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terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Metade da riqueza mundial nas mãos de 85 pessoas


A riqueza de 85 pessoas do mundo corresponde à soma das posses de quase metade da população mundial, isto é, um por cento das famílias concentram 110 biliões de dólares, sessenta e cinco vezes a riqueza total da metade mais pobre da população mundial.

Esta conclusão faz parte de um relatório de uma organização não-governamental britânica a apresentar no ‘Fórum económico mundial’, que reúne, por estes dias, na Suíça. Este relatório refere ainda que, no último ano, mais de duzentas pessoas tornaram-se milionárias…

- Quando de tantas e tão variadas formas vemos as pessoas a viver em volta do dinheiro, podemos ficar estarrecidos com a concentração de tantos recursos nas mãos de tão poucos, criando uma espécie de injustiça agravada…

- Quando no nosso tempo as pessoas são valorizadas pelo que ostentam e não por aquilo que são, o abuso de poder económico torna-se uma conduta bem mais subtil do que aquilo que podemos reconhecer. Com efeito, há pessoas que valorizam o ‘ter’ em vez do ‘ser’ e o ‘parecer’ em vez da autenticidade e verdade.

- De muitas e diversas formas temos vindo a ser ‘educados’ para que o fator dinheiro valha mais do que a cultura, levando, por vezes, os mais novos a exigirem o que se torna quase incomportável para os pais e educadores. De fato, há fatores de distinção que flutuam ao sabor da vulgaridade de quem se promove e faz parecer importante, mas, de verdade, mais não é do que oco e vazio… tanto na prática como na teoria.

- Desgraçadamente vivemos numa cultura onde a preguiça – ‘ser rico e não fazer nada’ – ganhou estatuto de elogio, fazendo com que os mais ricos aviltem os mais pobres com exageros e com exibições nada consentâneas com a dignidade humana. Se atendermos à promoção de certas iniciativas de bem-fazer podemos ver uma espécie de psicologia do anzol, temos os outros presos pela boca e damos para que nos agradeçam… Esta tentação pode até passear-se pelos corredores das nossas igrejas ou estar guardada em armário nas sacristias ou, por que não, mais ou menos presente nos espaços de ação socio-caritativa! 

= Caridade: dom e mistério… na fé e na vida

Diante de muitas ações de filantropia como que sentimos alguma tristeza, pois nem sempre as pessoas contam, a sério, para serem ajudadas. Algumas das que recorrem à ajuda também vão aprendendo a arte de subsistir, adaptando-se às circunstâncias e aos lugares, podendo tornarem-se (quase) profissionais da pedinchice e /ou da subsidiodependência.

Já lá vai o tempo de as famílias – sobretudo mais ricas e endinheiradas ou com bens de raiz – terem os ‘seus pobres’ a quem ajudavam para serem consideradas boas pessoas ou até se destacarem no contexto social (normalmente rural) e /ou religioso. Hoje, com o anonimato do tecido urbano, as pessoas estão mais deixadas ao seu destino, crescendo a multidão dos excluídos e as franjas dos marginalizados. Se não fossem algumas iniciativas de âmbito socio-religioso… substitutas do (pretenso) ‘Estado social’, a fome seria mais grave no nosso país e no mundo e as assimetrias criariam ainda mais revoltados e empobrecidos.

A Igreja católica tem uma doutrina e uma prática muito avançada – mesmo em relação a certas teorias e ideologias (pretensamente) de esquerda – criando, gerando e gerindo a partilha entre todos, não em razão das leis exteriores – como no coletivismo de Estado, no socialismo (dito) democrático ou na desejada social-democracia – mas a partir do interior e da convicção das pessoas: não somos obrigados a pôr em comum, mas colocamos em comum em razão da fé, que nos irmana e nos conduz. O risco será quando se institucionaliza a tentativa de igualdade sem fraternidade e não se educa a força de comunhão, tanto entre as pessoas como com as associações, coletividades e agremiações. Quem não conhece a força (espiritual) das irmandades? Como não reconhecer o poder (moral) das misericórdias? Como esquecer a capacidade de mobilização da fé e da caridade em tantas ações de bem comum?

Quando a ignorância se torna atrevida é comum assistirmos ao labéu sobre as riquezas da Igreja católica. Mas porque não se faz idêntica campanha com as riquezas de tantos Estados e mesmo de certas organizações transnacionais? A quem interessa colocar sob fogo a Igreja e esconder outros poderios bem mais fortes e influentes? A História, normalmente, se encarrega de fazer justiça… nem que leve muito tempo!  

 

António Sílvio Couto (asilviocouto@gmail.com)

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