Decorridos vinte e cinco anos sobre a primeira edição do ‘BB’ somos confrontados com dúzias e dúzias de imbecis lançados ao conhecimento público, sem contarmos com outros tantos programas afins que foram promovendo muitos mais imbecilizados sem rota nem designação. Efetivamente, alguns canais televisivos foram pioneiros em fazer de desconhecidos ‘figuras’ da vida social, ao menos dentro de uma certa bolha mais ou menos fútil e acrítica. À média de vinte concorrentes por programa, já foram lançados pelo BB cerca de quinhentos figurões, a maior parte do anonimato para a ribalta…
1. Se atendermos a outros pseudo-programas de entretenimento no mesmo canal quase um milhar de pretendentes a desconhecidos, tornaram-se uma espécie de imbecis à procura de fama e da captação de algum dinheiro para viverem na preguiça como profissão. Com efeito, o prémio do programa atual ascende a cem mil euros, fascinando os mais incautos e/ou pretendentes a serem ‘heróis’ por uns breves segundos. Por seu turno, os apresentadores – têm sido figuras da estação em causa – enquadram-se perfeitamente na futilidade do programa, desde longa data.
2. O que faz correr tanta gente para este tipo de programas? Se no princípio se poderia justificar a ignorância sobre o modelo, agora percebe-se um tanto melhor por onde andam os critérios, os valores e mesmo a moral-ética. Por que expõem as pessoas a sua vida, por um punhado de euros ou por precisarem de sair da turba, destacando-se pelas piores razões? De facto, muitas das pessoas que concorreram ao BB e sequazes deixaram de ter vida privada, mesmo pelas causas mais banais e quase ridículas. As várias tentativas de explorar o escândalo – mesmo ou essencialmente no âmbito sexual – foram notadas, com emparelhamentos e casórios a posteriori. Poucos vingaram com honestidade, simplicidade e verdade…
3. Estes vinte e cinco anos da nossa História foram assinalados com muitas mudanças, acompanhadas com a difusão de certos meios de intromissão na vida de todos e acerca de tudo: as ditas redes sociais, com os pretensos influencers e adstritos, as campanhas de denúncia anónima em quase todos os campos da ‘nossa’ vida social e privada, a banalização do relacionamento entre as pessoas (desde o mais sério ao menos comprometedor), a saída do armário de certos comportamentos (os programas foram disso reflexo contencioso), as conflitualidades rácicas e de xenofobia, a exaltação do eu sobre o nós (como consequência da crise do covid-19), a polarização ideológica entre os extremos…foram alguns dos fatores de mudança e, na maior parte dos casos, de confusão e até de convulsão.
4. O equilíbrio entre a vida privada e a exposição às questões públicas sempre foi algo sensível e nem sempre de boa gestão. Que dizer e/ou mostrar? Como dar a conhecer e não permitir a invasão da privacidade? Qual a barreira entre o resguardo da vida privada e a aceitação da exposição pública? Onde está o bom senso e a vulgaridade? Não andaremos a substimar o que é específico para embarcar naquilo que parece excecional? Na confluência entre o que se pode mostrar e o que se deve poder ver, não andaremos a inverter as prioridades mais simples e básicas?
5. Mesmo que pareça um tema algo anacrónico para alguns, o pudor deve ser cultivado, vivido e incentivado com responsabilidade mínima e suficiente. Com se define, então, o pudor?
«O pudor protege o mistério da pessoa e do seu amor. Convida à paciência e à moderação na relação amorosa e exige que se cumpram as condições do dom e do compromisso definitivo do homem e da mulher entre si. O pudor é modéstia. Inspira a escolha do vestuário, mantém o silêncio ou o recato onde se adivinha o perigo duma curiosidade malsã. O pudor é discrição» (Catecismo da Igreja Católica n.º 2522).
6. Todas estas questões não serão reflexo da falta de educação e de vivência do correto sentido do pudor?
António Sílvio Couto
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