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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Cada português desperdiça 180 kgs de comida por ano



Cada português gasta, por ano, 350 euros em alimentos que não come, desperdiçando 184 quilos de comida anualmente. Esta é a conclusão de uma empresa que combate o desperdício alimentar – ‘Too good to go’ – a propósito do ‘dia internacional da consciencialização sobre a perda e o desperdício alimentar’, que ocorre, no próximo dia 29 deste mês.

1. Acreditando nos dados veiculados pela empresa aqui referida poderemos considerar que cada português desperdiça, em média semanalmente, cerca de dois quilos e meio de comida, contabilizando ao final do mês cerca de dez quilos de comida, e fazendo com que o nosso país se situe na quarta posição na União Europeia nesta matéria de desperdício alimentar. Outros dados a ter em conta – segundo a mesma fonte – cada português desperdiça em casa 336 euros em comida por ano, e se cada um gasta em média, em alimentação e bebidas, cerca de três mil euros por ano, então 3,4% deste orçamento “é gasto em alimentos que estão a ser desperdiçados” todos os anos.

2. Sintomaticamente estamos situados no hemisfério rico do Planeta (norte), explorando quantas vezes o hemisfério sul mais empobrecido do que só pobre. Embora possa haver a possibilidade de erradicar a pobreza e a fome, continuamos a gerir um sistema que reproduz cada mais pobres, senão económicos ao menos psicológicos e emocionais. O ‘dia internacional da consciencialização sobre a perda e o desperdício alimentar’ foi proclamado pela resolução 74/2019 da Assembleia Geral da ONU em 19 de dezembro de 2019, fazendo-se eco de uma sensibilização gerada, em 2016, na Dinamarca, quando um grupo de amigos viu ser deitada fora comida que não tinha sido consumida num restaurante, provocando uma aplicação e ligação entre consumidores e restaurantes, supermercados, mercearias e hotéis, permitindo aos utilizadores comprar a preços mais baixos produtos que não iam ser usados.

3. É neste contexto de globalização que podemos e devemos entender estas denúncias e avisos, tanto ao nível geral como em relação a cada um de nós. De facto, o nosso mundo ocidental foi-se deixando fascinar pelo consumismo, provocando necessidades escusadas e alimentando habituações desnecessárias: muito para além da oniomania (vício de comprar compulsivamente) temos de saber identificar e de criteriosamente gerir as subtilezas de um consumismo facilmente justificado, se não nos inquietarmos pelos valores e critérios cristão mais simples e exigentes.

4. Quem não se incomoda em ver crianças a brincarem com o pão, como se fosse uma bola de jogo? Quem não se interroga sobre pratos quase intocados de comidas nas mesas de certos restaurantes e espaços de fast-food’? Quem pode ficar indiferente aos amuos, birras e gritarias de crianças, em público, quando são ‘obrigados’ a comerem o que pediram de forma sôfrega e desmedida? Que dizer às cedências de pais e avós para com os petizes que exigem e depois abandonam certas guloseimas incontidas? Como não sentir repulsa para com certas festas e festanças onde se gastam pequenas fortunas para fazerem notar aos vizinhos – seguidores ou não nas redes sociais – que têm estatuto de pseudo-ricos, embora com bolsa de pobre na hora das contas?

5. Há tanta coisa que precisa de ser tocada com o máximo de frontalidade para que não se continue a viver nesta sociedade de fachada, onde se quer parecer sem ser e onde se deseja mais querer dar boa impressão – mesmo que falsa – do que em se viver na verdade, sem rede nem peias de nada nem quanto a ninguém. Cada vez mais se percebe facilmente se a cara corresponde com o verso, não meramente da moeda mas na vida sincera e leal… do nosso dia-a-dia!

Fui aprendendo, pelos diversos lugares onde tenho vivido, que muitos/as do que se insinuam e ganham ascendente por algum tempo, com facilidade são desmascarados sem tal se terem apercebido.



António Sílvio Couto

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