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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Perfumes…em tempo de Natal


Parece uma praga: em cada bloco publicitário televisivo tentam impingir-nos quatro ou cinco marcas de perfume… usando cada spot a maior sedução, insinuação ou até aberração para nos atrair.

Por que será que, nesta época do Natal, se faz mais publicidade aos perfumes? Que contêm os perfumes que podem revelar algo da pessoa que os usa? Sendo como que uma subtileza da condição humana, quem mais utiliza perfumes, os homens ou as mulheres? Haverá algo de mais ‘escondido’ do que aquilo que se sente, na sedução do perfume? Qual a origem mais remota em referência aos perfumes?

Estas perguntas foram colocadas um tanto a esmo, pela simples razão de que esta questão dos perfumes é um tanto complexa e algo mais profunda do que à primeira vista possa parecer. Por essa razão tentaremos incluir ainda nesta reflexão algum aspeto em que se possa considerar se haverá algo de ‘pecado’ nas fragâncias, seus custos e utilizações…

Desde já uma informação que encontrei ao pesquisar sobre o assunto: o mercado de fragâncias (perfumes, desodorizantes e outros) movimenta, anualmente, em todo o mundo, sessenta biliões de euros. A título de exemplo na lista dos dez mais vendidos perfumes encontramos o mais barato, a 378 euros por vinte gramas e o perfume mais caro, a 857 mil euros, mas nos lugares intermédios temos preços como 10.910 euros, 5.831 euros e 3.601 euros…sempre peça quantidade de vinte gramas por recipiente/embalagem.  

= Etimologicamente ‘perfume’ vem do latim ‘per fumus’, ‘através do fumo’, isto é, de algo que se desloca e que se evapora, que passa e se sente. Perante esta breve constatação podemos ver que o sentido do olfato é o mais é atingido pelo perfume, sendo estimuladas as áreas do cérebro que controlam as emoções e as memórias olfativas. Ora, como todos temos boas, menos boas e talvez más memórias, o perfume como que desencadeia uma série de reações…mesmo no nosso subconsciente e mesmo inconsciente.

As primeiras referências ao perfume remontam às civilizações do próximo Oriente, particularmente no Egito. Nesta cultura o perfume teve incidência religiosa, sendo usado em momentos extrarreligiosos e até com o significado de escalonamento social… Poderemos considerar que houve três etapas da ‘história’ do perfume: depois das civilizações orientais, o perfume desenvolveu-se, na produção e no uso, na Grécia clássica, estendendo a sua manifestação a Roma, através de multiusos e como expressão de luxo… As invasões dos bárbaros e a difusão da mensagem cristã, com os ideais de simplicidade e de não-adesão ao luxo, deu-se um certo desuso do perfume. A segunda etapa do perfume foi protagonizada pelos árabes, em matéria de produção e de difusão, pois com a chegada dos árabes à Península Ibérica, a perfumaria expande-se ao resto da Europa. Nos séculos XVI e XVII, os perfumes fortes substituíram a higiene pessoal. A França foi-se afirmando como o país dos perfumes, sendo criadas perfumarias. Na viragem do século XIX verificou-se a terceira etapa da ‘história’ do perfume, associando a arte olfativa com a componente visual, pois os frascos com perfumes foram-se especializando e industrializando. Hoje a indústria das fragâncias apresenta mais de trinta mil diversidades, muitas delas associando-se a algum estilista, ator ou estrela rock… numa tendência crescente de conciliação entre a moda, a higiene e bem-estar pessoal e ambiental… 

= Uma das etapas de evolução humana mais recente é a do tratado da pessoa consigo mesma, mesmo naquilo que tem a ver com a higiene pessoal. Com efeito, temos feito, nalguns casos, uma assinalável vivência até de respeito pelos outros, pois contactar com alguém que cheire mal, para além de desagradável pode manifestar descuido pela presença de Deus em si mesmo. Nesta linha usar perfume ou não, pode envolver alguma faceta de higiene pessoal. Quando, porém, o perfume é utilizado com malícia – a consciência de cada um o saberá identificar! – isso poderá tornar-nos tentação uns para os outros, podendo levar-nos ao pecado, direta ou indiretamente…remexendo memórias, situações e emoções. Em que instância se situará, então, a publicidade aos perfumes, neste Natal: na higiene ou na provocação?

Mas será destes perfumes que respiramos no ambiente de Natal. Não será antes o do presépio – curral – onde se aspiram os sentimentos de pobreza, de humildade e de despojamento? Mas será que o nosso Natal cristão se queda só pela exibição dos perfumes? Não haverá nada a corrigir à luz da simplicidade do presépio?

 

António Sílvio Couto

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