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domingo, 7 de outubro de 2018

Exploração (preferencial) dos escândalos…sexuais


Já vai nalgumas horas o tempo dedicado pela comunicação social ao ‘caso’ que envolve o futebolista Cristiano Ronaldo num tal episódio há quase dez anos nos EUA.

Ainda não se sabe da veracidade do ‘caso’ e já foram gastos inúmeros recursos – certamente para ganhos de audiências – humanos e materiais, tentando desvendar o que há de certo ou de errado na situação.

Dá a impressão que caiu um mito e agora não há como saciar-se deglutindo os despojos de tal fenómeno.

Parece que aquilo que está em causa é o custo – moral, de imagem, de marca, de personalidade, etc. – sobre quem, tendo subido tão alto parece cair com grande estrondo e esfacelar-se na poeira da fama que já foi…

Dá a impressão que este é mais um ‘caso’ à americana: tudo quanto possa envolver escândalo de âmbito sexual é bem espremido para que dê bom dinheiro, tanto a advogados como às (pretensas) vítimas.

Outras situações têm tido idêntico desenvolvimento, havendo como que um guião subtil para tratar tais ‘casos’, que envolvam assuntos atinentes à sexualidade: casos de pedofilia com membros do clero católico, combates a pretendentes a lugares políticos, abusos no mundo do espetáculo… tenham o tempo que tiverem há que desenterrar os fantasmas pessoais e coletivos para apregoar uma certa moralidade, que soa a oco e onde os que ganham são os mais palradores e os que se mostrem mais ofendidos e molestados…mesmo que para a cena. 

= Que sociedade é aquela que tolera as armas, mas combate os mais pequenos deslizes (ditos) morais, sempre para o lado do sexo? Que paranoia coletiva leva a que se faça tão grande cruzada e se veja a amoralidade em cada canto ou viela? Este puritanismo à americana não trará escondido algo mais do que uma vigilância sórdida e inconsequente? Se não houvesse tanto dinheiro envolvido nestes casos, assistiríamos a isto que cheira a doentio?

Na sociedade ocidental – onde os americanos estão quando lhes convém – caminhamos para uma moral sem religião, criando clichés de boa reputação ao nível público, mas tolerando aberrações na vertente privada. O velho adágio – ‘virtudes públicas e pecados privados’ – tem neste campo uma aplicação mais do que razoável. De facto, há muita boa gente que vai tentando enganar com a imagem que tenta fazer passar, querendo parecer gente boa, mas que, na dimensão mais pessoal talvez não se coadune com aquilo que mostra.

Há, no entanto, nesta moral sem religião, uma espécie de ajuste de contas na linha da tão propagandeada ‘ética republicana’, onde cada um pretende ser senhor do seu destino, mas não se assume como falhando – às vezes poderá ser até de falhado – e propala esse refrão, tão comum quão ridículo, de ‘estar de consciência tranquila’. Não será que esta gente não se enxerga para ver o mal que fez/faz aos outros? Até onde poderá ir a incongruência entre o que se diz e aquilo que se faz?

A dimensão sexual da pessoa humana não é tudo nem é o todo da pessoa. Por isso, teremos de saber reeducar-nos na qualidade do nosso ser espiritual, que vive num corpo e que está sujeito às condicionantes do espaço e do tempo. Saber pedir perdão é muito mais do que ser absolvido num tribunal e submeter-se ao perdão divino e dos outros valerá muito mais do que milhões em indemnização…

Precisamos de tempo para deixar assentar a poeira e de sermos capazes de recuperar dos escândalos…mesmo do ex-melhor do mundo no campo do futebol! 

 

António Sílvio Couto

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