Nestas coisas da educação e da intervenção dos pais nesse processo vemos surgirem várias posições senão mesmo opiniões e correntes. Num tempo ainda em que se torna complicado conciliar a participação dos pais na educação dos filhos e/ou a delegação da mesma educação nas escolas, vemos que aparecem propostas que têm tanto de interessante quanto de desafiador. Desde logo o que é a parentalidade autoritária? Como funciona a parentalidade autoritativa? Como se entende ou como se diferencia ou se complementa a autoridade autoritativa com a parentalidade gentil?
1. Vejamos quais são os conceitos e como se podem implementar… ao menos teoricamente.
* A parentalidade autoritária é caracterizada por regras rígidas, exigências elevadas e pouco calor humano (porque “o mimo estraga”), tem sido objeto de estudo para compreender as situações do impacto no desenvolvimento infantil no sentido de autonomia e de independência da criança e das implicações duradouras na capacidade de uma criança afirmar a sua autonomia.
* O estilo parental autoritativo dá-se quando os pais são calorosos e sensíveis com seus filhos, mas, ao mesmo tempo, estabelecem limites usando reforços positivos e conversando com eles para evitar punições. A parentalidade autoritativa procura encontrar um equilíbrio entre estrutura e carinho.
* A parentalidade gentil, tal como a parentalidade 'autoritativa', realça a importância dos limites, mantendo o afeto e a empatia. No entanto, este conceito é aplicado de forma diversa em diferentes famílias.
2. Por diversas vezes se tem considerado a atual geração – ao nível geral e especificamente em Portugal – como a mais qualificada, isto é, a melhor preparada nas condições de instrução, no trato com as (novas, só para os mais velhos) tecnologias e mesmo no desenvolvimento de sensibilidades a temas relacionados com a ecologia, novos empregos baseados na linguagem da internet… e concomitantemente é a geração que adia os compromissos de vida, saindo da casa dos progenitores cada vez mais tarde, quase excluindo o compromisso de casamento ou de outra forma de vocação estável. Nem sempre os empregos correspondem às qualificações, a remuneração do trabalho fica aquém do esperado e da preparação profissional, muitas vezes têm de se sujeitar a uma de duas soluções: baixos salários ou emigrar para manter as expetativas de melhores e esperadas condições de vida…agora e no futuro.
3. Comparativamente com a geração anterior, ter uma profissão era uma garantia de estabilidade. Durante o ciclo de vida laboral com dificuldade se mudava de profissão. Quase havia a certeza de que se podia prever comedidamente o futuro e isso permitia constituir família. Agora vemos que a incerteza é a previsão mais do que normal. Urge, por isso, que não nos fiquemos em arquétipos ou imitações de outros, que nem sempre dão ao mesmo resultado em todos os casos. Como podem crescer na responsabilidade – sinal de maturidade humana e psicológica – os filhos que se acomodam – chamam-lhes ‘geração canguru’ – a ficarem na casa dos pais, mesmo que tendo emprego e vivam com os seus proventos pessoais? Será que participam nas despesas da casa e aprendem a gerirem as suas economias?
4. Os pais de hoje, por seu turno, nalguns casos, não querem dar aos filhos a educação rígida – dentro do quadro da parentalidade autoritária, que receberam – e ainda não descobriram como podem e devem ser, hoje, pais, sem deixarem de ser meros comparsas dos filhos e das filhas. Não deixa de ser algo quase anedótico que algumas mães fiquem elogiadas, quando lhes dizem que parecem irmãs das filhas! Não terá falhado nada na educação e na maturidade de todas?
5. Nalgumas situações cultiva-se a aparência exterior, tentando iludir a passagem dos anos, mas com facilidade se descobre que a mentalidade não se disfarça com retoques de gabinete de estética e, pretensa, beleza. Ser gentil com os filhos implica não esquecer, por parte dos pais, o tempo em que foram filhos, para que agora possam ser promotores da responsabilidade naqueles que lhes foram concedidos como filhos/as.
António Sílvio Couto