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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Consumismo, a quanto (nos) obrigas!


Após a revolução do ’25 de Abril’ surgiu, em Portugal, um livro intitulado: «Os quatro ismos», que falava de outrostantos sistemas e ideologias políticas: marxismo, fascismo, socialismo e capitalismo. Quem tenha vivido esse tempo fervilhante terá lido com atenção esse livro com proveito e talvez como iniciação à vida política em (dito) regime democrático.

Houve quem tenha ajuntado àqueles ‘ismos’ outros termos com idêntica terminação: cristianismo (catolicismo ou protestantismo), comunismo, sindicalismo, racismo... e tantas outras palavras que, com esse ‘ismo’, tinham algo de ideológico e/ou pretensamente induzindo a sistema de massas... acríticas.

Ora tem vindo a crescer a consciência que o mais recente ‘ismo’ tem outra face e rege-se por outro sistema: o consumismo... tenha ele a faceta de Estado ou de liberalismo, de exploração ou de submissão a modas, a gostos ou até a uma certa vivência ética/moral.



= Um caso a estudar: já, antes e depois!

Tendo na devida conta um episódio de uma cadeia de distribuição, que fez no último 1.º de Maio uma promoção de desconto em 50% das compras efetuadas acima de cem euros – não seria certamente para classes empobrecidas! – como que temos de parar, escutar e olhar para o impato desta iniciativa... que terá faturado mais de setenta milhões de euros e apurado em média vinte sete milhões... num só dia!

Sem demagogia nem populismo temos de questionar:

- O segredo sucesso foi passado de boca-em-boca e não através de publicidade ostensiva e panfletária. O sucesso esteve na surpresa ou poderá ser, antes, marcado pela necessidade mais ou menos encoberta?

- A procura foi impressionante para vendedores e compradores. Estaremos já capazes de viver em concorrência com educação, civismo e normalidade?

- Houve quem tentasse ideologizar esta iniciativa como uma espécie de afronta aos trabalhadores, dada a coincidência com essa data social, embora os promotores a procurem vincular, antes, na vertente para com os desempregados. Será que a fome e as necessidades mais elementares andam ao sabor dos cartazes de circunstância ou ao ritmo das batidas do estômago vazio e do dar horas... de fome?

- Na explicação sobre a iniciativa em causa, o responsável máximo da empresa promotora – em entrevista televisiva – afirmou-se com critérios cristãos, particularmente em matéria de questões sociais, incluindo os salários, as regalias laborais e até a repartição nos lucros... aduzindo uma mínima percentagem de grevistas na empresa, agora como antes.

- Para quando estará a assumpção civil e criminal de certos profissionais do sindicalismo – que mais não parecem do que correias de transmissão de outras forças partidárias subterrâneas ou parlamentares – que pouco mais parecem fazer do que afundar empresas e quase (ou) nunca criam postos de trabalho?

- Senhores dos ‘ismos’ – na linha desse sindicalismo derrotista e de outros ‘protestantismos’ de lóbi – não se acoitem no anonimato da classe! Deem a cara à verdadeira luta pelos outros, a sério e não contra eles e/ou a fazer-de-conta na rua, manipulando tantos desempregados e mais uns reformados a soldo de viagem à manifestação... até ver na cintura de Lisboa ou em deslocação para o Porto... lá para meados de Junho!

= Consumismo: uma atitude e/ou uma religião... em crescendo?

Os locais de culto aí estão espalhados pelas nossas cidades, vilas, freguesias e lugarejos: imensos supermercados, hipermercados, centros comerciais, foruns... promovendo e vendendo, atraindo e ocupando, distraíndo e alienando multidões de pessoas que foram esvaziando os templos das religiões tradicionais – sobretudo de âmbito católico – e sendo espaços de peregrinação (quase) semanal para encher as dispensas da comida, enquanto se adia o culto ao Deus da fé... sobretudo cristã.

Se compararmos os fregueses dos espaços do consumo com os que estão, à mesma hora, a frequentar os templos, por exemplo numa manhã de domingo, ficaremos minimamente elucidados sobre os interesses e quais os altares em que sacrificam os nossos contemporâneos, vizinhos e até cristãos (afirmados com uma certa vaidade)  ‘não-praticantes’.


+ Consumismo, a quanto obrigas os teus fiéis e tão veneráveis servidores... agora e até à descoberta da conversão em cada mentira para com o Deus criador e senhor da história.

+ Consumismo fazes uns tantos fiéis felizes, mas crias uma multidão de excluídos. Não tentes absolutizar-te, pois em breve serás derrotado pela fraternidade tornada ideal e meta.

+ Consumismo tens, efetivamente, pés de barro, por isso, prepara-te para caires do teu pedestal, apontando para essoutros valores espirituais, que preenchem mais quem os vive e não defrauda que a eles se consagra, antes pelo contrário.

+ Consumismo: és religião sem rosto. Nós queremos ser serviço aos outros em Deus como rosto onde Ele se mostra e contempla, aqui e agora!



António Sílvio Couto

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