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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Crê o que lês – ensina o que crês – vive o que ensinas

 


«Recebe o Evangelho de Cristo, que tens a missão de proclamar. Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas». Esta é a fórmula usada na ordenação do diácono (Pontifical Romano, ‘Ordenação do bispo, dos presbíteros e diáconos’, n.º 210), quando lhe é entregue o livro dos Evangelhos, investindo-o na tarefa de ser anunciador e proclamador da Palavra de Deus como múnus do seu ministério diaconal.

Vem isto a propósito do VI domingo da Palavra de Deus – celebração instituída pelo Papa Francisco – para dar destaque comunitária e dominical da proclamação, vivência e compromisso à luz e com a Palavra de Deus lida, proclamada e celebrada.

1. Se atendermos ao comportamento de boa parte dos ‘nossos’ católicos eles vêm para as celebrações de mãos a abanar, enquanto outros cristãos levam a sua Bíblia para o culto. Qual o significado mais profundo do que exterior destes gestos? Será que isso revela desconexão com a Palavra de Deus usada nas nossas celebrações? Até que ponto vivemos centrados na Palavra lida e proclamada nos ‘nossos’ sacramentos? Será que isto revela alguma ignorância e/ou desinteresse pelas Sagradas Escrituras? Será possível ir introduzindo nas nossas celebrações – sobretudo da missa – a presença nas mãos dos fiéis (eclesiásticos ou não) da normalidade da Bíblia? Seremos capazes de ir semeando este interesse e participação logo desde o tempo da (dita) catequese de infância e adolescência? Há um trabalho a fazer, mas não podemos esperar que seja decretado para fazer…temos de ir ensaiando com pequenos gestos e momentos.

2. Crê o que lês – eis o primeiro desafio: acreditar que Deus nos fala pela Sua Palavra escrita e de longa data posta à nossa disposição: são séculos da revelação de Deus ao povo de Israel e agora na Igreja. Os textos escritos nos setenta e dois livros da Bíblia continuam a ser escritura sagrada, onde Deus nos conduz, corrige, orienta e compromete. Num dos documentos do Concílio Vaticano II sobre a revelação divina ‘Dei Verbum’ faz-se a proclamação solene da centralidade da nossa fé, que tem duas fontes – a Sagrada Escritura e a Tradição. «A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura estão ìntimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, derivando ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma coisa só e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência» (n.º 9). É isso que cremos, lemos, rezamos e seguimos.

3. Ensina o que crês – nova etapa da presença, acolhimento e serviço à Palavra de Deus. Com que facilidade podemos percecionar quando alguém fala e deixa sair ‘flatus vocis’, isto é, palavras vazias. Bastaria comparar com a convicção dos vendedores de feira, que nos impingem o produto sem dele necessitarmos. Não haverá, em muita pregação, falta de entusiasmo naquilo que se diz e como se diz? É verdade que não se pode exigir a todos a mesma intensidade de comunicação, mas sem chama não se incendia nada nem ninguém. Questões de verborreia podem atrair, mas não convencem!

4. Vive o que ensinas – eis um grande e solene desafio à coerência entre a palavra e a vida, esta pode e deve confirmar aquela. Certamente todos conhecemos o adágio – ‘bem prega frei Tomás, olhai o que ele diz e não o que ele faz’. Mais do que uma frase do rifoneiro popular, importa reconhecer a necessidade da coerência de tudo quanto lhe está adstrito. Hoje como nunca é essencial que todos sejamos dignos de credibilidade mais do que pelas boas intenções pelas obras, que explicarão o que pensamos, dizemos e vivemos.

5. No domingo da Palavra de Deus temos um farol para assim sermos cristãos/católicos credíveis…



António Sílvio Couto

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