Por estes dias e perante as notícias que são dadas sobre os padres, vemos que estes devem ser uma ‘raça’ (quase a resvalar para o desumano) de má índole, pois o que deles se refere é pouco menos do que muito mau, tais as malfeitorias que praticam ou mesmo as tropelias em que se envolvem.
Dá a impressão que regredimos ao tempo da ‘primeira república’ - há um século
atrás - quando a mesma ‘classe’ era classificada de ‘corja’ e como que
promotores da ignorância, assinalados como inimigos de quem os perseguia...
1. Enquanto padre, quase há quatro décadas, nunca pensei ter a sensação de
desprezo, de ser olhado de soslaio, de constituir um perigo para a sociedade...
como agora nos fazem crer que somos ou que nos devemos considerar enquanto tal.
Alguns dos factos trazidos à luz do dia - depois de tempos tenebrosos e
esconsos - sobre ações cometidas por parte de certos padres fazem com que o mal
de uns se propague, difunda e infete todos os outros. De uma forma orquestrada
vemos serem desfiados erros, pecados e crimes de uns que cobrem todos os
demais. De um modo quase torpe se faz crer que, quem ainda não foi denunciado,
tem de se colocar de prevenção, pois mais cedo do que tarde entrará no role dos
proscritos...
2. É uma perceção infetocontagiosa essa de ver que, alguns daqueles que caíram
nas teias de todo este processo, estão a ser colocados no patibulo de uma nova
inquisição. Surgem denunciantes (anónimos, encobertos ou com cobertura), são
incentivados os delatores - veja-se a promoção de certas campanhas e de argumentos
de determinados setores - pois, dá a impressão de que não seremos ‘civilizados’
se não atingirmos a cifra de outros países... nesta matéria. Daqueles que
conhecemos e que foram lançados na fogueira inquisitorial percebe-se que estão
votados ao desprezo, sendo trucidados sem dó nem piedade. Mesmo que tenham
cometidos ‘crimes’ - estes só serão assim considerados quando transitarem em
julgado - estas pessoas não merecem respeito e não têm dignidade? Os seus erros
fizeram deles cidadãos de classe inferior? Não haverá um plano para primeiro
(social, cívica e culturalmente) condenar e só posteriormente aceitar a
pronúncia?
3. A habilidade com que está a ser montado todo este processo reveste condições
de perseguição à Igreja católica e pretende criar condições para que as
‘jornadas mundiais da juventude’ do próximo ano, em Lisboa (JMJ 2023), sejam um
fiasco, pois quem acreditaria numa ‘agremiação’ onde os seus colaboradores
principais, que são os padres, estão sob suspeita social e moral? Quem deixaria
aproximar-se de um potencial mau elemento social e (quase) profissional? Quem
daria crédito a quem foi desacreditado eticamente?
Nota-se que as garras infetadas de má-fé estão untadas de preconceito
ideológico. Nota-se que forças mais ou menos habituais noutros processos se
perfilam para colherem os frutos desta campanha de intoxicação noticiosa.
Nota-se que os (ditos) católicos acreditam mais nas notícias das redes sociais
do que nas ações silenciosas de tantos dos membros da Igreja - onde o clero se
inclui - ao longo dos séculos.
4. A título de exemplo deixo dois momentos da ordenação dos diáconos e dos
padres, numa tentativa de alicerçar as razões de ser e não tanto o
entretenimento do mero fazer.
Por ocasião da ordenação do diácono diz o bispo ao ordenado: «toma o Evangelho
de Deus, que tens a missão de proclamar: crês o que lês; ensina o que crês;
vive o que ensinas».
Num momento da ordenação do padre, o bispo afirma, depois de ter perguntado:
«prometes a mim e aos meus sucessores reverência e obediência» ... ao que o
ordenado responde: «prometo»... dizendo o bispo: «queira Deus consumar o bem
que em ti começou».
Duas atitudes se destacam nestes momentos trazidos à colação: a importância e o
serviço à Palavra de Deus, por parte do ordenado e a qualidade de compromisso
deste em comunhão com os responsáveis da Igreja e todo o presbitério.
Num tempo ávido de protagonismo pessoal, o que vemos na essência do ser diácono
e posteriormente como padre é saber que a Palavra de Deus é o grande guia da
sua conduta e do seu viver, bem como desse estar em comunhão de obediência
responsável com o seu bispo, inserido num presbitério (comunhão de padres) de
servos e não de senhores, de irmãos e não de lacaios, de pessoas que não
procuram os seus interesses, mas a glória de Deus pelo serviço aos
irmãos...
António Sílvio Couto
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