‘Síndrome de húbris’ – também conhecida por síndrome da presunção – corresponde a um padrão de comportamento provocado pela exposição a um cargo de poder, que se reflete pelo transtorno de personalidade de homens e de mulheres impulsivos e imprudentes devido aos seus ímpetos autoritários e de quase desequilíbrio emocional.
Talvez esta expressão possa explicar ou ajudar a compreender tantos dos comportamentos que vemos à nossa volta, mesmo sem disso nos darmos totalmente conta… na política, na vida social, na vivência religiosa e até nas atitudes de foro económico-financeiro.
1. Expliquemos os termos e aclaremos os conceitos. O termo ‘húbris’ é um conceito grego que significa “excesso,” numa tradução ao sentido como tudo aquilo que passa da medida, como arrogância exagerada ou insolência em demasia. Com efeito, na mitologia grega eram atitudes consideradas afrontosas contra os deuses e acabavam em punição, enquanto na civilização romana a ‘húbris’ era vista como “petulância” de homens que sucumbiam a um desfecho desonroso.
2. Não será que a linguagem popular portuguesa tem algo de aproximado a esta expressão mais erudita e sanitária: se queres conhecer o vilão coloca-lhe o pau (mando, poder) na mão? De facto, é recorrente ouvir-se: o poder corrompe e ser este for absoluto deixa ainda mais marcas. De quantas formas e tantas modalidades podemos ver pessoas que abusam do poder – pouco ou mais expressivo – e encontramos tantos tiques de que pisa os outros, depreciando-os ou inferiorizando-os. Diz-se que a ‘síndrome de húbris’ tem início na megalomania e termina na paranoia…
3. Este comportamento será melhor avaliado se colocado sob a alçada de alguém da esfera da saúde, tanto psicólogo como psiquiatra. Na busca para compreender este tema encontrei várias caraterísticas da ‘síndrome de húbris’. Elencamos algumas: uma propensão narcísica para ver o mundo em primeiro lugar como uma arena para exercer o poder e procurar a glória. Predisposição para fazer coisas de forma a melhorar a sua imagem. Uma preocupação desproporcionada com a imagem e a apresentação (egocentrismo), sendo a ostentação e o luxo os seus melhores aliados. Tendência para falar de si na terceira pessoa ou uso do plural majestático. Confiança excessiva no seu próprio julgamento e condescendência em relação aos conselhos ou críticas dos outros. Crença exagerada em si mesmo, na fronteira da sensação da omnipotência. Perda de contato com a realidade, muitas vezes associado a isolamento progressivo. Inquietude permanente, indiferença e impulsividade… Talvez uma pessoa com a ‘síndrome de húbris’ acumule mais do que umas destas caraterísticas… Numa leitura um tanto excessiva desta síndrome poderemos considerar domo cúmulo da incompetência hubrística: as coisas começam a correr mal por causa do excesso de confiança e ele nem se preocupa com as dissidências.
4. Embora isto não explique nem justifique social e eticamente as atitudes de tantos do que estão na vida pública – que devia ser de serviço e não só de poder – poderemos entender melhor a ausência de pessoas capazes de liderança, embora se considerem e sejam chefes. Qual a diferença entre chefe e líder? Chefe é uma pessoa que comanda um grupo, um departamento ou uma organização, está investido de poder para a tomada de decisões e é procurado para a solução de problemas. Líder também está à frente de um grupo, departamento ou organização, mas as suas ações influenciam o comportamento das outras pessoas para que os resultados sejam alcançados da melhor maneira possível, sobretudo envolvendo os outros nas decisões e nas soluções.
5. Muito mal estaria uma organização ser o líder sofresse da ‘síndrome de húbris’, embora vejamos muitos investidos em chefia que sofrem claramente desta síndrome, mesmo sem disso se darem conta, mas os outros pagarão muito paga essa fatura…
António Sílvio Couto