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sexta-feira, 6 de setembro de 2019

‘Geração Z’ dos sozinhos


Apareceu na comunicação social com algum destaque e forte promoção: vendem-se abraços, alugam-se companheiros de passeio, amigos e até mães.

Esta tendência – explorada particularmente à americana – trouxe mais à luz do dia o tema da solidão, considerada já uma pandemia em certos lugares… com a inclusão de jovens entre os dezoito e os vinte e dois anos, considerados a tal ‘geração z’ dos nativos digitais.

Ora, para atenuar os efeitos da solidão vão surgindo serviços de companhia com preços e com sugestões variáveis ao gosto do freguês, segundo as capacidades dos trabalhos prestados e os montantes cobrados. 

= Ensaiemos uma espécie de definição de termos, delimitando ainda o preçário mais ou menos conhecido pela execução dos préstimos usados.

‘Geração Z’ – os ditos nativos digitais, nascidos entre 1990 e 2010, muito familiarizados com a internet, com os telemóveis, vivendo no ‘sempre conectado’, têm uma forte compreensão da tecnologia e da abertura social às tecnologias; vivem um sentimento de insatisfação e de insegurança quanto à realidade e ao futuro da economia e da política; o seu habitat é o do desemprego e da precariedade; mais do que as gerações anteriores (*) esta geração é tida como mais tolerante e aberta, em questões de índole moral, quanto à legalização de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo, que é considerado mais na vertente da igualdade de género…

– Perante essa tal pandemia da solidão quais são os serviços apresentados para a combater e quais os custos? Usamos os nomes traduzidos – ‘passeador de pessoas’ de seis a dezanove euros, fazem companhia de forma segura e confiável; ‘alugar um amigo’ para um evento social, um casamento ou uma festa, ir ao cinema ou jantar fora – variando de cidade pode atingir até 120 euros por um dia; ‘preciso de uma mãe’ pode atingir trinta e seis a quarenta euros à hora, permitindo a quem possa estar mais carente ter acesso a uma espécie de mãe temporária, que tanto pode cozinhar como ajudar a arrumar a casa, a dar bons conselhos ou a conversar; ‘abraça-te a mim’ – um site onde são disponibilizados ‘abraçadores certificados’, com sessões com cerca de setenta euros à hora… 

= Esta lista de ‘serviços’ poderá parecer uma questão de exploração de sentimentos a quem se possa encontrar em maré de debilidade mais ou menos permanente. Mas, numa sociedade cada vez mais anónima, estas propostas como que denunciam que não basta alguma comodidade para ter a pretensa qualidade de vida e nem sequer a (dita) boa onda económico-financeira consegue disfarçar quanto daquilo que mais profundamente não é preenchido com coisas materiais, por mais positivas que possam parecer.

Perante estas condições e caraterísticas temos de encontrar não só explicação para esta fase de quase exploração da solidão, mas temos de estar atentos às causas e não só cuidar das consequências. De facto, as pessoas refugiam-se nas conexões à distância e esquecem-se daqueles que lhe são próximos. Cada vez com mais facilidade sabemos o que acontece a quilómetros porque estamos conectados com a internet e ignoramos o que está a acontecer na mesma rua senão no mesmo prédio.

Como é sabido e reconhecido este fenómeno não atinge só os mais velhos, mas cada vez mais os de tenra idade, que podem habituar-se a viverem no seu casulo dourado, sem repararem que ao seu lado há pessoas que esperam algum sinal de aproximação. Urge, por isso, reeducar-nos para os valores da proximidade, da vizinhança, da convivialidade, do diálogo… e de tudo quanto nos faça sair de mesmos para atendermos aos outros. Que a tecnologia – tão benéfica e salutar – não nos escravize como aconteceu com outros fatores de desenvolvimento… As pessoas valem mais do que tudo o resto! 

(*) Nota – tem havido outras designações para nascidos em épocas mais recentes: ‘geração y’ ou também chamada ‘geração do milénio’ são os que nasceram entre 1980 e 1990; ‘geração x’ envolve os que nasceram após o rescaldo da segunda guerra mundial, isto é, os que nasceram entre 1960 e 1970; os ‘baby boomers’  são os que nasceram imediatamente a seguir ao conflito bélico, entre 1946 e 1964…  

    

António Sílvio Couto

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