Por
ocasião dos problemas de ‘abusos sexuais’ – para já – na Igreja católica temos
visto despontar uma linha justicialista, que, pretensamente, defendendo as
vítimas, essencialmente, reclama o castigo dos prevaricadores. Estes como que
são tornados ‘objeto’ de condenação e quase nunca se tenta olhar para eles como
pessoas – doentes, descompensadas emocional ou afetivamente, embora se
transgressores devam ser julgados e condenados...no devido tempo e não – como
parece – ainda na fase da acusação...quando a há.
1. Estamos
num tempo algo conturbado, onde, com facilidade, emergem fantasmas, surgem
mitos e pululam oportunistas. Com efeito, a propósito das prevaricações de
alguns padres como que se faz uma generalização e passam a ser todos suspeitos
de serem abusadores de crianças ou mesmo cultivadores de uma moral pouco
apropriada às regras que propõem. Com que destreza se extrapolam episódios e se
fazem conjeturas sobre tudo e para com todos. Com que ligeireza se aceitam
denúncias, sem questionar as razões – ou serão ressabiamentos? – dos que tal
dizem. Com que leviandade se envolvem na discussão quantos/as, que tentam
disfarçar as mazelas que povoam os seus antros de frequência ou mesmo de
referância...social, económica ou ideológicamente.
2. Não
devemos dar aos outros, por caridade, aquilo que lhes devemos, por justiça.
Este aforisma é tanto mais verdade quando pode estar em causa a honorabilidade
de alguém ou até a sua vulnerabilidade. A justiça deve ser rápida para que não
se torne foco de injustiça, isto é, de acusar sem provar ou de deixar a moer
aquilo que pode ser removido, mesmo que dóia.
3. Pelo que
temos conhecimento há pessoas acusadas, em suspeita, há meses, que ainda não
foram ouvidas sobre nada daquilo que foi publicitado...como escandalosamente. Costuma
dizer-se – e com razão – todos são inocentes até prova em cntrário, isto é, até
transitar em julgado. Ora, nestes casos em divulgação publicados como ‘abusos’,
seja quem for o acusado, é culpado mesmo que possa nunca ser julgado e,
enquanto presumível, terá de o aceitar silenciosamente sejam quais forem as
acusações...mesmo que inventadas, tecidas e urdidas por quem lhe (possa) desejar
mal...passados anos ou décadas, isto é, tirando do contexto dos acontecimentos
factos, situações, pessoas e intenções!
4. À justiça
aquilo que é da justiça. Sempre. Mas será que a justiça – sobretudo esta de
caraterísticas populistas e arrastada – tem funcionado como entidade defensora
da verdade ou de quem quer fazer dela uma espécie de ariete contra ‘inimigos’
escondidos, presumidos ou indesejados? Não será que uma boa dose de justiça
está eivada de peconceitos contra membros do clero e das instituições da Igreja
católica? Por que se abespinham tanto certas forças contra sinais religiosos,
quase sempre sob suspeita e em menos boa discrição? Não andará por aí, de forma
difusa, uma tendência em fazer das coisas espirituais, causas perdidas para os
valores do consumismo, do hedonismo e de quanto possa cheirar a Deus?
5. Fixemos a
atenção naqueles que são (ou foram) considerados culpados dos abusos – por
vezes apelidados de abusadores e noutras situações apresentados como causadores
de malfeitorias para com crianças e não só – e que nos surgem, desde logo, como
pessoas de má-índole, senão criminosos pelo menos ‘dignos’ de serem apedrejados
sem dó-nem-piedade, já...
Não
está em causa defender acriticamente quem que seja, mas antes perceber quem são
essas pessoas, em tantos casos, já eles/elas vítimas de atrocidades idênticas
ou até de menos boa formação moral, apesar de a terem estudado e de terem sido
examinados sobre a matéria. Que querem fazer com essas pessoas – recuperá-las
ou trucidá-las social e religiosamente? Saberemos distinguir entre o pecado e o
pecador? Quem nos faz combater – o mal feito ou os malfeitores?
Precisamos
de mais compaixão, sabendo distinguir os parâmetros de avaliação. As pessoas,
sempre!
António Silvio Couto
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