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terça-feira, 23 de outubro de 2018

Brincar aos casamentos, não!


Foi emitido, por estes dias, um programa televisivo em canal aberto, que tem tanto de patético, quanto de risível: numa espécie de faz-de-conta uns pretensos ‘noivos’ são levados a casar sem se conhecerem…antes tendo o primeiro contato na hora do (hipotético) enlace.

Desde logo vale a pena situar-se nos aparentes factos: nenhum processo, mesmo civil, é feito sem o conhecimento dos intervenientes, pela simples razão de ser preciso averiguar se os tais ‘nubentes’ estão ou não casados…ou o dito ‘casamento’ é nulo. Outro aspeto não menos significativo: é preciso que os dados fornecidos e recolhidos sejam verificados por documentos autênticos e apresentados…logo a surpresa é de manifesto faz-de-conta.  

Como seria, então, possível submeter os ‘réus’ àquela fantochada sem o seu consentimento, mesmo pela preparação da documentação prevista? Como poderiam aparecer aquelas múmias – nada há contra as autênticas – um diante do outro sem se conhecerem…numa conquista de casamento à primeira vista?

Acima de tudo será de questionar a seleção dos candidatos, pois a festa decorre como se fosse duma coisa séria se tratasse, mas que não passa duma reles representação de ‘classe c’. As declarações dos figurantes – por vezes assumindo o papel de convidados – deixam um tanto a desejar, não só pela medíocre arte representativa como ainda pelas roupagens usadas… patrocinadas, ao que se pode depreender, por marcas de roupa, que dão a entender que ou estão em crise de vendas ou a precisar de publicidade com desconto…

Valerá a pena ainda questionar quem era a tal ‘figura’ que, pretensamente, aceitou a expressão de consentimento dos (pretensos) noivos. Se era alguém ligada à estrutura do registo civil, talvez tenha exorbitado o espaço e as funções…não vimos a ser assinada a ata do episódio. Se era um elemento da produção do programa, então, a farsa reveste a configuração de logro, de diversão e de mentira, tanto diante dos ‘réus’ como dos assistentes ao caso. A brincar deste modo não somos nem honestos e muito menos credíveis… Ainda se queixam de tantas outras situações de mentira!  

= Com o devido respeito, já sabíamos – por experiência de vários anos e em diversas situações – que há um leque de pessoas que não leva minimamente a sério esta questão do casamento e tão pouco do matrimónio, mas ter a ousada de ridicularizar esta instituição básica da sociedade humana, é, sobremaneira, uma ofensa e um ultraje a quem celebrou com respeito o casamento e, especialmente, o matrimónio. Como não acredito que possa haver coisas inocentes nesta ocupação dos espaços de comunicação social, parece-me que programas como este e o leque do ramalhete que comporá a proposta nesta linha, poderá desejar antes de tudo ridicularizar o que se refere à componente familiar, criando, desse logo, descrédito e menosprezo, para que viva neste ‘casa-e-descasa’ com que nos temos vindo a confrontar cada vez mais…normalmente!

Até agora, a partir do programa emitido, há duas notas a referir: as experiências falhadas em circunstâncias anteriores dos pretensos ‘nubentes’ e uma certa idade dos candidatos…onde o desejo de casar se foi diluindo… embora necessitando.   

Porque considero que o ato de casamento é algo muito sério e envolvente de toda a vida, acho que programas – de ilusão, de entretenimento ou de confusão – não fazem qualquer serviço de utilidade pública e muito menos de dignificação dos participantes. Por isso, será de atender à sua não-difusão para que não se faça de algo comprometedor da vida das pessoas, uma espécie de farsa com maior ou menor qualidade…ou audiência.

Não brinquemos aos casamentos nem façamos do casamento um mero ato de brincadeira aceite, tolerada ou provocada… Estão vidas e sentimentos de pessoas em jogo, respeitem-nas!

 

António Sílvio Couto  

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