Por
vezes as pessoas dizem coisas que deixam a manifesto aquilo que são, sobretudo
se emitem juízos sobre outrem. Mais uma vez um moço da política se referiu a
quem faz a comunicação social, que nem sempre lhe é agradável, como sendo
‘estrume’. Contestava algo que não lhe seria tão favorável como desejava.
Vem sendo
recorrente ouvirmos, lermos e vermos responsáveis políticos no ativo (e não só)
a vociferarem contra quem não lhes dá o valor que julgam ter: umas vezes fazem-no
usando a comunicação social; noutros momentos aproveitam os microfones
disponíveis e desancam nos adversários sem direito de resposta; outras vezes
servem-se dos lugares que ocupam para ampliarem os egos nem sempre adulados ou
promovidos; casos ainda denotam a perda do mínimo sentido de ridículo, se ainda
fossem capazes de terem bom senso, correção e até discernimento…
1. Poderá
alguém questionar: quem é e onde se situa a tal estrebaria? Será esta uma
imagem ou um retrato de algo que se vislumbra ainda de forma um tanto desfocada?
Não andaremos a fazer chiqueiro de coisas menos conhecidas, enquanto o que se
vê já tresanda? Valerá a pena valorizar declarações infelizes ou teremos de
descortinar o que há de verdade, mesmo que dito a despropósito? O tal ‘estrume’
será de combustão controlada ou precisa de ser limpo a curto prazo?
2. Por
estes dias tem vindo a ser introduzida no vocabulário social a palavra
‘transparência’. Só que, tanto quanto parece, cada um dá-lhe o significado que
melhor deseja, em conformidade com os seus intentos e/ou pretensões. Casos há
em que usar tal termo se torna uma forma mais ou menos subtil de ofender os
adversários… Com efeito, certas contas precisam de maior transparência. Alguns
atos de governo – quase sempre com o mesmo intérprete – estão sob a penumbra de
denso nevoeiro. Medidas de combate à imigração continuam sob a alçada da
mentira… surfando sobre um mar de irregularidades, mesmo que à custa da
exploração de milhares de necessitados de pão e de paz.
3. O
espetáculo foi digno de ser visto. Alguém o considerou colocado entre a entrega
dos ‘óscares’ – com passadeira não vermelha, mas azul – e o concurso da ‘miss
universo’, onde as declarações de boas intenções tresandam a palavras de
circunstância e ao nada feito… A dita ‘cimeira social’ da União Europeia serviu
para ‘consagrar’ o que vale a Europa e o aproveitamento dos focos da
comunicação social – essa a que apelidam de ‘estrume’ – para promover alguma da
estrebaria luxuriante de serviço. Com efeito, não deixa de ser simbólico que a
norte se pavoneiem uns tantos bem cheirosos, perfumados e galantes, enquanto a
sul se escondem da vista milhares de imigrantes como que tinhosos de vírus,
amontoados em casas insalubres e explorados por habilidosos transnacionais.
4. Sobre
a situação de Odemira-S. Teotónio-Almograve referiu, há dias, o bispo de Beja: “Isto não é uma coisa de agora. Rebentou
agora, mas há uns cinco anos fiz uma visita pastoral a Odemira e visitei
algumas dessas empresas e vi que havia esses problemas”. Segundo D. João Marcos
tanto a paróquia de Odemira, como as dos outros locais, têm tentado ajudar a
suprir as necessidades desses trabalhadores, mas “não têm capacidade para
resolver um problema desta magnitude”. Conhecedora da realidade humana e social, à Igreja nem
sempre lhe é dada a voz e a importância que tem e sobre a qual faz muito mais
do que qualquer outra entidade… Desgraçadamente a Igreja conhece a estrebaria,
cuida dela e, por vezes, suja-se sem proveito humano, mas Deus conhece… e
recompensará!
5. Os
acontecimentos mais recentes sobre o ‘covid-19’ parecem alentadores de que a
maré grave terá passado. No entanto, nada está conquistado e nem o processo de
vacinação servirá de lenitivo, pois os cuidados devem continuar para que
saiamos desta quase-estrebaria social, onde certos comportamentos parecem fazer
perigar o esforço de todos nos meses anteriores. Sabemos que a cultura cívica
nem sempre é a mais adequada. Por isso, continuemos nesta árdua tarefa de
vencermos um inimigo sem rosto…na desgraça.
António Sílvio Couto
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