Após a
revolução do ’25 de Abril’ surgiu, em Portugal, um livro intitulado: «Os quatro
ismos», que falava de outrostantos sistemas e ideologias políticas: marxismo,
fascismo, socialismo e capitalismo. Quem tenha vivido esse tempo fervilhante
terá lido com atenção esse livro com proveito e talvez como iniciação à vida
política em (dito) regime democrático.
Houve
quem tenha ajuntado àqueles ‘ismos’ outros termos com idêntica terminação:
cristianismo (catolicismo ou protestantismo), comunismo, sindicalismo, racismo...
e tantas outras palavras que, com esse ‘ismo’, tinham algo de ideológico e/ou
pretensamente induzindo a sistema de massas... acríticas.
Ora tem
vindo a crescer a consciência que o mais recente ‘ismo’ tem outra face e
rege-se por outro sistema: o consumismo...
tenha ele a faceta de Estado ou de liberalismo, de exploração ou de submissão a
modas, a gostos ou até a uma certa vivência ética/moral.
= Um caso a estudar: já, antes e
depois!
Tendo na
devida conta um episódio de uma cadeia de distribuição, que fez no último 1.º
de Maio uma promoção de desconto em 50% das compras efetuadas acima de cem
euros – não seria certamente para classes empobrecidas! – como que temos de
parar, escutar e olhar para o impato desta iniciativa... que terá faturado mais
de setenta milhões de euros e apurado em média vinte sete milhões... num só
dia!
Sem
demagogia nem populismo temos de questionar:
- O
segredo sucesso foi passado de boca-em-boca e não através de publicidade
ostensiva e panfletária. O sucesso esteve na surpresa ou poderá ser, antes,
marcado pela necessidade mais ou menos encoberta?
- A
procura foi impressionante para vendedores e compradores. Estaremos já capazes
de viver em concorrência com educação, civismo e normalidade?
- Houve
quem tentasse ideologizar esta iniciativa como uma espécie de afronta aos
trabalhadores, dada a coincidência com essa data social, embora os promotores a
procurem vincular, antes, na vertente para com os desempregados. Será que a
fome e as necessidades mais elementares andam ao sabor dos cartazes de
circunstância ou ao ritmo das batidas do estômago vazio e do dar horas... de
fome?
- Na
explicação sobre a iniciativa em causa, o responsável máximo da empresa
promotora – em entrevista televisiva – afirmou-se com critérios cristãos,
particularmente em matéria de questões sociais, incluindo os salários, as
regalias laborais e até a repartição nos lucros... aduzindo uma mínima
percentagem de grevistas na empresa, agora como antes.
- Para
quando estará a assumpção civil e criminal de certos profissionais do sindicalismo
– que mais não parecem do que correias de transmissão de outras forças
partidárias subterrâneas ou parlamentares – que pouco mais parecem fazer do que
afundar empresas e quase (ou) nunca criam postos de trabalho?
- Senhores
dos ‘ismos’ – na linha desse sindicalismo derrotista e de outros ‘protestantismos’
de lóbi – não se acoitem no anonimato da classe! Deem a cara à verdadeira luta
pelos outros, a sério e não contra eles e/ou a fazer-de-conta na rua,
manipulando tantos desempregados e mais uns reformados a soldo de viagem à
manifestação... até ver na cintura de Lisboa ou em deslocação para o Porto...
lá para meados de Junho!
= Consumismo: uma atitude e/ou
uma religião... em crescendo?
Os locais
de culto aí estão espalhados pelas nossas cidades, vilas, freguesias e
lugarejos: imensos supermercados, hipermercados, centros comerciais, foruns...
promovendo e vendendo, atraindo e ocupando, distraíndo e alienando multidões de
pessoas que foram esvaziando os templos das religiões tradicionais – sobretudo
de âmbito católico – e sendo espaços de peregrinação (quase) semanal para
encher as dispensas da comida, enquanto se adia o culto ao Deus da fé...
sobretudo cristã.
Se
compararmos os fregueses dos espaços do consumo com os que estão, à mesma hora,
a frequentar os templos, por exemplo numa manhã de domingo, ficaremos
minimamente elucidados sobre os interesses e quais os altares em que sacrificam
os nossos contemporâneos, vizinhos e até cristãos (afirmados com uma certa
vaidade) ‘não-praticantes’.
+ Consumismo,
a quanto obrigas os teus fiéis e tão veneráveis servidores... agora e até à
descoberta da conversão em cada mentira para com o Deus criador e senhor da
história.
+ Consumismo
fazes uns tantos fiéis felizes, mas crias uma multidão de excluídos. Não tentes
absolutizar-te, pois em breve serás derrotado pela fraternidade tornada ideal e
meta.
+ Consumismo
tens, efetivamente, pés de barro, por isso, prepara-te para caires do teu
pedestal, apontando para essoutros valores espirituais, que preenchem mais quem
os vive e não defrauda que a eles se consagra, antes pelo contrário.
+ Consumismo:
és religião sem rosto. Nós queremos ser serviço aos outros em Deus como rosto
onde Ele se mostra e contempla, aqui e agora!
António Sílvio Couto
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