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sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Greta: símbolo de quê ou de quem?


Greta Thunberg é uma cidadã sueca de dezasseis anos que anda nas bocas do mundo: levantou a voz para denunciar o caminho – em seu entendimento – para onde vai o curso do Planeta Terra, tentando corrigir os atalhos por onde vão as alterações climáticas.
Tal como noutras situações assim neste caso se têm gerado vozes de aplauso – nalgumas circunstâncias num teor quase fundamentalista – e outras de menos bom apreço pela ousadia em curso.
A sua mais recente intervenção pública – nas Nações Unidas, em Nova Iorque, no dia 23 deste mês – trouxe à liça várias questões, alçou certos problemas e criou algumas preocupações/suspeitas.
Uma das primeiras reações foi deixada pelo controverso presidente norte-americano. Donald Trump questionou se aquela oradora manifestava um ar de pessoa (adolescente) feliz e equilibrada. Outros deixaram suspeitas sobre o ar crispado e duro do rosto da interveniente. Outros ainda não se contiveram sobre as motivações mais profundas desta ‘bandeira’ anti tanta coisa em que se foi tornando Greta.
O seu percurso ecologista – se assim se pode designar o âmbito da sua intervenção – é, no entanto, breve. Começou com uma composição sobre o ambiente, publicada no seu país natal. Logo mentores da luta contra a crise climática a contataram e fizeram dela uma bandeira, onde se podem contar a primeira greve escolar pelo clima, tomadas de posição à porta do parlamento sueco, no congresso dos EUA, intervenções em diversas cimeiras, entre as quais a recente do clima.
Uma das frases mais citadas da sua comunicação na ONU foi: ‘roubaram os meus sonhos e a minha infância com as vossas palavras vazias’ – disse ela, dirigindo aos responsáveis mundiais presentes na sala ou aos dispersos pelo mundo inteiro.
A maior parte dos comentários ao que Greta disse não está no conteúdo, mas na forma agressiva, tensa e ríspida como proferiu as denúncias. Como pode uma adolescente andar de terra-em-terra, quando devia estar na escola? A quem aproveita tal protagonismo? Os pais – ele ator e ela cantora de ópera – serão cúmplices ou beneficiários desta exposição da filha? As exigências que faz de não se deslocar de avião a quem servem de propaganda? A mobilização geral para protestos pela salvaguardar do Planeta será, assim, tão natural como dizem ou será manipulada por forças (ditas) ecologistas, eivadas de complexos de esquerda radical? 
= Há, de facto, mudanças muito rápidas na configuração do nosso Planeta: eventos climatéricos extremos, ciclones, cheias, secas, desertificação, migrações, fomes, conflitos e guerras…são hoje consequências das alterações climáticas. Diante dos fenómenos já verificados, começam a ouvir-se vozes de muito mau agoiro: até 2050 estima-se que cerca de duzentos milhões de pessoas sejam migrantes ou deslocados devido às razões climáticas.
Não adianta muito continuarmos a resmungar contra a mudança do tempo, pois muitos são efeitos da pretensa qualidade de vida, dos melhores salários, dos ganhos no poder de compra e até mesmo nos confortos adquiridos sem olhar a meios. Será que estaríamos disponíveis para prescindir de alguns desses benefícios, só pela bondade para com a natureza? Não andaremos a contestar aquilo que levou tanto tempo a conquistar, sabe lá a que preço e com que meios?
As bizarrias – ou assim soaram nas notícias – de certos académicos fazem rir, mas mudam alguma coisa de substancial? Querem trocar a carne de vaca por pílulas de B12? Que há de sério em tais propostas, quando estas são discutidas sob o efeito do ar condicionado? Não será este mais maléfico do que as ousadias ‘ecologistas’ atiradas para o público sem enquadramento nem correta explicação?
Tudo se tornaria mais claro se a Greta for atribuído o ‘prémio nobel da paz’. Este quase sempre perpassa pelas franjas esquerdistas de algumas tendências internacionais. Isso permitiria retirar a máscara com que esta militante pro-ecológica, tão bem aproveitada por certos populismos canhotos, que usam e abusam das matérias fraturantes para se dizerem progressistas e lutadores.
Mal irá a dança se continuarmos a ser intoxicados por forças que se dizem democratas, mas que não respeitam quem pensa, atua e vive de forma diferente da deles/as…

António Sílvio Couto

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