada destes feriados? Estaremos
a ser patriotas ou antes estaremos a permitir que nos façam obedecer a um certo
mercantilismo internacionalista sem nos apercebermos dos ataques subtis à nossa
identidade mais profunda? Ainda teremos
capacidade para fazermos valer as nossas convições ou estaremos já derrotados
pelas conveniências materialistas mais agressivas? Os lutadores da
independência e os fautores da revolta republicana estarão a ser ofendidos ou a
serem minimamente respeitados?
Atendendo
a outras datas históricas que nos resta por retalho e dada a sua expressão
social, ousamos perguntar: porque não foi abolido já o 10 de Junho? Até onde
irá a defesa do 25 de Abril? O 1.º de Maio – tendo em conta o estado de
desemprego atual – terá ainda espaço e capacidade para aglutinar os ainda trabalhadores?
Dizia alguém
recentemente: no resto da Europa, a seguir a uma data festiva, há um feriado
para que se descanse do descanso... como por exemplo, a seguir ao dia de
Páscoa, ao dia de Pentecostes e até ao Natal e à passagem de ano. Nós que temos
de reduzir feriados vivemos ao ritmo do ‘fare niente’ antes, durante e depois
do feriado. Até quando viveremos esta onda de preguiça, sem produção e, muito
menos, sem uma consciência de pertença e em espírito de povo e de Nação?
= Pela abolição dos feriados
(religiosos) indevidamente gozados
Tendo em
conta que muitos dos feriados religiosos – numa razoável parte do território
nacional – não são usados para a finalidade com que foram propostos e estão
definidos, somos, em grande parte com fundamento de índole cristã, pela
abolição de todos (ou da maioria) os feriados de cariz religioso... muito para
além dos que foram (agora) suspensos. Com efeito, é um tanto injusto e (até)
algo discriminatório que uns tantos usufruam de tempo de não-trabalho se não
usam o tempo de descanso para o tempo de culto previsto... no espírito da
legislação. De fato, já não somos essa tal cristandade de outrora, por isso,
será de bom tom social, político e económico – para não dizer mesmo cultural e
religioso – que não se aproveite da expressão da fé quem dela não usa nem
participa... até sociologicamente.
Não perderemos
– como cristãos católicos – importância nem visibilidade, mas estaremos a
contribuir para que haja maior justiça e a devida moralização cultural e
social. Não aceito – mesmo que possa exercitar uma certa capacidade de
tolerância – que haja ateus, agnósticos, não-praticantes ou oportunistas a
usufruirem de feriado à custa da fé que não professam e muito menos praticam. Tal
como dizia o velho sapateiro, após as procissões bracarenses, ripostamos: ‘ou
haja moralidade ou comamos todos’! Se não querem a fé não a instrumentalizem a seu
bel-prazer... mesmo que de forma incoerente!
Não será
por falta de feriados que a prática religiosa será atrapalhada, pois há dias –
do pai, de alguma efeméride mais significativa, de ritmo familiar ou momento
social de relevo – que são respeitados e vividos. Assim tenhamos fogo de amor e
fé de convicção e tudo o resto será diferente... em nós e à nossa volta!
António Sílvio Couto
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