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segunda-feira, 9 de julho de 2018

Da longevidade à natalidade…como discernir?


Dá a impressão que estes fatores se tornaram arbitrários e vieram confundir-se mutuamente. Assim a longevidade atirou a causa da natalidade para um campo de ‘inverno demográfico’, pois viver mais tempo não tem vindo a significar maior opção pela vida, antes pelo contrário, parece que o prolongamento dos anos de vida tornaram as pessoas mais egoístas e centradas em si mesmas…

Diante desta espécie de paradoxo dos nossos dias será preciso cuidar dum discernimento onde sejamos capazes de saber entender as causas desta quase-conflitualidade de interesses e, por conseguinte, andando em busca das consequências agora e no futuro próximo.

= O que é o discernimento?

Diz o Papa Francisco na sua mais recente exortação apostólica – ‘Alegria e exultai’ – (n.º 166): «Como é possível saber se algo vem do Espírito Santo ou se deriva do espírito do mundo e do espírito maligno? A única forma é o discernimento. Este não requer apenas uma boa capacidade de raciocinar e sentido comum, é também um dom que é preciso pedir. Se o pedirmos com confiança ao Espírito Santo e, ao mesmo tempo, nos esforçarmos por cultivá-lo com a oração, a reflexão, a leitura e o bom conselho, poderemos certamente crescer nesta capacidade espiritual».

- Que lições podemos e devemos colher desta quase-definição de discernimento?

- Como seremos capazes de inserir, na nossa vida cristã (teórica ou na práxis), eixos de reflexão sobre longevidade e natalidade?

- Será que os cristãos/católicos destoam, positivamente, da normalidade da população pelo entendimento e vivência que têm da longevidade e da natalidade?

- Não andaremos a fazer zapping sobre vários assuntos, sem nos determos na solução dos problemas de forma mais correta e adequada?

- À boa maneira da mentalidade do nosso tempo não nos moveremos mais em campos virtuais do que em terrenos de compromisso e de solução das questões essenciais da vida?

- Não faremos do secundário (urgente) o essencial e deste o menos interessante? 

As pessoas passaram – quase sem nos darmos conta, cada um que o diga de si mesmo! – a viver mais tempo (anos, com relativa saúde, com condições de qualidade) e isso criou novas expetativas. À boa maneira duma frase dos salmos da Bíblia não morrer centenário tem vindo a ser normal. No mínimo não chegar à barreira dos oitenta anos parece uma exceção, coisa que há cinquenta anos era considerado o contrário. Fruto de muitas condicionantes, esta longevidade veio trazer outros problemas, desde o âmbito familiar até a dimensão do estado, sem esquecermos as implicações sociais, como as reformas, a assistência na saúde e tantas outras questões que ainda estão a ser enquadradas no comportamento geral.

Poder-se-á considerar que esta seleção dos mais capazes foi alicerçada numa longa e árdua colheita semeada no tempo da segunda guerra mundial e que talvez isso não signifique que os que daí nasceram possam dar os mesmos frutos. Gente provada na dificuldade sobreviveu à custa de muitos sacrifícios e provações. Ora, os nascidos da paz nestes setenta anos sem guerras na Europa poderão não ser da mesma jaez nem com resultados tão benéficos. Isso mesmo se pode, desde já detetar, nos filhos e netos desses ‘filhos da guerra’: a opção pela natalidade caiu abruptamente, logo a seleção não é feita pela qualidade de resistência, mas por acomodação à não-existência. Por seu turno, a difusão das vacinas, que fizeram com que muitos fossem furtados à morte precoce, agora fazem viver muitos dos contemporâneos numa quase-dependência da medicação, gerando assim frutos de laboratório e não pessoas crivadas – passadas pelo crivo – pelas dificuldades da vida, vencendo-as.

De algum modo longevidade e natalidade podiam e deviam ser dois polos do desenvolvimento do nosso tempo, no entanto, se não forem bem equilibrados poderão ser duas vertentes sociais, culturais e éticas que se podem anular, se não houver quem ajude a fazer a correta conjugação: não haverá longevidade se não acontecer natalidade. Esta será sempre o ponto de partida para aquela, tendo em conta os cuidados, as prevenções e mesmo as opções pela vida saudável, equilibrada e harmoniosa… seja qual for a etapa!     

 

António Sílvio Couto  


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